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Zona Franca não levou progresso a Manaus

Por: FOLHAPRESS - MONICA PRESTES
14/10/2021 às 09:30
Brasil e Mundo

MANAUS, AM (FOLHAPRESS) - Criada no regime militar, a ZFM (Zona Franca de Manaus) pretendia levar desenvolvimento à região, com a instalação de um polo industria...


MANAUS, AM (FOLHAPRESS) - Criada no regime militar, a ZFM (Zona Franca de Manaus) pretendia levar desenvolvimento à região, com a instalação de um polo industrial baseado em subsídios federais às empresas que lá se instalassem, como contrapartida pela falta de infraestrutura da região, que eleva o custo de produção.

Mas, além de inflar a população de Manaus de 311 mil habitantes em 1970 para mais de 2,2 milhões em 2020, a ZFM não cumpriu o intento de sua criação.

Segundo o IBGE, Manaus é a segunda cidade do país com mais domicílios favelados, com 53,4% de suas residências em situação "subnormal". Só fica atrás de Belém (55,5%). Mas o Amazonas lidera entre os estados, com 34,6% das casas nessas condições.

A falta de investimentos em infraestrutura, a redução de subsídios e crises econômicas contribuíram para o fechamento de cerca de 45 mil postos de trabalho na ZFM na última década, aumentando a concorrência até para quem tem bom currículo.

Com duas graduações em universidades públicas, duas pós-graduações e, agora, um mestrado em andamento, Fulvia Bilby, 37, ainda tem um cargo e salário de nível médio. E não é no polo industrial.

Apesar do currículo, as oportunidades de Fúlvia atuar como engenheira de produção na Yamaha Amazônia, onde entrou como estagiária, desapareceram junto com os mais de 1.200 postos de trabalho fechados pela empresa na última década. "Queriam me contratar como checadora de linha, mas me formei para ser engenheira, não para ficar em um cargo de nível médio. Então decidi sair".

Foram dois anos desempregada e estudando: fez inglês e japonês. "Acabei buscando um curso técnico em segurança do trabalho para conseguir entrar no mercado. Minha família me criticou, disse que eu ia regredir, mas o que eu não queria era ficar desempregada", lembra Fulvia, que ainda mora com a mãe, com quem divide as despesas da casa, em um conjunto de classe média baixa da zona Centro-Sul.

O curso resultou em um emprego como técnica em segurança do trabalho. Nos últimos quatro anos, conciliou o trabalho com a faculdade de fisioterapia e, agora, com um mestrado, que iniciou este ano, vai afastar-se de vez da engenharia.

Ela não foi a única da turma dela a abandonar o sonho de trabalhar nas grandes indústrias da ZFM. "Tenho vários amigos que se formaram e não atuam na área, a maioria por falta de oportunidade. Poucos da nossa turma foram absorvidos pelas empresas do distrito e, quem ficou, hoje sofre com ameaças de cortes."

Essa realidade foi o que fez a engenheira de produção e agora estudante de serviço social Suzete Rodrigues, 38, trocar a carreira na indústria pelo empreendedorismo. Ela e as irmãs são a primeira geração da família a ter ensino superior -os pais estudaram apenas até o ensino médio. Era para o diploma abrir portas, mas ela só conseguiu um cargo de nível médio com ele.

Suzete conta que se formou com o objetivo de ser engenheira na ZFM, mas, após três anos atuando como analista de processo na fábrica da Yamaha em Manaus, com salário de R$ 2.700, foi dispensada em meados de 2011.

Desde então, o número de funcionários da empresa caiu de 2.900 para 1.700. "Engenheiro de produção no distrito enfrentava a falta de estabilidade. É complicado não poder comprar um carro ou imóvel porque hoje você está lá, mas amanhã pode não estar."

Foram três anos até conseguir outra vaga de nível médio, como assistente administrativa, com salário de R$ 1,1 mil em 2014, quando o salário mínimo era de R$ 724. "Quatro anos depois, eu tinha chegado ao ponto máximo na empresa e ainda ganhava menos do que esperava como engenheira", relatou, referindo-se ao salário de R$ 2,1 mil que tinha em 2017.

Em 2018 Suzete saiu da empresa e, desde então, passou a buscar uma recolocação que, com a pandemia, ficou mais difícil. O jeito foi empreender. Ela criou uma papelaria virtual nas redes sociais e, em um ano, conseguiu aumentar a renda mensal para R$ 3,5 mil.

Mas o resultado não a afastou da universidade: também na pandemia, ela começou a cursar serviço social. "A engenharia eu já descartei, mas acredito em outras oportunidades nesta segunda graduação."



Publicado em Thu, 14 Oct 2021 09:01:00 -0300







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