Mulher substantivo feminino, "Ser humano do sexo feminino ou do gênero feminino, dotado de inteligência e de linguagem articulada, bípede, bímano, classificado como mamífero da família dos primatas, com a característica da posição ereta e de considerável dimensão e peso do crânio”.
Essa é a definição do dicionário, mas sabemos na verdade que ser mulher
é mais do que isso. Apesar de estarmos em dias de reflexão sobre a violência
que assola milhares de brasileiras, hoje eu não quero falar de dor. Não por
desconsiderar sua existência, seus números alarmantes, sua recorrência. Não
para esquecer as histórias tristes. Quero usar a data para lembrar de outras
mulheres, que realmente nos mostram tudo o que podemos ser e o real significado
do termo. Assim, trago três pequenas biografias. Todas de mulheres negras, e
que ouso dizer que borbulham em nossas veias.
A
primeira, Maria Firmina dos Reis, maranhense, nascida em 1822, foi escritora
precursora da temática abolicionista no Brasil. Professora e poeta frequentava
e fazia educação em um momento histórico no qual a existência das mulheres
deveria se reduzir aos ambientes domésticos. Fundou a primeira escola mista do
Maranhão. No dia 11 de março comemora-se o dia da Mulher Maranhense em sua
homenagem.
"Dona
Ivone Lar uma joia rara” - Yvonne Lara da Costa nascida em abril de 1922 foi
enfermeira e assistente social, mas foi no samba que demonstrou toda sua
potência e pioneirismo. Compôs diversas músicas, dentre elas a conhecida "Sonho
Meu”, faleceu em 2018 e teve seu corpo velado na quadra da Império Serrano, escola
de samba na qual foi a primeira mulher a integrar a Ala de Compositores e
escreveu um dos sambas-enredos mais reverenciados.
E
por último, Erica Malunguinho, pernambucana, nascida em Recife em 1981, é a primeira
mulher trans eleita deputada estadual de São Paulo.
Não
há e nem nunca haverá uma forma correta de ser mulher. Talvez seja isso que
Simone Bouvier queria dizer com a frase: "Ninguém nasce mulher: torna-se
mulher”. Tornamo-nos mulheres toda vez que podemos sonhar e realizar a nossa
existência, toda vez que ocupamos a escola, a música, a política ou as nossas
casas. Não há profissão correta, não há cor que nos represente - entre rosa e
azul eu sempre opto pela combinação das duas. Ser mulher não é ser mãe e
esposa, mas também pode ser. Ser mulher é carregar nos nossos corpos histórias
que passam por nossas estrias, cicatrizes e "imperfeições”. É como diz a
música: "Triste, Louca Ou Má” - "um homem não te define. Sua casa não te
define. Sua carne não te define. Você é seu próprio lar”.
Nessa
semana de reflexão eu convido as mulheres a pensarem em tudo que sonhamos ser e
a encontrarem em si um lar para edificar toda potência que um dia parou de
existir em virtude da violência que hoje desejamos e vamos combater.
Ser
mulher é verbo, é ação. Ser mulher é canção de Ivone Lara, é palavra de Erica e
lição de Maria.