Radicalizando ainda mais essa expressão podemos dizer que ser mulher preta, líder religiosa e quilombola é um ato político, de denúncia de resistência
Hoje a mulher homenageada é Maria Bernardete Pacífico Moreira, mais
conhecida como mãe Bernardete, a ialorixá e líder quilombola foi executada a
tiros na frente se seus netos dentro da sede do quilombo Pitanga dos Palmares
na Bahia.
Mãe Bernardete era a líder do quilombo Pitanga de Palmares
"caipora”, mas também estava à frente do Conaq – Coordenação Nacional
de Articulação de Quilombos entidade que lutava pelo direito a terra e pela
preservação da cultura, da espiritualidade e a história do povo preto. Entre os
anos de 2009-2016 foi secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial
da cidade de Simões Filho.
Lider comunitária e religiosa esteve à frente das atividades econômicas
culturais-religiosas de sua comunidade. Despertou o ódio de traficantes e
proprietários de terra do lugar. Mãe Bernardete não se calou lutou por justiça,
lutou pelo esclarecimento do assassinato de seu filho Flávio Gabriel Pacífico
dos Santos mais conhecido como Binho do Quilombo em 2017 e, ainda denunciou o
tráfico de drogas e a exploração ilegal de madeira naquela região.
Na comunidade vivem cerca de 290 famílias, o local também é conhecido
pelas mulheres artesãs que desenvolvem trabalhos em piaçava e as bordadeiras. A
comunidade também tem uma associação com 120 agricultores que produzem em
vendem verduras, frutas e farinha, e o trabalho social desenvolvido no local,
como a luta contra o racismo, a intolerância religiosa e discriminações, saúde
das mulheres etc. O quilombo foi certificado em 2004, e ainda hoje o
processo de titulação não foi concluído.
Mesmo em meio a tantas dificuldades, ameaças de morte mãe Bernardete
nunca desistiu da luta, reconhecendo a importância de suas raízes, de sua
ancestralidade – segundo ela mesma: "filha de Maria Alvina, neta de Maria
Faustina e Ubaldino Goes Pacífico” - e de seu legado para os que irão
continuar seu trabalho: "que meus netos abracem essa causa, especialmente os
filhos de Binho do Quilombo porque é o cajado que eu vou deixar pra eles”.
"Ser quilombola é ser resistência!”
frase tiradas do documentário: Bernardete em comemoração aos seus 70
anos de vida dedicados a luta social, ainda em suas palavras "nós não viemos
para brincar nós viemos para trabalhar”.
Devido as ameaças sofridas Mãe Bernadete fazia parte do Programa de
Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos, tinha proteção de uma escolta e a
sede de sua comunidade era monitorada por câmeras. E mesmo com proteção mãe
Bernardete foi executada no dia 17 de agosto de 2023 com 12 tiros dentro
de sua comunidade.
A polícia da Bahia conclui que mãe Bernadete foi morta a mando de
traficantes, em investigação a polícia chegou até um morador da própria
comunidade que fazia extração ilegal de madeira e que estava insatisfeito com o
ativismo ambiental da líder quilombola. O morador da comunidade os mandantes e
os executores foram identificados, seis pessoas envolvidas no crime foram indiciadas
por homicídio qualificado.
Embora mãe Bernardete tenha sido executada seu trabalho resiste, seu
filho Wellington Santos luta por justiça por sua mãe e por seu irmão Binho do
Quilombo netos e amigos da comunidade resistem e levam a diante seu legado.