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Mário Lúcio e frei Bruno pertenciam a Fraternidade São Francisco de Assis, de Jaci, e morreram vítimas da Covid-19
Foto por: Arquivo pessoal
Mário Lúcio e frei Bruno pertenciam a Fraternidade São Francisco de Assis, de Jaci, e morreram vítimas da Covid-19

"A felicidade do outro era o combustível deles”, diz frade sobre franciscanos mortos pela Covid-19

Por: Karol Granchi
28/05/2020 às 15:36
Saúde

Frade que foi curado após ter Covid-19 falou ao DLNews sobre os sonhos dos amigos Frei Bruno e Mário, da Associação e Fraternidade São Francisco de Assis na Providência de Deus, de Jaci, que tiveram suas vidas interrompidas pela doença


Em março deste ano, aos 54 anos de idade, Mário Lúcio da Rocha Andrade tomou uma decisão e deu um passo importante em sua vida: ingressou no postulantado da Fraternidade São Francisco de Assis na Providência de Deus, em Jaci. Lá, ele conheceu o noviço Paulo de Campos Meneses, de 36 anos, que havia recebido o novo nome "Bruno”, dedicado a São Bruno.

Ambos tinham duas coisas em comum - abriram mão da vida convencional, da vaidade, dos bens materiais e do sucesso profissional que tantos almejam para se entregar ao altar de Deus. O objetivo de vida também era o mesmo: o de se realizar na felicidade do próximo.

Mário havia acabado de ingressar na jornada que o tornaria um franciscano da Igreja Católica. Bruno já havia passado por essa fase, era um noviço e estava feliz na missão incansável de amar os mais necessitados. Pouco tempo depois, em maio, os dois tiveram o mesmo destino: as vidas ceifadas pela Covid-19.

"Eles tinham o objetivo de se realizar pessoalmente através da felicidade do outro. Acredito que esse é o combustível para a vida de todo aquele que busca a consagração, era o combustível deles. Eles tinham a realização de se encontrar no sorriso daqueles menos favorecidos, na saúde daquele que não tem medicamento, saciando a fome do faminto, dando de beber a quem tem sede de justiça, de compaixão. Acredito que os dois tinham essa busca muito intensa”, diz frei Eliseu da Silva, de 27 anos, que conviveu com os parceiros na fé.

O franciscano, que também foi infectado e venceu a doença, conta que teve um pouco de participação na formação de Mário e que se recorda dos amigos com dor e saudades.

"Eram pessoas muito especiais que continuam sendo porque estão vivas em nossa memória, em nosso coração e também junto do céu, junto de Deus, orando para cada um de nós que estamos sofrendo aqui com essa pandemia e todo esse caos que se instaurou no mundo”, desabafa.

Paulo, o frei Bruno, morreu no dia 9 de maio, vítima da Covid-19. Frei Bruno ingressou na Fraternidade em 2018. Chegou ao noviciado pedindo a graça de se encontrar, e de nesse encontro, se aprofundar em Deus. Buscava partilhar sua história, rezar sua caminhada, e em muitos momentos dizia: "Eu quero ser de Deus”, sua força e seu desejo o levou a ter renúncias, a tomar decisões e a viver livremente o projeto de Deus para sua vida, com a busca de conhecê-lo cada vez mais. 

Mário Lúcio morreu no dia 25 de maio. Ele era de São Fidelis (RJ) e conheceu a Fraternidade através da internet e também, pela sua participação de um encontro vocacional no Hospital São Francisco de Assis na Providência de Deus no ano de 2019. Dois meses após entrar no postulantado da Fraternidade, teve a vida levada pela Covid.

Recomeço

Frei Eliseu da Silva testou positivo para a Covid-19 e ficou internado no Hospital de Jaci do dia 19 a 22 de maio. Para ele, o momento foi de medo, angústia e tensão, que resultou no amadurecimento e reflexão de valores.

"Quando o resultado do exame saiu, foi um momento de muita dor, de muito desespero. Eu confiei em Deus, intensifiquei minha oração no tempo em que fiquei recluso e que tive que parar as minhas atividades”, conta.

Durante o sofrimento causado pelos sintomas, como dores fortes pelo corpo, falta de ar e cansaço, frei Eliseu se afastou dos demais conviventes da Fraternidade e teve um momento ainda mais íntimo com Deus.

"Foi um momento pra que eu pudesse amadurecer, refletir o valor e o sentido da vida. Dar valor para as coisas pequenas que na correria a gente vai deixando, mas ao mesmo tempo que são pequenas, são importantes. Como praticar mais a leitura, cuidar mais de mim, cuidar mais da saúde, perceber que a gente pode viver intensamente porque não sabemos quanto tempo a gente tem. Eu estava saudável e de repente eu me vi infectado por esse vírus”, recorda-se.

Apesar de ter perdido dois amigos e grandes irmãos na fé, o frade afirma que o sentimento após receber a notícia de cura foi de gratidão a Deus e a todos os profissionais da saúde que estiveram ao lado dele nos momentos de angústia enquanto enfrentava a batalha contra a doença.

"É um sentimento de que mesmo que as dificuldades estejam fortes, intensas, a gente consegue vencer. O sabor da vitória ficou muito forte pra mim. Só não foi mais saboroso porque infelizmente eu acabei perdendo pessoas próximas e a gente acaba não comemorando tanto, mas eu agradeço muito a Deus e a todas as pessoas que me ajudaram, aos profissionais da saúde que não mediram esforços para me animar nos dias em que eu estava mais triste. O que podiam fazer pra cuidar de mim, fizeram. Agradeço aos profissionais de Jaci que cuidaram de mim e do nosso hospital.”

 

Frei Eliseu conseguiu vencer a Covid
Foto por: Arquivo pessoal
Frei Eliseu conseguiu vencer a Covid






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