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 Jornalista e servidora pública. Foi conselheira do Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres de Rio Preto de 2019 a 2021 e é ativista neste segmento
Foto por: Arquivo Pessoal
Jornalista e servidora pública. Foi conselheira do Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres de Rio Preto de 2019 a 2021 e é ativista neste segmento

Engraçadinhos

Por: Redação
08/03/2022 às 08:09
Artigos

O dia era da Consciência Negra e o jornal local trazia como destaque mulheres negras que fazem a diferença em suas profissões. Para ilustrar, uma foto de página inteira em que se via a imagem de duas profissionais qualificadas.


Eu estava sentada na mesa ao lado, quando, em meio a risos e gracejos, o colega de trabalho compartilhou com outros ali comentários e insinuações sobre a aparência das profissionais.

Eu tinha repertório de sobra para convidar aqueles homens à reflexão, mas na hora não consegui dizer nada. O máximo que deu foi levantar e ir até o banheiro chorar de raiva por mais um episódio ‘banal’ na vida das mulheres – brasileiras, pelo menos.

Aquele fato me levou ao limite do suportar essas cotidianas inconveniências; ou melhor, violências.

Homem que conversa olhando para o decote da mulher (independentemente do tipo de roupa). Homem que acha que tudo bem enlaçar a cintura da colega de trabalho. Homem que não deixa passar uma mulher sem medi-la com os olhos, da cabeça aos pés, mas sobretudo no quadril. Homem que para além do abraço consentido adora tirar uma casquinha da abraçada.

Penso no alvo das ações, mas penso também nas mulheres que fazem parte da vida desses homens: esposas, filhas, mães... Eles esquecem que elas também sofrem? Ignoram aquela máxima, ‘não faça aos outros o que não quer que façam a você’.

Não há um dia sem que eu veja e/ou passe por coisas desse e outros tipos. Inclusive nos ambientes profissionais. Se em qualquer espaço essas posturas masculinas são ofensivas e ultrapassadas, no de trabalho elas são reprováveis e inadmissíveis.

É absurdo que em pleno século 21, com todo conhecimento disponível, mulheres continuem sendo tratadas como objetos expostos na vitrine, seres inanimados disponíveis ao bel prazer masculino.

Se passamos tanto tempo de nossas vidas no trabalho, é nele também que precisamos enfrentar nossas mazelas culturais. O ambiente corporativo está na sociedade e é responsável pela segurança e respeito às mulheres, nem que seja lidando com a questão pela força da carreira e o peso das finanças.

Pense comigo: se mulheres são constantemente constrangidas pelo que alguns entendem como masculinidade, elas serão respeitadas e consideradas para postos de liderança e chefia? Tão pouco! Não é só por isso que mulheres crescem menos na carreira, mas é também por isso. Calar e consentir com comportamentos machistas afeta da base ao topo e prejudica toda a dinâmica das relações profissionais.

Os espaços precisam ser seguros e respeitosos para todos, especialmente para os corpos que historicamente se encontram em desvantagem.

Alguém pode dizer que as ‘gracinhas masculinas’ são elogio. Besteira pura! Quem quer elogiar sabe como fazê-lo de forma respeitosa e agradável, sem invadir ou diminuir a outra pessoa. Bons modos nunca impediram ninguém de demonstrar encanto, legítimo interesse afetivo e até sexual.

Neste março das mulheres eu poderia rogar pragas contra olhos, línguas e mãos de homens que desqualificam essa categoria, mas só desejo mesmo que tenham educação e exijo respeito.

Meninas, lembrem-se: quem deve sentir vergonha são eles, não nós.

Marcella Moreira, @marcella2m, jornalista e servidora pública. Foi conselheira do Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres de Rio Preto de 2019 a 2021 e é ativista neste segmento







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