Um vídeo postado por uma cidadã de Bauru no ano passado chamou a atenção para a presença de banheiros com cabines individuais multigênero em uma loja do McDonald’s
No vídeo, a mulher reclama indignada e dizia que era coisa de
comunista. A loja foi, então, autuada pela prefeitura e teve que mudar as
cabines para exclusivamente feminino ou masculino. A partir desse evento, alguns
vereadores de Rio Preto elaboraram um projeto de lei para proibir a instalação
de banheiros e vestiários multigênero em estabelecimentos públicos e privados
da cidade e, assim, evitar situação semelhante à de Bauru. O projeto foi
aprovado quanto ao mérito e agora segue para análise do Prefeito. Se aprovado, impedirá
a instalação de banheiros multigênero em escolas, bares, shoppings, hotéis,
supermercados e em quase todos os tipos de ambientes públicos e privados do
município, com previsão de multas e suspensão temporária de funcionamento para
quem descumprir a determinação. De acordo com os jornais locais, o objetivo é
inibir as tentativas de implantação de ideologia de gênero nas escolas e atender
à maioria dos rio-pretenses que "são contra ideologia de gênero, linguagem
neutra e banheiros neutros.”
Mas, afinal qual é o problema com esse banheiro? Como o próprio
nome diz, esse é um sanitário que pode ser utilizado por qualquer sexo e gênero,
incluindo as pessoas trans. Nas redes sociais, algumas pessoas comentaram que
jamais entrarão em estabelecimentos com banheiros desse tipo. Então, essas
pessoas (incluindo a maioria dos vereadores) nunca viajaram nem irão viajar de
avião, onde os banheiros sempre foram multigênero. A mesma cabine é
compartilhada por homens, mulheres, crianças e todos os outros gêneros que
estiverem no local. É interessante notar que, em cada aeronave, há pelo menos
duas cabines nos espaços sanitários, o que permitiria banheiros exclusivamente
masculinos ou femininos. Porém, nunca soube de reclamações contra esses banheiros.
Provavelmente, o que ocorre no avião não é coisa de comunista, porque é coisa
de quem tem dinheiro. Minha gente. Quanta hipocrisia!
Enquanto isso, pessoas trans seguem sofrendo as consequências desse
preconceito explícito. Se uma mulher trans entrar em banheiro masculino terá
muita chance de apanhar. Um homem trans em banheiro masculino tem que urinar
como homem, ou tem muita chance de apanhar. Nesse impasse, fica difícil frequentar
bares, shoppings, supermercados etc. Há pessoas trans que passam todo o período
escolar sem ir ao banheiro, por medo ou constrangimento. Algumas acabam
abandonando os estudos, ou pior, tiram a própria vida. Não é o banheiro que
causa o suicídio, mas situações cotidianas de rejeição e desrespeito. E não
adianta ter banheiro específico para quem é trans, pois isso só reforça o
preconceito. Assim, a rejeição começa no banheiro e termina no caixão.
Mudanças nos modelos de banheiros convencionais podem ser
necessárias. Por exemplo, cabines que permitam privacidade (como as do
McDonald’s de Bauru), ao invés de ter portas "vazadas”, e extinção dos "coxinhos”
nos banheiros masculinos. Além disso, é preciso uma drástica mudança na postura
do uso comum. Se o banheiro é comum, deve estar limpo e organizado, assim como
os banheiros de nossas casas, pois conviver requer respeito ao próximo. Respeito
que esperamos, também, daqueles que deveriam representar todos os cidadãos,
inclusive as minorias.