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Maria Stela Maioli Castilho Noll, professora na UNESP/Campus de São José do Rio Preto, membro do coletivo Mulheres na Política.
Foto por: Arquivo Pessoal
Maria Stela Maioli Castilho Noll, professora na UNESP/Campus de São José do Rio Preto, membro do coletivo Mulheres na Política.

Esperançar: Entre Paulos, Polianas e Paulinas

Por: Maria Stela Maioli Castilho Noll
13/12/2021 às 16:00
Artigos

Quando chega o final do ano sempre fazemos uma retrospectiva.


Mas não há muito que comemorarmos em 2021, pois parece que qualquer acontecimento feliz deste ano está ofuscado por outros infelizes: custo de vida elevado; muitas pessoas passando fome; aumento da desigualdade social; precarização da vida dos trabalhadores; aumento do feminicídio. E cada um desses foi agravado com a Covid-19.

Mas apesar de todas as notícias ruins, nós seres humanos ainda somos teimosos em continuar na luta para melhorar esse mundo e a nossa realidade e, ao mesmo tempo em que aumentam as estatísticas tristes, ações concretas de muitas pessoas tentam mudar estes números. Estas pessoas, ao se organizarem, bebem na fonte da esperança. O grande educador brasileiro Paulo Freire dizia que esperança não está relacionada com o esperar, mas com o "esperançar”. O que significa que a esperança tem uma positividade, uma alegria em si mesma, mas não pode ser passiva, tem que se traduzir em ação daquele que tem esperança.

Os tempos difíceis que estamos vivendo podem nos fazer pensar que "esperançar” é infantilóide, ilusório. Os mais velhos vão se lembrar de um clássico da literatura infanto juvenil (para as moças) chamado Poliana. Poliana era uma menina órfã que no meio dos inúmeros problemas de sua vida difícil resolveu criar o "jogo do contente”. Em cada situação ela buscava algum aspecto para ficar contente. O livro forçava a situação sobre a possibilidade de ser feliz em qualquer circunstância, certamente esse sim, era infantilóide e ilusório, mas o exercício de buscar uma fresta de esperança no cotidiano não é. "Esperançar” é agir, é buscar esperança porque ela realmente existe. É buscar esperança para justamente poder agir e criar as condições para que as possibilidades de ser feliz possam de alguma maneira acontecer.

Paulina Chiziane é uma escritora moçambicana que ganhou em 2021 o prêmio Camões de literatura. Em seu mais famoso livro chamado "Niketchee” ela é enfática: "Quando as mulheres se organizam, os homens não abusam”. Aqui não há uma hostilidade direta em relação aos homens, mas é preciso compreender que vivemos em uma sociedade machista, e sim, é preciso que as mulheres se organizem. Assim como porque vivemos em uma sociedade racista, é preciso que os negros se organizem. Assim como porque estamos em uma sociedade capitalista e de classes, é preciso que os trabalhadores de alguma maneira se organizem. Certamente o correto e o necessário seria romper com essas características do nosso sistema, mas também para isso, precisamos nos organizar.

A violência contra a mulher, assim como inúmeros outros problemas sociais que temos, é um problema multifacetado. Multifacetado nas suas origens, nas suas manifestações, nas suas consequências. Para seu combate, uma multiplicidade de atores e instituições são necessárias. Para o próximo ano, pensando na violência doméstica e em todos os demais problemas que nos envolvem, esperançar e organizar é preciso.  Porque viver não é preciso, mas é necessário. E a busca de uma vida um pouco mais contente para todos, é só o que temos. 

Maria Stela Maioli Castilho Noll, professora na UNESP/Campus de São José do Rio Preto, membro do coletivo Mulheres na Política.







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