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Luciana Fontes, presidente do Psol de Rio Preto
Foto por: Divulgação
Luciana Fontes, presidente do Psol de Rio Preto

João exerce sua função na Câmara para escancarar um governo povofóbico, diz presidente do Psol

Por: Maria Elena Covre e Milton Rodrigues
16/09/2021 às 15:20
Bastidores

Em entrevista ao DLNews, Luciana Fontes, presidente do diretório municipal do Psol reconhece que a esquerda precisa reconquistar as bases em Rio Preto e deixa claro que oposição ferrenha ao governo Edinho


Quando se fala em marcar território como oposição ao governo do prefeito Edinho Araújo (MDB), o Psol de Rio Preto - que tem como principal referência na cidade o ex-deputado estadual e atual vereador João Paulo Rillo, outrora aliado do emedebista em várias circunstâncias - não brinca em serviço, como bem mostra a presidente local da legenda, a advogada Luciana Fontes, nesta entrevista. 

Ao atrair os históricos petistas da família Rillo, primeiro o filho, depois o pai (Marco), o partido fincou os pés em Rio Preto, na atualidade, como a principal força de esquerda com visibilidade e representatividade. João Paulo ocupou na Câmara a tradicional cadeira petista que já foi de seu pai, entre outros. Experimentado nos andares de cima da política, ele é um dos atores que impuseram uma dinâmica ao Legislativo Municipal bem mais desafiadora ao Executivo, especialmente ao se juntar, como no caso da eleição da mesa diretora, a aliados pontuais, como o Republicanos, o tucano Renato Pupo e o patriota Pedro Roberto, que saiu eleito graças ao surpreendente arranjo.  

Há menos de uma semana, João Paulo foi escolhido presidente do Psol no Estado de São Paulo, ficando com a missão de articular a candidatura de Guilherme Boulos ao Palácio dos Bandeirantes. Luciana Fontes mostra que o partido está afinado e não há disposição de trégua neste jogo. Acusa o governo municipal de omissão na pandemia e sequestro do Legislativo. Confira...
  
DLNews - O Psol é o único partido com definição clara de esquerda na Câmara de Rio Preto. A vitória de João Paulo Rillo, no entanto, não pode ser vista apenas como uma conquista da legenda, porque muito da história dele vem do PT, que já chegou a eleger três vereadores de uma única vez. Por que a esquerda tem tanta dificuldade hoje para ganhar o voto do rio-pretense?
Luciana Fontes - Nós não podemos descolar a história de uma pessoa, uma vez que somos sujeitos históricos. O Psol tem o compromisso com a classe trabalhadora e com a diversidade que a compõe, trabalhamos pelo rompimento desta realidade de violências e de opressões, pois somos uma alternativa popular neste momento de reorganização da esquerda no Brasil.
Rio Preto sofreu uma forte influência conservadora, assim como já teve bastante influência progressista, quando elegeu o Presidente Lula, que já ganhou duas eleições em Rio Preto, e levou o João Paulo ao segundo turno na eleição municipal de 2008, e depois o elegeu por duas vezes deputado estadual, sendo que em uma delas ele foi o mais votado da história da cidade em 2010. Trata-se, portanto, de um fenômeno conjuntural. O que aconteceu na cidade no último período não deve limitar o seu potencial para eleger parlamentares que verdadeiramente representem o povo e essa é a importância de mandatos combativos, como o do Vereador João Paulo Rillo, que tem sido responsável pelas grandes batalhas em defesa dos direitos da população rio-pretense e, principalmente, por escancarar as mazelas desse governo municipal. A população sabe que pode confiar no trabalho de nossos parlamentares, assim como fizeram com Marco e, agora, com o João. Por isso, a partir deste mandato, o Psol Rio Preto inaugurou uma tradição de possibilitar que os nossos suplentes possam participar ativamente da construção do mandato, de modo que, anualmente, o (a) vereador (a) irá se afastar por um mês para que um (a) suplente assuma e, assim, possa se apresentar verdadeiramente à população, bem como ampliar a linha de atuação e comprometimento do mandato. Nos últimos meses, realizamos a primeira experiência de suplência com o Professor Elso, professor e pesquisador da Unesp, que, em julho, assumiu como vereador e posicionou-se sobre importantes pautas para o município, como a educação, ciência e tecnologia, meio ambiente e diversidade.

DLNews - No 7 de Setembro, a legenda optou por uma manifestação contra o presidente Jair Bolsonaro na região norte da cidade, saindo dos tradicionais pontos centrais. É uma tentativa de fazer com que a esquerda volte a falar para suas bases, uma vez que hoje seu eleitorado está bem mais na elite intelectual? 
Luciana Fontes - No dia 7 de setembro, o Psol participou do Grito dos Excluídos, juntamente com outros partidos de esquerda e representações da classe trabalhadora aqui de nossa região. Assim como tem ocorrido nos últimos atos organizados aqui na cidade e que compõem uma agenda de lutas, realizamos uma manifestação democrática e que refletiu muito bem nossas demandas atuais: vida, pão, vacina, educação e Fora Bolsonaro. De fato, nos últimos anos, a esquerda viveu um período de distanciamento com as bases populares, o que reflete também nesse processo de despolitização que eclodiu na última eleição presidencial – ele já estava em curso, aliás. Justamente por reconhecer essa conjuntura e avaliar que as nossas lutas se constroem a partir das demandas reais do povo, estamos trabalhando para o fortalecimento dos movimentos sociais. Acabamos de passar pelo Congresso do Psol, em que defendemos a tese por um PSOL POPULAR, DEMOCRÁTICO E DE TODAS AS LUTAS, felizmente vitoriosa aqui no Estado de São Paulo, cujo eixo central de nosso trabalho é o enraizamento do partido nas lutas populares, para que nós –  o povo constituído também por mulheres, negros e negras, indígenas, LGBTQIA+, PCDs e juventude – estejamos no centro do debate e das decisões. A partir de agora, o Psol São Paulo será presidido pelo companheiro João Paulo Rillo.

