Atrações irão ocupar São José do Rio Preto com 65 apresentações em dez dias de festival. Espetáculos de 10 estados do Brasil e participação de países como Chile, Colômbia, Peru, Espanha e Holanda, além de coprodução com Itália marcam retomada. Serão 394 artistas e seus produtores técnicos envolvidos
De 21 a
30 de julho, o Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto (FIT
Rio Preto) retorna à cena cultural com uma programação pulsante e pautada
por temas em diálogo com as questões da atualidade. Um dos mais importantes
espaços de difusão e reflexão das artes cênicas no País, o festival contemplará
31 obras, sendo cinco internacionais, de gêneros e estéticas diversas, que irão
ocupar 20 locais da cidade, entre palcos, ruas e espaços alternativos,
totalizando 65 apresentações em 10 dias. O evento oferecerá 17 ações formativas
e reflexivas e um ponto de encontro, o Graneleiro, com 34 intervenções
artísticas, shows e performances.
Realizado pela Prefeitura Municipal de São José do
Rio Preto e pelo Sesc São Paulo, o FIT Rio Preto chega, em 2022, aos 53 anos de
história e 20 anos de edição internacional, retornando à ativa após uma lacuna
de dois anos sem edições por conta da pandemia da covid-19. O festival volta à
cena com o propósito de marcar a retomada dos grandes eventos culturais,
demonstrando a importância da arte e cultura especialmente em tempos difíceis,
como de uma crise sanitária e humanitária.
Abertura
A abertura acontece no dia 21 de julho,
quinta-feira, às 20 horas, no Anfiteatro Nelson Castro (Parque da Represa-Lago
I), com o espetáculo Jacksons do Pandeiro, da companhia Barca dos Corações
Partidos, do Rio de Janeiro/RJ. No palco, uma homenagem ao cantor, compositor e
multi-instrumentista paraibano Jackson do Pandeiro (1919-1982), que recebeu a
alcunha de "Rei do Ritmo” por suas mais de 400 canções recheadas de gêneros
como samba, forró, coco, baião e frevo. Vencedora do prêmio APTR (Associação
dos Produtores de Teatro), a montagem tem direção de Duda Maia, texto de
Braulio Tavares e Eduardo Rios e direção musical de Alfredo Del-Penho e Beto Lemos.
Edição 2022
"Símbolo de resistência e campo fértil para o
pensamento crítico, o Festival Internacional de Teatro (FIT) de São José do Rio
Preto está de volta numa edição particularmente especial. Após dois anos de
pausa em razão da pandemia, o FIT chega em meio ao nosso respeito e
solidariedade às famílias dos que partiram, e à celebração da vida dos que aqui
permanecem. Ao receber o FIT 2022, a Rio Preto de vocação progressista cumpre
seu papel com a convicção de que o fazer artístico, definitivamente, transforma
para melhor a sociedade”, considera o prefeito de São José do Rio Preto.
Para Danilo Santos de Miranda, diretor regional do
Sesc São Paulo, "a pujança desse retorno se expressa na combinação de
espetáculos, encontros e atividades formativas protagonizados por grupos e
companhias teatrais oriundos de quatro regiões do país (Norte, Nordeste,
Sudeste e Sul) e de diferentes países de língua hispânica, bem como por agentes
da cena rio-pretense. Para o Sesc, promover essa forma de reunião corresponde a
contribuir com a construção de leituras cênicas da realidade, em chave plural,
hábeis em lidar com seus impasses”.
A curadoria, formada por Adriana Macedo,
integrante da equipe da Gerência de Ação Cultural do Sesc São Paulo; Kil Abreu,
jornalista e crítico teatral; e a atriz e diretora teatral Quitéria Kelly,
escolheu entre mais de 800 trabalhos que, de maneira recorrente, manifestam o
interesse de criadores por traduções diversas da realidade viva, nos palcos e
nas ruas, o que se reflete na programação.
Espetáculos
Os espetáculos selecionados e convidados vão desde
encenações realistas às experimentações de linguagem, passando pela
performance, a alegoria cênica, o humor, o drama, a tragédia e os gêneros que,
híbridos, dão conta de ler sobre o tablado um real que também está em pleno
trânsito. São obras de 10 estados – São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais,
Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Pará, Amazonas e Rio Grande do
Sul – e do Chile, Colômbia e Espanha, além de uma coprodução Brasil e Itália, e
uma leitura dramática de um texto holandês.
