Meire Santos é uma das mulheres incluídas nos 56,1% da população preta, segundo dados do IBGE/2022, cuja origem remonta ao passado de um Brasil de pretos escravizados (sua bisavó materna) e sua história familiar traz as consequências dos preconceitos da branquitude - aquela violência racial onde grupos sociais não-brancos são fadados a beneficiar e garantir privilégios materiais e simbólicos aos brancos
Meire Santos é uma das mulheres incluídas nos 56,1% da população preta,
segundo dados do IBGE/2022, cuja origem remonta ao passado de um Brasil de
pretos escravizados (sua bisavó materna) e sua história familiar traz as
consequências dos preconceitos da branquitude - aquela violência racial onde
grupos sociais não-brancos são fadados a beneficiar e garantir privilégios
materiais e simbólicos aos brancos. Aconteceu com sua avó materna (branca) que,
tendo se casado com preto, perdeu sua condição de herdeira. De modo que este
passado fez de Meire, riopretense de 53 anos, uma mulher consciente de sua
história.
Atuante na política local, destaca-se como uma liderança que sabe
envolver as pessoas. Aos 14 anos, atleta da equipe de basquete da cidade,
exerceu sua liderança junto aos veteranos da equipe adulta, na década de 1980.
Nos idos de 90, após ser frentista em um posto de gasolina, tornou-se
gerente de pista. Aliás, é possível que ela tenha sido pioneira, em Rio Preto,
a desempenhar a função de frentista – típica profissão de homens-, demonstrando
sua capacidade de encarar a realidade sem preconceitos.
Foi assessora parlamentar na Câmara Municipal e na Assembleia
Legislativa de São Paulo. Hoje, coordena o núcleo "Coletivo Afro” do MDB.
Sua história de vida é permeada pelo envolvimento com a classe
trabalhadora, impulsionando pessoas a reivindicarem seus direitos, com a
convicção de que, aos olhos dos outros, não se pode ser "um nada”. Questões
políticas sempre foram mais relevantes do que a ascensão pessoal, o que lhe
rendeu vasta experiência social e democrática, bem como a capacidade em
orientar seus rebentos – Maria, João e Vera – a terem uma visão humanista e
crítica da realidade. Maria é formada em Economia pela Universidade de São
Paulo, João cursa Turismologia na Universidade Federal de Ouro Preto e Vera
canta e encanta e está na fase dos vestibulares. Ser mãe acentuou sua
necessidade de fortalecer os laços familiares pautados na consciência sobre as
questões raciais e "palmiteira” não foi, pois é casada com João Roberto, um
negro retinto, parceiro de todas as horas.
Para ela, fazer política é abrir canais de fala - saber fazer o barulho
"de modo a não te calarem” – o que demonstra sua habilidade de atuar em
diferentes situações e contextos, sem nunca perder de vista suas origens. Vê
como necessário o sistema de cotas no ensino superior - cuja reformulação foi
recém aprovada pelo senado federal - para relativizar a meritocracia e lembra
que em sua graduação, nos anos de 1990, do total de alunos dos diferentes
cursos, haviam apenas três pessoas pretas, dentre elas um rapaz apelidado de
"Branca de Neve”, num explicito sentido de ridicularizar este preto que ousou
frequentar uma universidade de Medicina na época.
Dos cabelos? Meire é uma preta que assume suas características pessoais.
Sua mãe, que só pôde estudar tardiamente e tornou-se funcionária pública aos 50
anos, ensinou-lhe sobre perseverança e a fez confiante de seu próprio corpo.
Meire representa uma força que nos leva a encarar desafios e acreditar
no potencial que o ser humano traz dentro de si, buscando um constante
proteger-se para poder gritar e trabalhar.
Luciana Figueiredo – Pedagoga. Participa do Coletivo Mulheres Na
política.