É impressionante o quanto mesmo sem perceber nos encontramos conectadas em rede. Em 2023 pude conhecer um pouco mais sobre a Carolina Maria de Jesus em uma exposição sobre sua vida e obra, porém nossa "relação” se deu quando brevemente a interpretei no teatro
Porém não é sobre ela que
pretendo escrever, mas sobre outra mulher negra, potente e que deixou um legado
irretocável. Hoje falaremos sobre Maurinete Lima, uma pernambucana nascida em
1942, socióloga, poeta e ativista.
Seu legado poderia se resumir apenas por sua existência, pois sabemos que as condições sociais não são e nunca foram favoráveis para que
mulheres pretas nascessem, vivessem, estudassem e partilhassem seus saberes. No entanto, por conta de suas inquietações Maurinete funda o coletivo 03 de Fevereiro, que é um grupo transdisciplinar de pesquisa e ação direta, acerca do racismo na sociedade brasileira. O grupo trabalha com artes visuais, teatro, poesia, audiovisual, aulas, debates e uma infinidade de formas expressivas que buscam investigar o racismo no Brasil
Além de ser fundadora do coletivo 03 de fevereiro, aos 74 anos lançou o livro Sinha Rosa, onde podemos encontrar poemas e neles
suas lutas, vivências e ensinamentos.
Quantas mulheres pretas nos deixaram legados e quando são reconhecidas em vida, são de forma tardia? Conceição Evaristo, Alaide Costa,
Carolina Maria de Jesus e Maurinete Lima.
Maurinete constrói sua intelectualidade negra sendo socióloga e professora da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte e esta não se descola da prática militante, com isso nos traz a reflexão de que para pessoas prestas, em especial mulheres pretas não há a opção do descolamento, haja vista que as vivências são pessoais e o sujeito de estudo sempre é transversalizado pela nossa subjetividade.
Essa rede, mesmo atravessada por dores constituídas por uma sociedade racista fortalece no compartilhamento, na singularidade de justamente
ser um saber atuante, generoso, coletivo e conectado para e com a comunidade onde atua. Além de ser prático, de forma poética Maurinete compartilha sua sabedoria através de arte, potencializando e construindo diversas formas de linguagem e acessibilidade de sua obra e vida.
Arrisco, de forma nada despretensiosa e humilde a me orgulhar e saudar essa ancestral, que plantou sem a pretensão de colher. Maurinete materializou a senso de coletivo, generosidade e grandeza de forma decolonial e eterna.