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Coordenadora responsável Projeto Meninas do bem, membro do coletivo Mulheres na Política e Grupo Mulheres do Brasil Comitê da Igualdade Racial, vice-presidente do Conselho Afro de São José do Rio Preto
Foto por: Arquivo Pessoal
Coordenadora responsável Projeto Meninas do bem, membro do coletivo Mulheres na Política e Grupo Mulheres do Brasil Comitê da Igualdade Racial, vice-presidente do Conselho Afro de São José do Rio Preto

Revisitando o passado

Por: Denise Maria Ferreira
12/12/2021 às 10:11
Artigos

Você provavelmente lembra-se de um filme chamado "De volta para o futuro”, no qual o protagonista entra em um carro que viaja no tempo e encontra-se com seus próprios pais jovens.


Na medida em que ele se relaciona com aqueles que seriam seus pais no futuro, sua própria história e o futuro de todos vai se alterando.

Pensando no passado do nosso país, muitos talvez não conheçam a história com detalhes de Zumbi dos Palmares, mas considerando pelo menos o dia da Consciência Negra, você provavelmente já ouviu falar dele. Talvez também não saiba o significado que sua figura tem assumido na história e na luta do povo brasileiro, como um herói de resistência contra a escravidão e um líder que, junto com outros, ao organizar o Quilombo de Palmares marcou a possibilidade de uma outra organização social possível. E Dandara dos Palmares, você sabe quem foi?

Além de companheira de Zumbi, Dandara foi mãe e lutou com armas pela libertação total das negras e negros no Brasil, e ainda que não tenhamos muitas informações precisas sobre ela, temos a possibilidade que tenha liderado homens e mulheres e que pelo menos em termos do Brasil da época, ela não se encaixava nos padrões de gênero que ainda hoje nos são impostos.  Aliás, essa é mais uma marca do machismo, a nossa história não foi contada nem incluindo as mulheres e muito menos sob nossas perspectivas. Com Dandara não foi diferente. O quilombo de Palmares depois de muito resistir foi destruído. Zumbi foi morto e Dandara suicidou-se, conseguindo jogar-se em um abismo depois de presa, para não retornar à condição de escrava.

A escravidão nos moldes dos tempos de Dandara se acabou, mas outras formas de escravidão se colocam modernamente que vão desde o trabalho explicitamente escravo em áreas rurais ou urbanas até o trabalho precarizado, que ainda que pago, mantém suas bases de péssimas condições de trabalho e ausência de direitos. A invisibilização das mulheres permanece.  As Dandaras modernas continuam liderando seus quilombos e organizando as lutas cotidianas às vezes junto com seus companheiros, às vezes sozinhas.  

O que diria Dandara nos dias de hoje vendo o que estamos vivendo? Talvez diante da lista de problemas que ainda persistem, ela ficaria triste, mas certamente vendo alguns  pontos que avançamos, ela se alegraria. Caminhamos, mas ainda há muito que caminhar.

O esquecimento de Dandara é também uma forma de a violentar. Rememorar seu nome e sua luta, assim como de outras mulheres negras e não negras ocultas em nossa história é também uma forma de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres. Rememorar é reorganizar também nosso futuro.

Não temos, como no filme, uma máquina que nos permita voltar ao passado, mas de maneira simbólica, entretanto igualmente eficiente podemos reescrever nossa história e nosso futuro, revisitando nosso passado e considerando outras personagens importantes que a construíram e foram esquecidas. Salve Dandara de Palmares!


Denise Maria Ferreira

Coordenadora responsável Projeto Meninas do bem, membro do coletivo Mulheres na Política e Grupo Mulheres do Brasil Comitê da Igualdade Racial, vice-presidente do Conselho Afro de São José do Rio Preto. 21 dias, 21 vozes femininas pelo fim da violência contra a mulher.

 







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