O etarismo, como uma das formas menos visíveis de intolerância pelo comportamento discriminatório que impõe exclusões etárias nos relacionamentos, tem sido presente como viés da violência contra a mulher.
Em um mundo no qual
a juventude eterna parece um elixir que diluímos na água que bebemos,
envelhecer soa como uma falha humana, principalmente para as mulheres,
tornando-se um imperativo social que faz com que a pessoa precise se manter
jovem, e se apresentar assim em qualquer idade.
E nesse modelo
imposto, a mulher se torna socialmente mais velha muito cedo, bem antes que o
homem.
Para alcançar
destaque no mercado de trabalho as mulheres não precisam apenas serem eficientes, inteligentes e comprometidas,
elas precisam buscar o superlativo desses adjetivos, mesmo pagando um preço
alto na vida pessoal e familiar, e ainda assim não há garantia de que estarão
livres do preconceito, do machismo e da misoginia.
E o etarismo leva as
mulheres a se tornarem vítimas diárias de comentários ofensivos em todos os
campos de sua vida, refletindo o cotidiano vivenciado por elas.
Fechar os olhos para
isso é contribuir para inúmeras violências cotidianas que as mulheres sofrem, como interrupções e falta de atenção
em suas falas, especialmente nos ambientes de trabalho. Necessário por isso,
que a interseccionalidade seja observada, considerando a questão da idade
associada ao gênero.
Pouca gente quer
conhecer e valorizar a trajetória de vida das mulheres, que sofrem
cotidianamente com o preconceito relativo à idade, mesmo assumindo posições
semelhantes às dos homens. Quando jovens são muito "meninas” demais e quando
têm mais idade e experiência, são "velhas” demais.
Triste a constatação
de que a idade para o homem e a mulher são vistos na sociedade de forma tão
diferente, tanto que a andropausa é uma realidade na vida dos homens escondida
em inúmeras capas, mostrando que há discriminação no inconsciente coletivo.
Inúmeras frases
demonstram o etarismo presente no cotidiano, ditas naturalmente sem que ninguém
se dê conta, como: "Ahh, jura que você tem essa idade?”; "Qual o segredo para
você estar tão conservada?”; "Que bonita, não entrega a idade.”; "É uma ‘coroa’
enxuta para a idade dela.”; "Como tem coragem de sair com aquela roupa?”
Novos comportamentos
precisam ser desenvolvidos com ações educativas e afirmativas para a
desconstrução de uma naturalização que vitimiza mulheres atingidas por inúmeras
e variadas formas de violência e desigualdade, permeados pelo diálogo, respeito
e democracia, buscando mitigar violências de gênero transpassadas pelo etarismo
que observamos em nossa realidade.
Maria Aparecida Cury
Juíza de Direito Aposentada, Presidenta do
Conselho dos Direitos da Mulher de São José do Rio Preto, Membra do Coletivo Mulheres
na Política – 21 dias, 21 vozes femininas
pelo fim da violência contra a mulher.