Saldo de vagas abertas no Brasil recuou de quase 142,7 mil para 75,9 mil
Depois
de passar por revisões, o saldo de empregos formais gerados no Brasil, em
2020, caiu quase pela metade se comparado ao número divulgado inicialmente pelo
governo federal. É o que indicam as estatísticas do
Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).
O
saldo mede a diferença entre contratações e demissões no mercado de trabalho
com carteira assinada.
Segundo dados
divulgados em janeiro pelo Ministério da Economia, o indicador havia
ficado positivo em 142.690 vagas no ano passado.
O
número decorreu da diferença entre 15.166.221 admissões e 15.023.531
desligamentos.
O
dado positivo foi amplamente comemorado pelo governo, já que a pandemia atingiu
em cheio a atividade econômica em 2020. A questão é que a diferença ficou bem
mais enxuta após as revisões, mesmo que continue no campo positivo.
Após
o registro das novas informações, o saldo do ano passado encolheu 46,8%, para
75.883 vagas criadas. O resultado diminuiu devido ao aumento nos registros de
demissões.
O
número de cortes ficou 2,2% maior em relação ao divulgado inicialmente, pulando
para 15.361.234. Já as contratações aumentaram 1,8%, para 15.437.117.
Empresas
que perderam o prazo para declaração das informações podem enviar os dados ao
governo fora do período em questão.
Os
atrasos costumam ser corriqueiros, mas a magnitude da revisão chama atenção,
analisa o economista Daniel Duque, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de
Economia da Fundação Getulio Vargas).
Em
2020, ano marcado pela chegada da pandemia, companhias atravessaram período de
crise, e os números podem ter sido "subdeclarados" em um primeiro
momento, conclui o pesquisador.
"Ao
longo do ano passado, muitas empresas fecharam, principalmente após a primeira
onda da pandemia, outras hibernaram ou paralisaram as operações. Então, fazer a
lista de contratações e demissões para o Caged virou a última tarefa da lista
de obrigações."
Além
do atraso usual e da situação agravada pela pandemia, houve o impacto da
adaptação à nova metodologia do Caged, que entrou em vigor em 2020, diz o
professor de Economia Sergio Firpo, do Insper.
Com
a mudança, a pesquisa também passou a ser alimentada por informações
provenientes do eSocial, o sistema de escrituração que unificou diversas
obrigações dos empregadores.
"As
empresas se adaptaram à mudança na metodologia com o passar do tempo",
aponta Firpo.
"Com
as revisões, o saldo está mais próximo do que seria esperado. As demissões não
foram maiores porque houve programas do governo para manutenção de
empregos", acrescenta.
Para
o pesquisador Bruno Ottoni, da consultoria IDados, as revisões nos dados eram
aguardadas devido à alteração metodológica e aos efeitos da pandemia, que
paralisou atividades de empresas.
"O
governo começou a coletar dados de uma nova plataforma [eSocial], mas nem todas
as empresas estavam bem informadas sobre essa questão. Além disso, muitas
estiveram paralisadas durante o ano passado. Então, o governo nem conseguia
falar com elas", aponta.
Em
janeiro, ao divulgar os dados de 2020, o ministro Paulo Guedes (Economia)
comemorou o saldo positivo superior a 100 mil vagas geradas, mesmo com a
retração na atividade econômica causada pela Covid-19.
"De
um lado, o auxílio emergencial fez a maior transferência direta de renda. E,
por outro lado, o programa de empregos preservou 11 milhões de empregos", disse
Guedes à época.
O
Caged traz informações apenas do mercado de trabalho formal. Por isso, tem
diferenças em relação à pesquisa de desemprego do IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística).
A Pnad
Contínua (Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), realizada pelo instituto, avalia
tanto o setor formal quanto o informal.
Ao
longo da pandemia, os dois levantamentos apontaram cenários considerados
opostos. Enquanto o Caged mostrava geração de vagas com carteira, a Pnad
indicava desemprego em elevação.
A
diferença, segundo analistas, está relacionada ao fato de que os trabalhadores
informais foram mais prejudicados logo após a chegada da pandemia. Autônomos
sem CNPJ, por exemplo, não conseguiram vender produtos nas ruas e em eventos
por conta das restrições.
Na
visão de especialistas, o saldo acumulado neste ano tende a passar por uma
revisão inferior às de 2020. É que, além do impacto menor da pandemia na rotina
dos negócios, as empresas estariam mais habituadas às declarações via eSocial.
"Imagino
que, se houver revisão em 2021, será bem menor do que a de 2020", projeta
Sergio Firpo, do Insper.
·
·
·