Destaca-se a presença da cena preta, com obras que
sinalizam a vitalidade sobre o tema, suas questões e impasses. O coletivo
paulistano O Bonde trata do drama de crianças africanas refugiadas em Quando eu
morrer, vou contar tudo a Deus, que parte de uma história real de um menino
encontrado dentro de uma mala ao tentar entrar no continente europeu.
Protagonizado por Hilton Cobra, fundador da Cia dos Comuns (RJ), Traga-me a cabeça
de Lima Barreto! mergulha na vida e obra do autor carioca para discutir o
racismo e a eugenia no Brasil. Montagem do Quintal das Artes (RJ), Luiza Mahin…
Eu ainda continuo aqui evoca a figura vida da personagem-título, mãe do
advogado abolicionista e jornalista Luiz Gama (1830-1882), para denunciar o
genocídio da juventude negra a partir de relatos verídicos de mães de vítimas
de violência policial.
Foto : João Caldas - Espetáculo "Neste Mundo Louco"
Temas como a existência trans, a homofobia, a
mulher e o direito ao corpo, seja por meio de cenas carregadas de poesia ou
movidas pelo enfrentamento direto, também se fazem presentes em espetáculos
como Manifesto Transpofágico, em que Renata Carvalho (SP) questiona como as
pessoas enxergam o corpo travesti, e Neste mundo louco, nesta noite brilhante,
do Grupo 3 de Teatro (SP), texto de Silvia Gomez, com Débora Falabella e Yara
de Novaes no elenco, um desabafo acerca da violência contra a mulher no Brasil.
Já 3 Maneiras de Tocar no Assunto, texto e atuação de Leonardo Netto (RJ) sob
direção de Fabiano de Freitas, aborda diferentes aspectos relacionados à
homofobia.
Latinidades
O público poderá ver montagens mais frontalmente
sócio-políticas, com destaque para a cena latino-americana, em reflexões a
respeito do passado recente, a exemplo de Camilo, do colombiano Teatro La
Candelaria. A peça revisita a trajetória do padre revolucionário Camilo Torres
Restrepo (1909-1966), pioneiro da Teologia da Libertação, sociólogo, professor
universitário e guerrilheiro. Do Chile, o Colectivo La Patogallina traz sua
mais nova montagem, Fuego Rojo, que faz sua estreia no Brasil dentro da
programação do FIT Rio Preto. A peça é inspirada na trilogia "Memórias do
Fogo”, do escritor uruguaio Eduardo Galeano (1940-2015), obra-prima que se
constitui em um painel poético, histórico, épico e fantástico da América Latina
pré-colombiana até os dias de hoje.
Tecnologia
Performance, corpo e tecnologia em jogos
estimulantes de interação e linguagem surgem em trabalhos como Corpomáquina, da
Robo.Art (São José do Rio Preto), espetáculo intermídia protagonizado pelo
bailarino Vinícius Francês, e Sinapse Darwin, do grupo Casa de Zoé, de Natal
(RN), encenado em uma estrutura autônoma de luz, som e palco para falar da
trajetória de Charles Robert Darwin (1809-1882). Já Insônia – Titus Macbeth, do
Estúdio Lusco-Fusco (SP), é uma instalação imersiva onde público pode se
deslocar livremente, com dramaturgia de Sérgio Roveri e André Guerreiro Lopes,
com Helena Ignez e Djin Sganzerla no elenco.
Regionalismos
O festival imprime ainda representatividade regional
por meio de importantes trabalhos de quatro regiões brasileiras, oferecendo um
painel rico em formas, temas, questões e origens. Refletindo sobre o que é ser
um emigrante no mundo, o recifense Grupo Magiluth apresenta Estudo n°1: Morte e
Vida, a partir do poema dramático "Morte e Vida Severina”, do também
pernambucano João Cabral de Melo (1920-1999). De Belém (PA), Solo de Marajó, da
Usina Contemporânea de Teatro, atuado por Claudio Barros, versa sobre o modo de
vida do povo ribeirinho da Amazônia. Enquanto a gaúcha Cia de Teatro
In.co.mo.de-Te, de Porto Alegre, em Edifício Cristal, traz uma cristaleira
cenográfica com miniaturas, abrigando espetáculos curtos sobre personagens
vivendo em quarentena.
