E a vida segue e nela fazemos mil planos e programações. Há quem planeje com fervor o futuro, desde qual será a sua profissão, a festa de casamento, o nascimento dos filhos, o destino de viagens e assim adiante. Há também quem segue sem muitos planos, apenas vivendo os episódios do dia a dia e os desafios que se apresentam para sobreviver nesse mundo um tanto quanto "adoecido”.
Tirando o fato que, sim, planejar a vida está ligado a
possibilidade e a disponibilidade dos sonhos, expectativas e idealizações, e
assim, torna-se um privilégio; quero refletir que a vida é um grande
espetáculo, onde nem sempre temos o comando central.
Você está lá, seguindo o roteiro que preparou, e de repente, por
exemplo, um tombo, daqueles bem bobos, te coloca em outra perspectiva desse
espetáculo. Uma fratura de tornozelo, uma cirurgia de urgência, uma placa e
nove parafusos, em plena segunda feira a noite em uma rua qualquer. Já pensou sobre
essa possibilidade? Perguntas simples pipocam pela mente: Quem vai cuidar de
mim? Quem vai cuidar da casa, dos animais domésticos, das crianças? Como vou
trabalhar? Atividades da vida diária, como um simples banho ou se deslocar para
buscar água para beber, tornam-se um grande evento e é nesse momento que é
preciso acionar a rede de apoio.
Apoio é sobre "sustentar algo”. Podemos definir redes de apoio
como vínculos e laços de confiança que se formam entre determinados grupos e
espaços e que impactam diretamente nossa vida. De imediato, podemos pensar que
essas redes estejam ligadas aos componentes familiares e amigos próximos, mas
instituições formais, sejam elas do Estado ou da Sociedade Civil, também podem
e devem ser redes de apoio. Rede de apoio é mecanismo de proteção.
Quando estudamos, na saúde coletiva, o modelo que explica como as
interações entre os diferentes níveis de condições sociais produzem
desigualdade em saúde (Determinantes Sociais de Saúde, de Dahlgren e
Whitehead), um dos níveis desse modelo, demonstra exatamente a influência
dessas redes, constituindo um elemento fundamental para a saúde da sociedade,
ou seja, essas redes potencializam ou não o nosso processo saúde/doença.
Para além do caso que citei acima, do acidente doméstico que colocou
uma pessoa jovem e ativa, em dependência, mesmo que momentânea, de um grupo de
pessoas para apoiá-la nas suas atividades diárias, todos os dias, muitas de nós
dependemos dessa rede de apoio para as ações do nosso cotidiano, como levar ou
buscar filhos na escola, um vizinho que apoia no cuidado de um outro vizinho
sozinho, uma amiga ou amigo que te escuta quando você já está na exaustão, um
parente que te ajuda nos cuidados da casa, alguém que se prontifica a buscar os
medicamentos na Unidade de Saúde e milhões de outros pequenos e grandes
exemplos diários.
A conexão que quero trazer para a discussão nesse ato de
fortalecimento da luta pelos direitos das mulheres é exatamente pensar sobre as
nossas redes de apoio. Olhe ao seu redor e identifique quem são as pessoas que
você pode contar no seu dia a dia para a execução dos seus diversos papeis que
o compõe na sociedade. Quem são essas pessoas na sua maioria? Homens ou
mulheres? Agora olhe para você e reconheça, você também é parte da rede de
apoio de alguém
É importante sabermos que construímos nossas redes ao longo da
vida. Nossos vínculos, afetos e relações são e serão a base de redes mais ou
menos solidas. Finalizo lhe perguntando, e você, como tem se comunicado,
construído e cuidado da sua rede de apoio?
Prof. Dra. Amena Alcantara Ferraz – Servidora Pública Municipal,
Docente Unilago, membra dos Coletivos Feministas Mulheres na Política, Mulheres
do Brasil e Rita Lobato.