Nos últimos anos uma questão tem se tornado corriqueira no nosso cotidiano: a perda da noção de realidade
Fruto da polarização, da percepção binária das
questões cotidianas, dos robôs que nos levam a crer que existe uma multidão de
pessoas que pensam como nós e dos algoritmos que ajudam a criar nossa própria
bolha e leva a falsa sensação de maioria e unanimidade.
A
percepção distorcida da realidade leva algumas pessoas, sem consciência da ação
das ferramentas que citei no parágrafo anterior, a acreditar que estão
protegendo o país da construção de uma sociedade distópica, futura, que seria
caracterizada por situações intoleráveis, opressoras e autoritárias.
Alguns anos atrás, quando conversava com uma
importante jornalista riopretense, analisamos a decisão do Facebook de não
privilegiar mais os veículos de comunicação tradicionais, no seu feed. Ficou
claro, naquela ocasião, que dada a importância que as redes sociais haviam
adquirido nos últimos anos, essa decisão não iria contribuir para uma melhor
qualidade da informação que seria propagada naquela rede social.
Pelo contrário,
uma situação que vinha ganhando força, e que precisava ser combatida, a pós
verdade, começava a dominar as redes sociais e se tornar proprietária da
informação.
Daquele dia, até hoje, houve uma nítida piora da
qualidade da informação que as pessoas consomem. Viver nos dias atuais, com o
advento dessa maravilhosa ferramenta que é a internet, precisa de coragem.
Coragem para mudar de opinião, coragem para aprender, coragem para questionar
tudo que nos chega mastigado e pronto para ser absorvido.
O entendimento da realidade passa pela humildade
do saber, passa necessariamente por uma imprensa livre, crítica e
investigativa. Mas a questão é que, como disse a um estridente e empavonado
empresário local. que em um acalorado debate, questionou a ideologia de um dos
debatedores(tentando claramente relativizar seus argumentos), entre o preto e o
branco, como nos ensina Christian Grey, existem, pelo menos, cinquenta tons de
cinza,.
Portanto é covardia intelectual quando alguém se
esconde atrás de rótulos e estigmas para fazer valer seus argumentos. Não
podemos delegar a uma pessoa, ou um grupo, que controla milhares de robôs, seja
dono da opinião, que manipule pessoas, que carentes de pertencimento, se façam
motivadas a participar de uma maioria artificial. Da mesma forma não podemos
querer que algoritmos, que criam bolhas de realidade, em cima dos nossos likes
e compartilhamentos, sejam determinantes da percepção de que nossas crenças são
as da maioria.
A internet
deu voz às minorias, derrubou ditaduras, distribuiu conhecimento de maneira
eficaz e democrática como nunca na história da nossa espécie. Mas como todo
brinquedo novo, estamos aprendendo a usá-lo da maneira correta.
O caminho
para o conhecimento talvez seja a lição que nos ensinou Sócrates(o filósofo, não
o jogador de futebol): Só sei, que nada sei...