Nossas mães são as primeiras mulheres que nos inspiram pois sem elas, literalmente, não estaríamos aqui. Elas nos levaram por nove meses, muitas puderam nos amamentar e as que não puderam, cuidaram de nossa alimentação inicial. De maneiras diversas, cuidaram de nós com todo amor e carinho possíveis. ..
As mães ou as pessoas que cuidam de nós nas primeiras fases de
nossas vidas são muito importantes para todo nosso desenvolvimento.
Eu sou Denise Maria, filha de Aparecida Ferreira, hoje com 83 anos,
uma professora aposentada que lutou muito para se formar. Maria Pereira, minha
avó, uma senhora lavadeira, analfabeta que nunca desistiu de lutar pelo estudo
e formação da sua filha, muitas vezes renunciou a seus sonhos pessoais para
realizar o sonho da filha, ou melhor, transformou os sonhos da filha nos seus
sonhos próprios. Minha mãe estudou em um colégio interno, sofrendo muito
preconceito por ser negra e filha da lavadeira.
Isso, entretanto, não fez com que Aparecida desistisse do seu
sonho de ser professora, pois a mulher que hoje me inspira, teve também suas
mulheres fontes de inspiração, no seu caso, uma de suas professoras. Minha mãe
considerava linda a profissão de educar e com muito sacrifício – como tudo que
se refere às famílias negras e pobres - fez o magistério, a faculdade, prestou
um concurso público e conseguiu se efetivar como professora no estado de São
Paulo. Nesta época, deu conta de cuidar das duas crianças – eu e meu irmão-, de
seu pai e mãe doentes morando no interior e de uma filha mais velha com uma
criança pequena.
Deu aula em alguns lugares em São Paulo que ninguém queria ir, e
esse contato foi mais um dos elementos que a fortaleceu para não desistir do
que queria ser: uma ótima professora. O resultado é que ainda hoje nos
encontramos com seus alunos daquela época que lembram dela com muito amor e
carinho
Na busca por uma melhor
qualidade de vida, no final dos anos 90 veio para Rio Preto. Deu aula para
crianças de terceiros e quartos anos até o ano de 1998, quando a possibilidade
de aposentadoria chegou. Foi muito difícil para ela se aposentar pois sempre
amou dar aula e cuidar de seus alunos.
Com a aposentadoria, entretanto, outras possibilidades de convívio
se abriram e ela começou a aproveitar um pouco mais a vida promovendo festas
com maravilhosas comidas e uma roda de samba que trazia alegria para todos.
Em 2014 ela sofreu um AVC. Foi um grande susto para todos nós, mas
por ser uma pessoa que sempre ajudou e sempre teve fé ela conseguiu voltar à
sua normalidade com pouca mobilidade, mas com a cabeça funcionando a todo vapor.
Minha mãe, Aparecida, vive comigo hoje, me ajuda no gerenciamento da
casa, lê uma média de cinco livros por
semana e adora ir no samba. Nunca desistiu e por isso ela é a mulher negra que
me inspira todos os dias, por seu exemplo e dedicação, a lutar contra o racismo,
o preconceito e a intolerância religiosa.
Gratidão mãe por tudo! Gratidão vó por todos seus ensinamentos diários!
Denise Maria Ferreira,
coordenadora responsável pelo projeto Meninas do bem, membra do coletivo
mulheres na política