DLNews - Como a senhora vê a atuação de João Paulo Rillo na Câmara? Para o partido, devolvê-lo à Assembleia Legislativa, onde ele já defendeu dois mandatos, é uma prioridade? 
Luciana Fontes - O João Paulo tem desempenhado um mandato muito importante, representativo e bastante combativo desde o primeiro dia. A primeira vitória se deu com a eleição da Mesa Diretora da Câmara Municipal, que dificultou um pouco esse processo de sequestro do Legislativo desempenhado pelo Executivo, ainda que não tenha impedido que esse silenciamento acontecesse. O João Paulo é a grande voz dissonante e corajosa dessa Casa, uma vez que não compactua com os interesses da elite, mas sim defende e representa os anseios de uma população que é completamente negligenciada pelo governo municipal. Enfrentamos muitas batalhas, com algumas vitórias, porém as dificuldades não costumam esmorecer grandes lutadores como o João, muito pelo contrário, revertem-se em combustível para a verdadeira ação política. Nosso mandato se iniciou em meio a mais grave tragédia sanitária de nosso país e, também, de nossa cidade. Em Rio Preto, até o momento, quase 2.800 pessoas foram assassinadas em decorrência da Covid-19, um morticídio que também conta com a omissão do governo municipal, que escolheu expor a população ao risco, priorizou o lucro das grandes empresas à vida das pessoas. Em Rio Preto, não tivemos uma política sanitária séria e coerente, que pudesse acolher e cuidar da população, pelo contrário, tivemos o acirramento das desigualdades, não houve qualquer auxílio emergencial para a população mais atingida pelas consequências econômicas geradas pela pandemia, nem mesmo aos pequenos comerciantes, que foram completamente colocados de escanteio, com a conivência da Associação Comercial que deveria lhes representar, mas que infelizmente escolheu seus grandes patrões. Diante deste cenário, João exerce sua função como representante do povo para escancarar a realidade de um governo povofóbico. Todas as suas intervenções como parlamentar se dão no sentido de garantir dignidade às pessoas, mesmo que isso lhe gere algumas consequências, como ocorreu no episódio do Conselho de Ética, responsável por uma denúncia e condenação completamente desproporcionais e absurdas: João sofreu uma advertência por ter repudiado veementemente a conduta lgbtqifóbica e que rejeitou o projeto de lei que dispunha sobre a criação do Conselho de Direitos da Diversidade Sexual e de Gênero. João Paulo foi autor de importantes projetos de lei para garantir renda mínima à população e para assegurar a vacinação prioritária de lactantes em nosso município, por exemplo, os quais, mesmo que aprovados na Câmara Municipal, foram vergonhosamente vetados pelo Governo Municipal. No momento, estamos desenvolvendo o trabalho da CEI das Terceirizadas, que tem deflagrado a situação de precarização que vivem os trabalhadores. Diante disso tudo, é óbvio que ter um parlamentar da grandeza do João Paulo novamente da Assembleia Legislativa seria importante para o partido, porém o PSOL define suas táticas coletivamente, de modo que ainda não concluímos um entendimento em relação à composição de nossas chapas para a próxima eleição. Felizmente temos grandes quadros para representar as nossas lutas.

DLNews - E a relação do PSOL com o PT? Por que há tantas dificuldades para as duas legendas atuarem juntas, em coligações. Não foi possível em Rio Preto nas eleições municipais do ano passado e tudo indica que Boulos e Haddad também vão caminhar cada um em sua via na briga pelo governo de São Paulo no primeiro turno. 
Luciana Fontes - A militância nos ensina a respeitar as divergências táticas entre nossos companheiros. É assim que nos posicionamos em relação ao PT, com reconhecimento de suas grandezas e com respeito a suas posições. A militância também nos ensina a construir nossas táticas através da análise e compreensão da conjuntura socioeconômica. É assim que fazemos política no PSOL. E, diante do atual cenário, o PSOL tem uma posição pela construção de uma unidade das esquerdas para derrotar o bolsonarismo e recompor o pacto civilizatório do Brasil, este que foi vilmente destruído pela extrema-direita. 

DLNews - O que a senhora achou da coincidência do vazamento do vídeo íntimo do hoje bispo emérito de Rio Preto Tomé Ferreira com a visita do Boulos a ele no dia 13 de agosto?
Luciana Fontes - Há coisas muito mais importantes e relevantes para a população que o vazamento de um vídeo íntimo, como o debate proporcionado pela visita de Guilherme Boulos a Rio Preto: no dia 13 de agosto, recebemos o grande companheiro Guilherme Boulos para uma ampla e intensa agenda com lideranças de nossa cidade. Estivemos no Hospital de Base, Santa Casa, Acirp, Cooperlagos, Construção da Cozinha Solidária, Militância do PSOL, Diocese, Parlamento Regional, Comunidade LGBTQIA+, Bares e Restaurantes e, para fechar este grande dia, reunimos lideranças regionais, partidárias, sindicais e de movimentos sociais para uma plenária que ocorreu na praça da Caixa d’Água da Boa Vista. Foi uma agenda que envolveu a cidade e que pode apresentar ao nosso pré-candidato ao Governo do Estado de São Paulo quais são nossos potenciais, mas também quais são as nossas necessidades. 







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