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Professora da UNESP e membro do Coletivo Mulheres na Política e do projeto Mulheres no Plural
Foto por: Arquivo Pessoal
Professora da UNESP e membro do Coletivo Mulheres na Política e do projeto Mulheres no Plural

Ação Solidária e cuidados

Por: Maria Stela Maioli Castilho Noll
08/03/2022 às 16:30
Artigos

Quando falamos a respeito das condições das mulheres na nossa sociedade, - condições essas que vão desde a questão da violência, até a diferença da nossa presença nas mais diversas carreiras-, é comum nos remetermos a forma como criamos nossos meninos e meninas.


Isso acontece porque entendemos que o que chamamos de gênero e as questões relacionadas a ele são aspectos sociais de nossas vidas. O gênero, de maneira simplificada, por definição é a construção social que fazemos a partir do que chamamos de sexo anatômico.  As questões de gênero relacionam-se com a maneira de sermos homens e mulheres realizada pela cultura, inclusive no sentido de termos já questionado se somente essas duas opções são as possíveis ou desejáveis, mas aí já entraremos em outra conversa. O que queremos retomar aqui é que esses comportamentos são aprendidos no convívio social. Um dos aspectos importantes desse aprendizado é que desde muito cedo as questões ligada ao cuidado de si e do outro, são tidas como femininas. Nossos primeiros brinquedos são habitualmente bonecas e utensílios domésticos que nos remetem ao cuidado das crianças e da casa. E nessa linha de aprendizado vamos ver profissionalmente mais mulheres enfermeiras, professoras de crianças pequenas, assistentes sociais e no âmbito doméstico somos nós habitualmente as responsáveis prioritárias pelos cuidados com os filhos, os idosos e os doentes.

Corremos o risco de ao criticar esse papel fixo atribuído às mulheres, perdermos a ideia de que o cuidado mútuo é um valor importante a ser cultivado. O cuidado de si é fundamental para que possamos sobreviver e viver bem. Cuidar e ser cuidado pelo outro no âmbito familiar e doméstico é (ou pelo menos deve ser) a característica mais essencial do que podemos chamar de família. Os cuidados no nível  da sociedade são os que permitem uma certa estabilidade para o que também podemos chamar de sociedade.

Tenho feito parte de um grupo de pessoas que se juntaram para fazer o bem. Olhando aqui no grupo do whatsapp, somos 41 componentes. Conheço alguns, mas a maioria das pessoas desse grupo eu não poderia reconhecer se as encontrasse na rua, pois não as conheço.

O grupo mobiliza doações em dinheiro e o que puderem em itens alimentícios e outros materiais e direciona para pessoas carentes. As quantias doadas em dinheiro têm sido destinadas para compra de material de construção para que famílias possam ter uma casa digna para morar.

O grupo é composto por homens e mulheres, mas não precisa nem dizer que quem encabeça e organiza tudo são mulheres. Mulheres já aposentadas, mas que destinam grande parte de seu tempo para esta causa. Recolhem o dinheiro e as doações, prestam contas com transparência, mobilizam o grupo, levam e buscam materiais, fazem visitas e até carregam e descarregam tijolos, telhas e o que for preciso. São incansáveis!!!

Vivemos um tempo muito difícil!! E a dificuldade se tornou ainda mais severa para os que se encontram no extremo da pobreza. Aqui também há uma maioria de mulheres que sofrem com a pobreza, com a responsabilidade de criar os filhos sozinhas, com a violência, com o racismo.

Às vezes me pergunto que mundo queremos para nossas meninas, futuras mulheres? Um mundo de mulheres trabalhadoras que com muito sofrimento conseguem fazer com que suas famílias sobrevivam, ou mulheres trabalhadoras que usam sua força e energia para desenvolver projetos coletivos e que tragam vida para muitos. A outra questão nestes tempos tão sombrios é em relação à possibilidade de aprendermos a nos cuidar e cuidar dos outros, vamos ensinar somente as meninas? O ônus, os encargos, o bônus  e o prazer de poder ser cuidador de si e de outros estará restrito ao feminino?

Criticamos que o papel do cuidado tem se restringido às mulheres, mas a solução não pode ser a desvalorização do cuidado e sim a ampliação dos agentes cuidadores. Cuidar de si e dos outros é nutrir a nós mesmos e sustentar os alicerces de todo nosso tecido social. Homens e mulheres de todas as orientações e identidades sexuais precisam e podem estar juntos nesse suporte em comum.

Maria Stela Maioli Castilho Noll, professora da UNESP e membro do Coletivo Mulheres na Política e do projeto Mulheres no Plural.







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