Este mês de março marca os 60 anos do golpe militar. As mulheres sempre estiveram presentes nos movimentos de contestação e mobilizações ao longo da nossa história
No período da Ditadura não foi diferente. Elas resistiram e
se organizaram de muitas formas. Desafiando o papel feminino tradicional,
participaram do movimento estudantil e sociais, de partidos, sindicatos, que sempre representaram espaços privilegiados para a
formação de lideranças e arregimentação de quadros partidários. Ainda que sempre em menor número que os homens, as mulheres pegaram em armas, na tentativa de derrubar o regime militar. Foram duramente reprimidas e sofreram muitos preconceitos.
Foi neste triste cenário de repressão que surgiu, dentre tantas
mulheres valentes, um ícone na luta por liberdade e democracia, que tive a
honra de conhecer pessoalmente: Amelinha Teles. Amelinha é o apelido de Maria Amélia de Almeida Teles, que nasceu em Contagem-MG, em 1944.
Sua militância política começou em 1960, quando aderiu ao Partido
Comunista Brasileiro por influência de seu pai. Aos 27 anos, em 1972, foi presa
e levada à Operação Bandeirantes (OBan), onde foi submetida a sessões de
torturas que foram realizadas pelo próprio major Carlos Alberto Brilhante Ustra, então comandante do DOI-CODI de São Paulo. Seu marido César Augusto Teles e seu companheiro de militância Carlos Nicolau Danielli também foram levados ao órgão de repressão, sendo o último morto na sua presença. Seus filhos, Edson e Janaína, com 4 e 5 anos de idade, também foram sequestrados e levados à Oban, onde viram os pais serem torturados.
A partir do fim da ditadura, Amelinha tem tido atuação marcante na
defesa das brasileiras, reconhecendo-se feminista e participando de várias
mobilizações em defesa da mulhar. Um exemplo foi o Lobby do Batom em 87/88, que
culminou na inserção de um artigo na Constituição Brasileira que afirma que
homens e mulheres são iguais.
Também ficou conhecida por ter prestado depoimento à Comissão
Nacional da Verdade em 2013 denunciando as graves violações de direitos humanos
ocorridas entre 1946 e 1988, e, nesta linha, integra a Comissão de Familiares
de Mortos e Desaparecidos Políticos e é assessora da Comissão da Verdade do
Estado de São Paulo. É autora de inúmeros artigos e livros sobre o tema, além
de ser agraciada com várias premiações.
Certamente,
a atuação destas mulheres militantes, principalmente a de Amelinha Teles,
deixou marcas permanentes na história deste período. Talvez, marcas tão
profundas quanto as que elas trazem consigo, em seus corpos e mentes. Vestígios
de quem um dia sonhou e continua sonhando com uma sociedade diferente.
Vestígios de quem, como ela, continua ousando e lutando para concretizar este
sonho.
Um salve a Democracia e a liberdade!
Um salve a Amelinha Teles!
Sônia Paz
Assistente Social.
Pôs graduada em Gestão de Politicas Públicas
Ex presidenta do Conselho Municipal dos direitos da mulher.
Co fundadora do Coletivo feminista " Lugar de Mulher onde ela
quiser”
Participante do Coletivo feminista: "Elas por elas” e da Frente
feminista de SJ Rio Preto.