Antes de qualquer resposta, é preciso entender o papel do roteirista e do roteiro.
É cotidiano escutarmos
comentários de que certa história de certo filme é fraca ou vazia. Mas é
importante compreendermos que determinados fracassos não dependem só deste
elemento, mas muito além disso.
Boas
memórias estão sempre nos rodeando. Todos temos algo divertido, engraçado ou
até mesmo tenebroso para contar aos amigos, o que vai diferenciar isso é a
forma como você vai contá-la. É aí que entra uma diferença gritante entre a
história e a narrativa. Enquanto a história é o próprio roteiro "na carne”, a
narrativa já se localiza ao lado de como contá-la. E este feito está,
exclusivamente, na mão do diretor, porque é ele quem vai narrar aquela mensagem
para nós – pelo menos diretamente.
Um
breve exemplo. Vamos supor que minha irmã não tirava um 10 em matemática faziam
2 anos, mas então depois de muita luta ela finalmente conseguiu sua desejada
nota. Através deste simples fato, eu, diretor deste filme, posso me aprofundar no
esforço dela, dificuldades, conflitos familiares, problemas psicológicos e com
todo esse peso, quando ela conseguir a nota, o espectador entenderá que sua
felicidade não é por algo tão simples. Isto por dois fatos: desenvolvimento e
forma.
Todavia,
você pode estar me perguntando se essas informações não estariam no roteiro. Se
for um bom roteirista, sim, mas do que adianta todas essas informações se o
modo for fraco ou ineficaz?
Para
facilitar ainda mais sua visão, tenho outros exemplos. ‘Tudo Bem no Natal que
Vem’, estrelado por Leandro Hassum – tem na Netflix. Acontece que esta produção
dispõe de um roteiro até que interessante e divertido (afinal, Hassum está no
elenco). Contudo, há inúmeros momentos onde a forma em que o diretor opta por
nos mostrar determinadas cenas arrancam o espectador do universo do filme. Ou
seja, o roteiro estava lá, bonitinho e pronto, mas a partir de escolhas
estilísticas do diretor somos menos impactados do que deveríamos.
Também,
o bipolar ‘Batman vs Superman’ possui uma história extremamente intrigante, mas
muito complexa de ser explicada em apenas 2h30. Além disso, havia Zack Snyder
na direção, um diretor que ama exaltar seus personagens e colocar câmera lenta
em quase tudo que vê; soa até mesmo poético. Com um roteiro complexo e um
diretor também complexo, o resultado não agradou muito ao público. Principalmente
por estarem acostumados a fórmula infantil da Marvel. Mas isso é assunto para
outro texto.
Então,
havendo explicado e detalhado todos estes exemplos, nota-se que uma produção
nada mais é do que a junção de várias linguagens cinematográficas, desde a
fotografia até os cenários e figurinos. Não basta somente ter um bom roteiro em
mãos, mas sim executá-lo e contá-lo de forma inteligente e cativante. O roteiro
é apenas um elemento linguístico, não O elemento.