Aparecida Sueli Carneiro não poderia ter nome melhor e mais apropriado para uma mulher que vem construindo uma trajetória inigualável, inquestionável e inspiradora
Sueli, que significa luz, vem
iluminando e nos presenteando com conteúdos, ensinamentos e acima de tudo uma
postura ético política transformadora. É escritora, filósofa, ativista e
fundadora do Instituto Geledés.
Sempre combativa e imponente, não há como pensar a
construção do feminismo negro no Brasil sem passar por Sueli. Nascida na
capital paulista, desde cedo Sueli se mostrava "desobediente”, o que nos alegra
e nos ensina.
Desobediente de um sistema que
desde sempre tenta colocar as mulheres negras em local de subserviência, de
"base da pirâmide’ social, de desumanização. A
princípio, como revela em
entrevistas e na sua autobiografia continuo
Preta, sua forma de resistência era o embate físico, não tinha nem medo e nem
cerimônia ao bater naqueles que a hostilizavam, oprimiam ou que assim fizessem
com seus irmãos ou pessoas queridas.
Com o amadurecimento e encontro com outras
mulheres como Lelia Gonzales, direcionou sua força de combate para a construção de narrativas que partissem de
sua ótica e vem sendo assim desde então, vem deixando uma trilha para que
possamos seguir.
No instituto Geledés que é a
primeira formação negra feminista e independente de São Paulo transformou,
transforma e constrói espaço de formação, cuidado e possibilidade para que não
somente mulheres, mas pessoas pretas construam seu protagonismo de vida.
Seu ativismo nos norteia e nos
convida a descolonizar nossos afetos, pensamentos e ações. Ela os convida a parar com a
cultura de obedecer, de legitimar e perpetuar
o pacto da branquitude.
Sua postura firme e sempre clara
nos autoriza a dizer Não! Nossa estética não será mais embranquecida, pois
enquanto povo preto e formador desse mundo, sempre tivemos os nossos
paradigmas. Quando traz a cultura preta como centro de suas ideias e atitudes,
Sueli nos diz que é preciso que nos olhemos com nossos olhos, que nos pactuemos
pois somente no coletivo é que conseguiremos combater o racismo.
No combate ao racismo suas ações
são contundentes e de diversas frentes e ordens: produziu conhecimento;
instituiu o SOS Racismo; criou o programa de saúde física e mental para
mulheres negras; criou o programa Rappers; atuou na política e acima de
tudo, existe, resiste e impacta com sua existência. Essa, como dizia
minha avó: Não veio ao mundo a passeio!!!
Com a ousadia de suas palavras chama a atenção e no alto de sua
grandeza, nos intimida a não pactuar com a criação do colorismo. Segundo Sueli,
essa categorização entre pessoas pretas
é uma estratégia, desde o período colonizador, de causar separação e discórdia
entre o povo preto. Para ela, a branquitude pode se dar o direito de
questionar, mas como sabemos, no alvo da violência não tem confusão: se é preto, claro ou escuro
é chumbo.
Com isso, participou ativamente da
construção de algo que usamos até hoje, categorizando negros como pretos e
pardos
Sueli é a ancestral que nos
presenteia coexistir no mesmo tempo e espaço, mesmo sem contato físico e
intimidade, nos deixa um legado e nos convida a um compromisso e desafio, que é
do auto amor, auto conhecimento , do auto orgulho, do protagonismo!
Juliana Mogrão
Moreira- Psicóloga, doula, ativista e mãe de duas meninas pretas. Mulheres na
Política no 1º Ato da Mulher Negra LatinoAmericana e Caribenha de São José do
Rio Preto.