Muitas vezes, no nosso dia a dia, quando estamos em uma roda de conversa, falando sobre a nossa defesa e luta pelos direitos iguais entre homens e mulheres, muitos se assustam ou se incomodam...
Muitas vezes, no nosso dia a dia, quando
estamos em uma roda de conversa, falando sobre a nossa defesa e luta pelos
direitos iguais entre homens e mulheres, muitos se assustam ou se incomodam, ou
até mesmo, se revoltam com esse tipo de ideia, dizendo e nos julgando como
mulheres alteradas, chatas, briguentas ou ainda, no jargão machista, mulheres
mal amadas ou pior ainda, mal "comidas”. Achou esse termo pesado para a leitura no
jornal? Então imagine escutar isso todos os dias.
É caro leitor, ser mulher é enfrentar e
gerenciar todos os dias com atitudes violentas; violência física, emocional,
institucional, entre outras.
A obra da escritora feminista francesa Simone
de Beauvoir "O Segundo Sexo”, que desconstruiu a imagem de que a
"hierarquização dos sexos” seria uma questão biológica, mas sim unicamente o
fruto de uma construção social pautada em séculos de regimes patriarcais,
justifica porque muitas vezes, esse julgamento não vem apenas de homens, mas
também de mulheres. Somos produtos da construção social, e pensando assim, só
podemos nos refazer, enquanto sociedade.
E é por isso que à medida que nos entendemos
como seres parte desse mundo e enxergamos as desigualdades existentes nessa
sociedade, defendemos o feminismo, pois ele é um conjunto de movimentos
políticos, sociais, ideológicos e filosóficos que tem como objetivo comum:
DIREITOS EQUANIMES (iguais) e uma vivência humana por meio do empoderamento
feminino, dos direitos das mulheres e da libertação de padrões patriarcais.
Vou trazer para nossa reflexão alguns dados:
1. Em 2019, homens
dedicaram em média 11 horas/semana aos cuidados de pessoas e/ou afazeres
domésticos, enquanto o tempo dedicado pelas mulheres a essas mesmas tarefas foi
de cerca de 21 horas e meia/semana.
Isso
significa que ficamos 10 horas a mais que os homens nessa tarefa. E te
pergunto, por quê? E por favor, não caia na armadilha do discurso superficial
de que "mas lá em casa é diferente, meu marido ajuda em tudo”. Primeiro porque
estou citando resultados de pesquisas nacionais, e devemos lembrar que nossa
casa não reflete todas as casas, nossa "bolha social” não é a mesma para todos;
e Segundo, porque essa história de "ajuda” é exatamente a pegadinha. Não
queremos ajuda, queremos divisão das tarefas. Se ele mora na casa, ele tem
responsabilidade sobre o cuidado dela, sobre a roupa que irá vestir, sobre a
comida que irá comer. Se ele é o pai da criança, tem a responsabilidade do
cuidado, assim como nós. Lhe parece agressivo isso? Agressivo é acharmos que,
por sermos mulheres, isso nos torna mais responsáveis nas obrigações diárias.
2. Em relação
ao que é recebido pelo trabalho, as mulheres brasileiras receberam cerca de
77,7% do rendimento dos homens. Em 2019, o salário médio mensal dos homens no
Brasil foi de R$ 2555, 00 e o das mulheres foi de R$ 1985,00.
Recebemos
menos pela mesma função exercida. Isso é desigualdade de gênero. Isso é
violência.
3. Dados do IBGE mostram que 62,2% dos homens
ocupavam cargos gerenciais, em 2016, contra 37,8% das mulheres. Quanto aos
cargos ministeriais, por exemplo, em dezembro do ano passado, dos 28 cargos de
ministro, apenas dois eram ocupados por mulheres.
Olhe para
sua empresa, seja ela publica ou privada, e observe. Quantas mulheres ocupam os
cargos de liderança, não apenas gerenciais/operacionais, mas cargos
estratégicos, que chamamos comumente de "alto escalão”?
Quando
entramos no mundo político essa diferença fica ainda mais evidente. Olhe as
fotos de eventos políticos, nos palanques. Quantas mulheres estão lá, para além
das esposas ou funcionárias da organização do evento.
4. "Um terço
das mulheres assassinadas no Brasil morrem apenas por ser mulher” e "Brasil
registra um caso de feminicídio a cada 6 horas e meia”. Duas manchetes de
jornais que representam a triste realidade do nosso País.
Morremos por
que somos mulheres? Apanhamos por que somos mulheres? Sofremos por que somos
mulheres? E todos esses dados apresentados aqui, são muito piores quanto olhamos
para o recorte de raça/cor. Mulheres pretas e pardas são mais desconsideradas, prejudicadas
e violentadas. O racismo estrutural é por si só uma violência.
Eu, junto
com muitas mulheres, de várias classes sociais, multipartidárias, aprendemos
com nossas antecessoras, e vamos continuar a luta. Que a revolução (sim,
revolução, porque precisamos de mudanças radicais) possa acontecer todos os
dias, em todos os espaços. Que a revolução possa ser democrática, através do
diálogo, mas resistir é necessário. Sigamos de mãos dadas.
Doutora em Ciências da Saúde. Servidora Pública Municipal. Docente no curso
de Medicina da Unilago. Membra do Coletivo Mulheres na Política e Mulheres do
Brasil. 21 dias, 21 vozes femininas pelo fim da violência contra a mulher.