A figura de inferioridade da mulher provém do início da civilização e mesmo em povos ditos mais civilizados da antiguidade, nos jogos de interesse e poder, a mulher era considerada um ser inferior aos homens, por isso era excluída das decisões políticas e sociais
Assim, a mulher era, e ainda é, em muitos aspectos, menosprezada,
pois essa visão medíocre, ignorante e de prepotência do homem continua até os
dias atuais, reforçando o conceito de inferioridade perpétua, que acarreta em
atitudes violentas e até mesmo a morte.
Antigamente de forma mais explicita e hoje de forma um pouco mais
velada a depender do grupo sócial, as mulheres eram educadas para dedicar-se
aos maridos, e ficarem subordinadas às suas vontades.
Toda ideia de supremacia
masculina foi passada de geração em geração, e continua até os dias atuais.
Apesar de a mulher ter conquistado muitos direitos, ainda existem homens que a
veem como uma propriedade. Nesse sentido, o casamento, hoje entendido ou pelo
menos buscado como espaço de relacionamento afetivo, já foi explicitamente
considerado um contrato com o objetivo de organizar posses e propriedades – o
que incluía a mulher em acordo com sua família – e a geração de descendentes e
herdeiros.
Grande parte dos feminicídios são decorrentes de relacionamentos
nos quais os homens têm um sentimento de posse sobre as mulheres. Parte da
sociedade, desde os primórdios, mantém a visão da mulher como uma propriedade
masculina, um objeto do qual se pode utilizar do jeito que convém.
O feminicídio não ocorre de uma hora para outra, é precedido por
violências que podem ser psicológicas, verbais, físicas, sexuais, simbólicas ou
patrimoniais. Como habitualmente ainda ensinamos as mulheres a manterem o
silêncio, esse ciclo de violência pode resultar na morte, mas algumas mulheres
conseguem se dar conta do relacionamento abusivo, e resolvem terminar o
relacionamento, o que leva parte dos homens a não aceitar essa decisão, por
vê-las como propriedade e o extremo dessa não aceitação pode chegar a
morte.
É preciso avançar na prevenção desses crimes, e o primeiro ponto
precisa ser o reconhecimento, por parte de todos, de que vivemos em uma
sociedade patriarcal, e que o machismo é estrutural e faz mal para todos. Nossa
forma de pensar se dá a partir de estereótipos de gênero que devem ser eliminados.
Vale lembrar que o patriarcado está impregnado em nosso meio de
forma tão arraigada que às vezes nem percebemos. Também é necessário reconhecer
que é essa sociedade machista que coloca as mulheres como vulneráveis e
sujeitas a todo tipo de violência, tanto em casa, como na rua ou nos ambientes
de trabalho.
É preciso denunciarmos o machismo em nossas relações, tendo
presente, além do recorte de gênero, o recorte de raça e de classe, para dar
visibilidade ao conflito existente, mostrar a assimetria de poder que existe
nas relações, e assim mudar a realidade, sempre com base em três principais
eixos, a proteção das mulheres, a educação das crianças e o estímulo à reflexão
nos homens. Nesse sentido, a frase "até
que a morte os separe”,- outrora comumente usada nos casamentos – deve ser a
síntese dos votos e do esforço de construção de um amor duradouro e respeitoso
e não a ameaça de que o que um dia possa ter sido amor, se transforme em uma
relação abusiva e termine em um feminicídio.