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Acadêmica de administração, PROUNIsta e pesquisadora, militante dos movimentos sociais de raça, classe e gênero, conselheira no CMA - Conselho Municipal
Foto por: Arquivo Pessoal
Acadêmica de administração, PROUNIsta e pesquisadora, militante dos movimentos sociais de raça, classe e gênero, conselheira no CMA - Conselho Municipal

Dororidade

Por: Ariane Santos
07/03/2022 às 23:00
Artigos

Quando pensamos na nossa construção como sociedade, percebemos que muito do que vivemos hoje é resultado do nosso passado, parte dessa herança são as nossas dores, assunto muito discutido pela escritora Vilma Piedade em seu livro Dororidade,


 

Vilma Piedade é uma mulher preta, brasileira e do axé, natural do Rio de Janeiro, escritora e professora de língua portuguesa e de religiosidade de matriz africana, uma referência viva do feminismo negro no meio teórico e acadêmico, ela cunhou o conceito dororidade, e é a partir desta perspectiva que gostaria de desenvolver esse artigo.

 

Você certamente já ouviu falar em sororidade, que é a empatia entre mulheres, dororidade parte do mesmo princípio, é um termo usado para explicar a dor ancestral, a dor que compartilhamos enquanto mulheres negras, e que de certa forma nos une de maneira empática. Muitas são as nossas dores em comum, mulheres negras vivenciam a vida toda a rejeição, na infância e adolescência nossos traços são criticados, nossos cabelos, narizes e peles são vistos como indesejáveis e errados, sendo convencidas muitas vezes a odiar o próprio corpo e aparência, muitas acabam se mutilando, alisando o próprio cabelo com procedimentos que muitas vezes agridem o couro cabeludo de maneiras irreversíveis, colocando o desejo de se ajustar acima do próprio bem estar, quando adultas sofremos com a objetificação dos nossos corpos, somos hipersexualizadas, e acabamos nos submetendo a relações abusivas pois parece uma alternativa melhor do que toda a rejeição que experimentamos a vida toda.

 

Outra situação comum entre mulheres negras é a síndrome da impostora, que é um padrão de comportamento onde o indivíduo duvida das próprias habilidades e capacidades, independente do quanto tenha se preparado, um sentimento constante de inadequação, insegurança e não pertencimento, que nos impede de avançar. Como mulheres negras somos atravessadas por essas dores cotidianamente, e o principal resultado disso é o enfraquecimento da nossa identidade e da nossa auto estima, vivemos em um ambiente que constantemente nos faz sentir que não somos suficientes, e se quisermos ser minimamente notados temos que ser duas vezes melhor em tudo que fazemos, esse entendimento além de nos adoecer nos desumaniza.

 

Lidamos com a essa carga emocional diariamente, em nossa vida profissional, pessoal e acadêmica, principalmente em ambientes muito embranquecidos, onde estamos cercados por pessoas que não entendem essa dinâmica social em que vivemos, e essa experiência pode ser muito solitária e reforçar todas as ideias dessa síndrome, o que resulta numa vida de cobrança e de auto sabotagem, deixarmos de aceitar o reconhecimento que merecemos por nossos trabalhos, também pode resultar em sentimento de culpa e frustração. 

 

Esse ciclo que atravessa nossa subjetividade nos mantém presas e impede o nosso progresso pessoal, por isso é necessário reconhecer e lidar com essa carga de maneira que ela não nos domine, esse entendimento é ferramenta indispensável para compreender, respeitar e celebrar a nossa trajetória. Nossa construção diária é feita com muita luta, precisamos ser capazes de reconhecer nossa potência. Se nossa dor parte do coletivo, nossa cura também. 

 

Ariane Santos, acadêmica de administração, PROUNIsta e pesquisadora, militante dos movimentos sociais de raça, classe e gênero, conselheira no CMA - Conselho Municipal 







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