Minha mãe perdeu sua mãe muito cedo, aos doze anos de idade ela viu a mãe falecer e se viu sozinha, precisou de ajuda de familiares para conseguir seguir em frente.
Alguns elos da corrente familiar a mantiveram firme. Algumas redes a sustentaram. Meu avô refez a
vida em um novo casamento e aos quinze anos minha mãe precisou tomar conta da
própria vida praticamente sem ninguém.
Por ter este histórico, minha mãe lutava todos os dias para que eu
tivesse um futuro diferente. Ela sempre
teve muito medo de partir cedo e me deixar, por isso ela me incentivou a buscar
uma vida independente, a seguir o caminho dos estudos para ter uma profissão.
Ela, que nunca teve a oportunidade de estudar e tampouco foi incentivada por
alguém, entendia – e nos nosso forte elo de relacionamento me ajudou a entender
- que para uma pessoa com poucos recursos financeiros, o estudo era o único
caminho para ter uma vida independente.
Na graduação resolvi fazer Secretariado Executivo. A Universidade
mudou a minha vida e o meu modo de pensar, me abriu para um mundo de
possibilidades. Minha rede se ampliou. Novos elos de novas correntes foram
criados nesse período.
Nem tudo foram flores. Como mulher negra em uma Universidade
pública no final da década de 90 enfrentei muitos percalços, enfrentei
dificuldades financeiras típicas de estudantes acrescidas de preconceitos
velados e disfarçados de processo seletivo em entrevistas de emprego e estágio.
Mas foi na Universidade pública que eu me encontrei como profissional, foram os
estágios que eu realizei dentro da Universidade que me levaram a querer – e
conseguir - um dia trabalhar dentro do sistema administrativo universitário.
Trabalhar com o que eu acredito me faz feliz, saber que o meu trabalho colabora
para que a Universidade tenha condições de organizar procedimentos e mecanismos
de suporte para pesquisa, ensino e extensão de qualidade, produzidos por
docentes e pesquisadores me dá muita satisfação. Na corrente de produção do
conhecimento cientifico, eu sou um elo também.
Toda a experiência que tenho no meu trabalho eu procuro repassar
para os meus filhos. Como mulher, mãe de dois filhos homens, entendo que é o
meu dever mostrar para os meus filhos o meu exemplo, repassar para eles a minha
história, as alegrias e os percalços pessoais e profissionais que eu enfrentei
e ainda enfrento. Construo junto com eles e a partir deles novas redes de
compreensão do mundo. Entendo que a educação de meninos no século XXI requer um
direcionamento de igualdade de gênero, pois esta geração será responsável pela
manutenção e avanço das conquistas feministas nas últimas décadas, daí a
importância de que os futuros homens estejam totalmente preparados para um
cenário de reconhecimento de competência e respeito às mulheres em todas as
áreas. A rede de apoio às mulheres e de combate ao machismo tem que ser
composta por homens também.
Amo a minha família, amo o meu trabalho e entendo que todo dia eu
saio para lutar e cumprir objetivos. Estamos todos os dias em um malabarismo e
eu só consigo me equilibrar porque tenho outras mulheres me segurando. Nunca
estamos sozinhas, aquelas que vieram antes, nos trouxeram até aqui, e eu não
posso parar porque outras mulheres estão chegando depois de mim e, nesse
sentido, somos e precisamos continuar sendo correntes e redes, sempre em
frente, sempre articuladas, sempre juntas.