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Atriz e Arte educadora, Psicóloga de formação, integra o coletivo feminista Elas por Elas, Conselho Afro Municipal e Conselho Municipal de Políticas Culturais na cadeira de Cultura Negra e Indígena.
Foto por: Arquivo Pessoal
Atriz e Arte educadora, Psicóloga de formação, integra o coletivo feminista Elas por Elas, Conselho Afro Municipal e Conselho Municipal de Políticas Culturais na cadeira de Cultura Negra e Indígena.

A Matemática do feminino

Por: Beta Cunha
07/03/2022 às 23:00
Artigos

Ser mulher, preta, periférica, artista e obesa nesse nosso mundo, já é um ato de resistência desde que nascemos e me faz reconhecer como a Matemática – como uma ciência que estuda quantidades, medidas, espaços, estruturas e variações - para o feminino nunca foi uma ciência exata – no sentido de precisão e ausência de erros.


Toda vez que sou convocada, até mesmo pela minha própria consciência, a falar ou refletir sobre a condição de ser mulher no século XXI é um momento em que um turbilhão de sentimentos, memórias, lágrimas e decisões tomam conta de mim e a Matemática, com seus números, vem junto.

Certificar que há apenas 200 anos usamos o termo abolição, que somente há 90 anos podemos votar e exercermos mandatos políticos, que há apenas 16 anos existe uma lei que é destinada a prevenir e coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, e que nesse mesmo país somente há 228 anos uma atriz pisou num palco teatral pela primeira vez, faz me sentir que a Matemática feminina nunca será exata.

São números muito defasados da nossa realidade feminina. Pois se somos quem gera, cria e quem na maioria das épocas sempre foi o esteio de um clã, mesmo que não institucionalizadas, esses números não correspondem à realidade de vida e soberania feminina. São séculos e séculos de uma atuação, na qual somos fadadas ao anonimato e ou à inexistência aos olhos do Patriarcado, para que sejamos reconhecidas em lugares e postos que de certa forma sempre fomos as mentoras e/ou os esteios.

Sim, sempre fomos desbravadoras de nossos espaços como Dandara dos Palmares, esposa de Zumbi dos Palmares, que liderou homens e mulheres e ajudou a proteger seu povo contra constantes ataques. Falo também de Maria Benedita de Queirós Montenegro, a primeira atriz profissional de Porto Alegre de que temos registro como uma das primeiras do Brasil ou Antonieta de Barros, a primeira mulher negra a ser eleita no país, que instituiu o marco para que os educadores passassem a ser vistos como importantes agentes de mudanças na sociedade.

Cito ainda Carolina de Jesus, Dona Ivone Lara, Conceição Evaristo, Marielle Franco, Benedita da Silva e citaria tantas outras mais que lutaram e lutam para que nossa existência faça sentido. Para que a soma seja de uma equidade perfeita. Para que o respeito esteja contido nos conjuntos de elementos diferentes. Para que a divisão não tenha resto e que a dízima periódica - um resultado inexato repetitivo e infinito-, não seja a representação de nossa condição feminina. A Matemática é um substantivo feminino e esses números hão de mudar. 

 

Beta Cunha, Atriz e Arte educadora, Psicóloga de formação, integra o coletivo feminista Elas por Elas, Conselho Afro Municipal e Conselho Municipal de Políticas Culturais na cadeira de Cultura Negra e Indígena. 







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