Começou ontem(20) no Brasil uma jornada de ativismo chamada 16 dias pelo fim da violência contra a mulher.
Proposta pela ONU Mulher,
nos demais países do mundo inicia-se no dia 25 de novembro, aqui decidimos que
seu inicio coincidiria com o dia 20 de novembro – Dia da Consciência Negra e
nesse sentido conseguimos fazer uma junção importante: o combate à violência contra
as mulheres no geral e um olhar especial para a mulher negra. Por aqui, os 16
dias são na verdade 21 dias pelo fim da violência contra a mulher.
Os últimos tempos de
pandemia nos mostraram explicitamente que em muitos aspectos, não estamos
"todos no mesmo barco”, embora estejamos "todos no mesmo mar”. O vírus pode até
atacar a todos indistintamente, mas certamente as possibilidades de se
combatê-lo ou de se prevenir dele são muito diferentes a depender de sua classe
social, do lugar onde você mora, do tipo de trabalho que você tem ou não tem. Poder trabalhar em casa, depende do tipo de
atividade que você exerce. Andar ou não de transporte coletivo, ter ou não ter
água em casa para lavar as mãos com frequência, ter ou não ter comida durante
esse período foram problemas e desafios a serem enfrentados de maneira muito
diferente por diferentes parcelas da população.
De maneira
semelhante, a respeito da violência contra a mulher, temos também dados que ela
acomete todas as camadas da população, mas assim como na pandemia, as formas de
enfrentamento dos diversos tipos de violências, também é diversa. E por que
falar da diversidade de violências? Porque realmente elas são de diversos tipos
e a depender de cada uma delas, o combate e o ativismo pode e deve se dar
também de maneira diversa.
A lei Maria da Penha
- sancionada em 2006 -, cria mecanismos para prevenir e coibir a violência
doméstica e familiar contra a mulher. A lei também contribui para ampliar em
termos de documento oficial a compreensão de que a violência física é um tipo
de violência, mas existem outros, como a violência patrimonial, a sexual, a
psicológica, a moral. Tipificar e listar ajuda-nos a ampliar nossa compreensão
a respeito do que pode ser considerado violência e vai também ao encontro da
alteração do dito popular que "em briga de marido e mulher não se mete a
colher”. Obviamente, o ditado simplifica ideias complexas, pois existem espaços da relação familiar que são
particulares e privados, mas a violência certamente não se enquadra nessa
categoria e extrapola os espaços do privado e do particular. Na situação de
violência contra a mulher é preciso meter a colher porque toda a família sofre
e toda a família precisa de ajuda.
Mais do que apenas pensarmos e compreendermos os diversos tipos de violência contra a mulher estejamos juntos pensando em ações de combate a essas violências. Mais do que apenas nos 16 ou 21 dias de ativismo, estejamos nesse combate todos os dias do ano.
Monica Abrantes Galindo,
professora da UNESP em São José do Rio Preto - 21 dias, 21 vozes femininas pelo fim da violência contra a mulher.