Maria Remedios del Valle, nasceu em Buenos Aires, entre os anos 1766 e 1768, e foi listada pelo exército argentino como "parda”, termo usado para identificar os descendentes de escravizados africanos.
Em 1810, acompanhou o marido e os dois filhos na primeira
expedição militar ao
Alto Peru, e nos campos de batalha enfrentou a discriminação
por ser mulher e
negra, mas destacou-se por sua força e coragem, cuidando dos
feridos, cozinhando
e também pegando em armas.
Sua atuação foi decisiva na Revolução de Maio, participando
de todas as batalhas
do exército de libertação, e a batalha de Salta lhe rendeu o
nome de "Mãe da
Pátria", colocando-a na linha de frente do exército
argentino.
Depois acompanhou como auxiliar e combatente no Exército do
Norte todo o
período da guerra de independência, o que lhe rendeu o
título de "Capitã”, pelo qual
gostava de ser chamada.
Sofreu diversos ferimentos pelo corpo e na face, e também a
perda do marido e dos
filhos em combate, entrando para a história da Argentina
como uma das Meninas
Ayohuma, mulheres que lutaram bravamente em diversos
combates.
Após o término da guerra, Del Valle voltou para Buenos
Aires, mas sem encontrar o
reconhecimento merecido, se viu na miséria, passando a
mendigar pelas ruas e a
comer sobras que os conventos jogavam aos cães, enfrentando
assim, uma nova
guerra, a do preconceito, da solidão, do abandono e do
esquecimento.
Em 1826, não satisfeita com o seu destino, Del Valle iniciou
um processo solicitando
receber o soldo de 6.000 pesos que lhe era devido por seus
serviços ao país e pela
perda do marido e dos filhos, mas em março de 1827, o
ministro da defesa negou
seu pedido.
Um ano depois, aos 60 anos e envelhecida, foi encontrada
mendigando na praça
Recova pelo general Juan José Viamonte, que a reconheceu,
pois haviam lutado
juntos no Alto Peru. O general então apresentou um processo
para que ela
recebesse uma pensão do Estado, mas o pagamento só ocorreu
no ano de 1828, e
era insuficiente para que ela tivesse uma vida digna.
Somente em 1830, Juan Manoel Rosas, eleito governador de
Buenos Aires,
promoveu Maria Remedios a "Sargento Mor de Cavalaria”, e fez
sua inclusão no
quadro do Corpo dos Inválidos, garantindo-lhe um salário
integral que a possibilitou
deixar a pobreza extrema. Em sinal de gratidão, em 1836, ela
passou a ser
registrada na lista de pensões como Maria Remedios Rosas.
Maria Remedios morreu no dia 8 de novembro de 1847, e
durante um longo
período, a vida desta heroína foi apagada da história da
Argentina. Atualmente
movimentos afro-argentinos lutam para que a sua história
seja cada vez mais
reconhecida.
No ano de 2013, o dia 8 de novembro foi instituído como o
Dia Nacional dos Afro-
Argentinos e da Cultura Africana, e em 06 de julho de 2021,
ela foi a primeira mulher
homenageada na Câmara do país com um quadro instalado em um
salão cujas
paredes são cobertas por quadros de homens, uma forma de
homenagear toda a
luta da "Mãe da Pátria Argentina” em nome daquela nação.
MARIA APARECIDA CURY
Juíza de Direito Aposentada, Presidenta do Conselho
Municipal dos Direitos da Mulher e
Integrante do Grupo Mulheres na Política. Mulheres na
Política no 1º Ato da Mulher Negra LatinoAmericana e Caribenha de São José do
Rio Preto.