Como nas edições anteriores, o festival leva sua
programação a espaços não-convencionais. Além de atrações no Anfiteatro Nelson
Castro, Teatro Municipal Paulo Moura, Teatro Municipal Nelson Castro, Casa de
Cultura Dinorath do Valle, Teatro do Sesi, Teatro e Ginásio do Sesc Rio Preto,
também serão ocupados locais públicos de grande circulação como Terminal
Urbano, Shopping HB, Zoológico Municipal, Biblioteca Pública Municipal Dr.
Fernando Costa, Parque Ecológico Dr. Joaquim de Paula Ribeiro, além de algumas
das principais praças da cidade e outros equipamentos descentralizados
geograficamente.
Teatro e cidade
Além dos espetáculos, as atividades formativas
também são destaque no FIT Rio Preto, proporcionando a expansão das realizações
no palco ou na rua como cena. A proposta da programação é promover a multiplicação
das relações do teatro com a cidade, a partir de diferentes espaços de
reflexão, construídos com base na premissa da fuga dos olhares estabelecidos, a
fim de se reivindicar um pensar que critica e desconstrói verdades absolutas.
A curadoria, composta por André Carreira,
pesquisador e diretor teatral, e Jé Oliveira, ator, diretor e dramaturgo,
desenvolveu para o FIT Rio Preto ações divididas em encontros, mesas, rodas de
conversa e intercâmbios, realizados em diferentes locais, pretendendo estabelecer
diálogos e aproximações. Uma tentativa de questionar a centralidade de ideias
que têm regido o pensamento sobre o teatro, tanto do ponto de vista técnico
como ético e político.
Graneleiro
O Graneleiro, como já é tradição, será o ponto de
encontro nas noites do festival, onde artistas e público poderão trocar ideias
e acompanhar atrações de diferentes linguagens artísticas, em clima de
celebração da vida e da diversidade após dois anos de distanciamento social.
Serão sete noites de programação, envolvendo 34
atrações artísticas, entre projetos audiovisuais, performances, shows e
apresentações de DJs e VJs, além de também servir de palco para espetáculos da
programação do festival. Nesta edição, a curadoria do espaço ficou a cargo do
ator, diretor e produtor Cesar Augusto, da Cia. dos Atores, do Rio de Janeiro
(RJ).
Nesta edição, as performances são um dos pontos
altos da programação no espaço. São trabalhos como Bola de fogo, solo de Fábio
Osório Monteiro (Salvador/BA); Manifesto de uma mulher de teatro, atuado por
Tânia Farias (Tribo de Atuadores Oi Nóis Aqui Traveiz, Porto Alegre/RS);
Eunucos, com Irmãs Brasil (RJ); além da performance-dança Looping: Bahia
overdub, da 7Oito Produções (Salvador/BA).
Entre os shows, a vencedora do Grammy Latino na
categoria Pop Brasileiro Contemporâneo Tulipa Ruiz (SP) revisitará sua carreira
acompanhada do power trio Pipoco das Galáxias.
Localizado dentro do Complexo Swift de Educação e
Cultura, o Graneleiro é um dos patrimônios históricos da cidade. Com
arquitetura inglesa, serviu como silo nas décadas de 1940 e 50.
Retomada SP
A programação do Graneleiro, no FIT Rio Preto
2022, está sendo viabilizada por meio do Edital Retomada SP 2022, lançado pelo
Programa Juntos Pela Cultura, da Secretaria de Estado da Cultura e Economia
Criativa, do Governo de São Paulo, do qual o projeto foi vencedor.
O Retomada SP é um programa de apoio à realização
de novas edições de festivais, em formato presencial, com mais de cinco edições
já realizadas nas áreas de artes cênicas, música, literatura, artes visuais,
audiovisual, segmentos da economia criativa e cultura popular e tradicional. O
projeto foi inscrito pela Secretaria Municipal de Cultura de Rio Preto.
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