Esse é nosso jeito de comemorar e simultaneamente lutar no dia 08 de março.
Um texto por hora durante todo o Dia Internacional da Mulher - 24
horas – 24 mulheres. Em uma parceria com o DLNews, junto com os coletivos
femininos e feministas da cidade, organizado pelo coletivo Mulheres na Política
e com o apoio do projeto Mulheres no Plural da UNESP, estaremos aqui ampliando
vozes femininas diversas, através de textos diversos, escrito por mulheres
diversas. Esse é nosso jeito de comemorar e simultaneamente lutar no dia 08 de
março. Seria um bom título para este
texto inaugural "Mulheres da hora” ou seria melhor "Hora das Mulheres”? Não
sei. Ter durante todo o nosso dia,
textos escritos por mulheres representa em alguma medida tanto a presença de
mulheres da hora como a possibilidade de estarmos vivendo sob alguns aspectos
uma hora das mulheres.
Na gíria dizer que algo é "da hora” significa que é atual, é
moderno, contemporâneo, está alinhado com seu tempo. E sim, a lista que se
apresenta durante todo esse dia é uma lista que representa mulheres da
hora. Não entenda essa afirmação como
arrogante. Somos da hora porque somos mulheres do nosso tempo, todas nós em
nossas melhores versões possíveis. Mulheres jovens da hora, mulheres maduras da
hora, mulheres negras da hora, mulheres brancas da hora, artistas, estudantes,
professoras, empresárias, funcionárias do serviço público e da iniciativa
privada, mães, não mães, solteiras, casadas, profissionais liberais, donas de
casa, ativistas, voluntárias. E sexualmente falando – não que isso interesse ao
grande público, mas entendendo que queremos marcar espaço também nessas
questões – há aqui mulheres trans e cis, heterossexuais e homossexuais e
certamente aquelas que não querem se enquadrar em nenhuma dessas categorias e não
o fazem. Ser da hora é poder ser no ou do seu tempo. Ser uma mulher do nosso
tempo não é uma tarefa fácil, mas nós temos lutado para isso e contamos com uma
legião de outras que vieram antes de nós, não só construindo nossa identidade,
mas principalmente construindo essa hora que vivemos hoje. Jurema Werneck já
disse que nossos passos vêm de longe e nesse conjunto de textos vocês lerão
vários que fazem referência àquelas que nos antecederam. Se hoje temos podido
caminhar um pouco mais, estamos caminhando por estradas que foram pavimentadas
com suor, lágrimas e sangue de mulheres que o fizeram antes de nós, para que
esta hora pudesse acontecer. Dentre nossos textos falamos também sobre as
mulheres jovens que já estão aqui e as que virão. Nesse sentido, nossos passos
hoje, de maneiras diversas, também têm colaborado para a construção da hora de
amanhã. E que hora é essa? Podemos falar de hora das mulheres?
Falar de hora das mulheres pode dar uma impressão falsa de que já
chegamos no lugar que queremos, e isso não é verdade. Nem chegamos ao lugar que
queremos e nem chegamos todas ao mesmo lugar hoje. Nos textos seguintes,
falamos sobre violência, sobre dor, sobre educação e cada um desses aspectos da
vida das mulheres não se manifesta de forma igual para todas nós. Mulheres
negras, mulheres trabalhadoras, mulheres desempregadas, mulheres que moram na
periferia das cidades, tem vivido suas condições femininas de maneiras muito
diversas a depender de suas condições sociais. Dentre outras diferenças, nossos
salários ainda não são em média equivalentes para as mesmas funções exercidas
por homens, nossa representação em diversos espaços ainda não é equânime, ainda
morremos por sermos mulheres. Falar de
hora das mulheres, talvez não seja adequado porque essa hora talvez não exista,
ela vai existindo, vai se fazendo, como dizia o poeta, quem sabe faz a hora,
não espera acontecer. Talvez estejamos
fazendo nossas horas através de um processo de apropriação, luta e
reorganização constantes da nossa sociedade na busca de condições mais
igualitárias para todos, todas e todes.
Diversos como nós, são também nossos textos. E podemos sim, falar
de veganismo, família, matemática, artes, política, educação porque também já
sabemos que podemos falar de mulheres,
mas podemos e temos condições de falarmos do assunto que desejarmos
também.
Agradecemos ao DLNews a
parceria nessa empreitada de 24 horas –
24 mulheres e esperamos que gostem dos textos, escritos por mãos amadoras,
mas corações e mentes envolvidos com a
luta por um mundo melhor não somente para as mulheres.
Monica Abrantes Galindo. Professora da UNESP em São José do Rio
Preto, membra do Coletivo Mulheres na Politica, Conselheira do Conselho Afro e
coordenadora do NUPE - Nucleo Negro de Pesquisa e Extensão da UNESP e do
Projeto Mulheres no Plural.