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Ariane Santos é uma mulher negra, bisseexual de 27 anos, acadêmica de Administração, PROUNIsta e pesquisadora, militante dos movimentos sociais de raça, classe e gênero. Atualmente é Conselheira no CMA Conselho Municipal Afro Brasileiro de São José do Rio Preto, onde atua como Secretária executiva.
Foto por: Arquivo pessoal
Ariane Santos é uma mulher negra, bisseexual de 27 anos, acadêmica de Administração, PROUNIsta e pesquisadora, militante dos movimentos sociais de raça, classe e gênero. Atualmente é Conselheira no CMA Conselho Municipal Afro Brasileiro de São José do Rio Preto, onde atua como Secretária executiva.

Quando a fé permite a violência.

Por: Ariane Santos
27/11/2021 às 09:28
Artigos

Quando penso na minha vivência com a violência, a primeira coisa que me vem à mente é que meu entendimento de violência foi tardio e construído após a minha vida adulta.


Eu sou uma mulher negra e periférica, de família pobre e cristã, me criei em berço evangélico onde por muito tempo meu conhecimento de mundo, de certo e errado era baseado no que ali me foi ensinado, e reforçado pela voz de minha família, que partilhava dessa mesma vivência.

Desde muito nova presenciei situações de violência em meu lar, meu pai era alcoólatra e viciado, minha mãe cristã, e apesar dos episódios de agressão física vividas nessa relação, acreditava que seu casamento exigia sua paciência e oração, perdão e amor.

Uma frase que acompanhou minha família por muitos anos foi "Deus tem um plano na vida do seu pai” e essa ideia romântica de fé era encorajada pelas lideranças da igreja que frequentamos, ano após ano, cientes de todo contexto familiar da minha casa, incentivaram que minha mãe tivesse fé, fosse paciente, que Deus a honraria e a toda a nossa família.

Posteriormente, na minha adolescência iniciei um namoro baseado nos parâmetros cristãos, um rapaz da mesma fé, com a aprovação do meu pastor, líderes de jovens e meus pais. Nessa relação vivi conflitos emocionais que não estava preparada, fui acometida por uma dependência e medo da solidão, fui diminuída e afastada dos meus amigos, para satisfazer as exigências de um namoro que todos acreditavam que era o certo para mim, e o resultado dessa relação foi um envolvimento sexual que me fez sentir ainda mais culpada.

Nosso relacionamento durou poucos meses, e deixou marcas tão profundas no meu corpo e na minha alma que demorei muito tempo para entender suas raízes. Na época, busquei amparo nas minhas lideranças, que apesar de me perdoarem, me fizeram sentir responsável pelo fracasso do relacionamento. Foi só depois de muitos anos que eu entendi que tinha sofrido um estupro, uma relação sexual não consentida.

Dados do 14° Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostram 266.310 registros de lesão corporal dolosa contra mulheres decorrente de violência doméstica e familiar, o que representa a média de 729 agressões diárias, considerando que a maioria das pessoas que sofrem essas violências nunca chegam a denunciar. Foram 648 vítimas de feminicídio no Brasil durante o primeiro semestre de 2020, uma média de quatro mulheres por dia.

Ao longo de anos fui construindo meu entendimento social como mulher, e percebi que a fé cristã pode trazer conforto espiritual e esperança para as pessoas, mas a culpa cristã é injusta com todos, mas principalmente com as mulheres. A culpa traz uma perspectiva patriarcal e opressora, e isso pode ser muito perigoso porque incentiva mulheres a permanecerem em espaços que podem as anular ou colocar em risco sua integridade e sua vida.

É hora de toda sociedade se responsabilizar por essas mulheres e seus lares, a desinformação tem um preço alto, e custa a vida de milhares de mulheres no nosso país.

 

 

Ariane Santos é uma mulher negra, bisseexual de 27 anos, acadêmica de Administração, PROUNIsta e pesquisadora, militante dos movimentos sociais de raça, classe e gênero. Atualmente é Conselheira no CMA Conselho Municipal Afro Brasileiro de São José do Rio Preto, onde atua como Secretária executiva.







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