Produção consegue ter clichês mal executados adicionados a um roteiro preguiçoso
Em minha última crítica citei como
é perigoso para a Marvel desfrutar de uma única fórmula, já que esta talvez
traga a sensação de repetição para o espectador. Em ‘Viúva Negra’ percebe-se o
quão desagradável pode se tornar este padrão quando mal planejado e executado.
É interessante notar que o filme tem boas idéias, mas que as mesmas são
desperdiçadas pelas limitações impostas pelo estúdio. Além de estragar a
despedida da talentosíssima Scarlett Johansson.
Dentre os vários defeitos que esta
produção possui, vou começar então pelas qualidades, que são minúsculas se
comparadas ao seu oposto – e não pense que estou feliz em dizer isso, duas
horas de nossas vidas valem muito.
Dirigido por Cate Shortland, o
longa dispõe de uma ação até que interessante. Apesar da diretora apelar para
cortes rápidos tentando evitar os movimentos, a atitude não confunde e até
empolga o espectador. Todavia, a câmera lenta é completamente ridícula,
utilizada apenas para focar determinado movimento que não faz diferença alguma
para a coreografia ou até mesmo narrativa – alô, Zack Snyder, dá uma ajudinha
pra Cate.
Além disso, fico extremamente
fascinado de como um ser humano pode suportar tanta pancada, queda e ferimento
sem ao menos quebrar um osso. E o argumento de que é um filme de ficção se
invalida quando a proposta do mesmo se trata de uma agente humana que não
sofreu qualquer tipo de alteração muscular, psicológica ou qualquer outra coisa.
Como de costume a Marvel oferece
humor em seus filmes. Obviamente que não há nada de errado nisto, o problema
está quando este elemento se torna anticlimático para a cena, tirando todo peso
sentimental que a mesma proporciona. Dentre os inúmeros momentos o que mais me
irritou foi na cena pós-créditos, que com sua melancólica trilha e peso
dramático me fez, por um breve período, emocionar, até que surge a maldita
piada que consegue estragar tudo.
Ainda mais, o anticlímax não se
estabelece apenas no humor como também na edição e trilha sonora. Em pelo menos
uns três momentos Shortland traz tensão, mas corta imediatamente para uma
música descontraída e animada, e minutos depois retorna para a tensão que antes
tinha sido proposta – refiro-me necessariamente a uma das primeiras cenas. Esta
fajuta confusão rítmica desconecta o espectador da imersão artística do filme.
Mas calma que ainda tem mais. A
estrutura narrativa de ‘Viúva Negra’ se baseia em um clássico ‘sessão da tarde’
que costumava ver aos 12 anos. O que significa que é brega e clichê. Ao tentar
funcionar de forma independente e paralelamente parte de um mesmo universo, a
produção se confunde e acaba cometendo gafes – sério mesmo que os Vingadores ou
até mesmo a SHIELD nunca perceberam uma nave gigantesca no céu? Além do mais,
os picos do roteiro se apegam a clichês toscos que passam longe de qualquer
tipo de desenvolvimento convincente – famosa preguiça.
Porém, todavia, entretanto. Devo
destacar dois personagens que funcionam necessariamente pelos seus carismas: Viúva
Negra de Florence Pugh e o Guardião Vermelho (David Harbour). Pugh é debochada
e irônica na dose certa, havendo momentos únicos que favorecem seu
desenvolvimento e empatia com o espectador. Enquanto Guardião Vermelho é o
clássico alívio cômico que funciona, já que seu personagem é de fato uma piada
para todos, tanto no filme quanto fora.
Em resumo, confesso estar aliviado
e mais calmo depois da crítica. Afinal, foram duas dolorosas horas assistindo
ao filme. Nada melhor do que escrever para desestressar.
O longa já está disponível na
Disney Plus – lançou justamente no dia do meu aniversário (25/08), devo
agradecer a Disney pelo presente ou processá-la?
Nota: 2/5 (REGULAR)