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Morre Aleksandar Mandic, pioneiro da internet comercial no Brasil

Por: FOLHAPRESS - PAULA SOPRANA
06/05/2021 às 21:30
Brasil e Mundo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Aleksandar Mandic, empreendedor e pioneiro da internet comercial no Brasil, morreu nesta quinta-feira (6) aos 66 anos. A informação f...


SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Aleksandar Mandic, empreendedor e pioneiro da internet comercial no Brasil, morreu nesta quinta-feira (6) aos 66 anos. A informação foi confirmada pelo filho, Axel Mandic, em um perfil de rede social.

Mandic contraiu Covid-19 no fim do ano passado e chegou a ficar em estado crítico em um hospital de Portugal, onde morava. Após a recuperação do vírus, descobriu uma leucemia. Nos últimos meses estava em São Paulo, onde morreu —a causa não foi divulgada.

Mandic trabalhou por 17 anos na Siemens até fundar a Mandic BBS, em 1990, marca que o levou ao reconhecimento no mundo de tecnologia. Foi uma das primeiras pessoas a ganhar dinheiro com a internet no Brasil, antes mesmo da popularização da internet comercial, a partir de 1996.

O sistema BBS (Bulletin Board System), objeto dos seus negócios, é um dos chats pioneiros de troca de mensagens. Antecedeu programas de mensagens como ICQ, MSN Messenger e WhatsApp. Tratava-se de uma ferramenta sem interface gráfica, com uma tela preta e letras verdes pequenas.

Mandic teve a ideia de criar seu próprio negócio quando era funcionário da área de automação industrial da Siemens. Em 1989, entrou em contato com o sistema BBS, enquanto participava de um projeto para a Volkswagen.

No livro "Os Bastidores da Internet", de Eduardo Vieira, Mandic conta que lhe foi dada a tarefa de consertar um computador do tamanho de uma geladeira. Ao pedir ajuda para a matriz alemã, um técnico acessou essa máquina por uma linha telefônica plugada em um modem e consertou o problema.

"Pareceu um show de mágica", disse Mandic, que ofereceu um projeto parecido à Siemens para que os engenheiros pudessem consertar computadores remotamente. O plano foi negado pelo chefe, que justificou com falta de modem e de linha telefônica.

Mandic montou sua BBS em um quarto de casa, em São Paulo, e começou a conectar os técnicos da companhia, mas também pessoas comuns. Uma delas era um profissional do Unibanco que também tinha uma BBS.

"Juntei minha BBS com a dele e montamos um cineminha mudo em preto branco, quer dizer, em preto e verde", diz no livro. "Batizamos a comunidade com meu nome, Mandic BBS, e começamos a divulgar para todo mundo trocar arquivos, programas, jogos e falar sobre assuntos corriqueiros, como previsão do tempo, futebol e mulher pelada. Em seis meses, já tínhamos mais de 40 usuários por dia", relatou.

Mandic começou a cobrar pelo acesso mensal à BBS e, aos poucos, profissionalizou o negócio. À medida que a empresa cresceu, deixou a Siemens para se dedicar exclusivamente à ideia.

Figuras como Jô Soares, César Camargo Mariano e Roger, do Ultraje a Rigor, estavam nos chats de Mandic, que até casaram pessoas, de acordo com relatos de ex-usuários nas redes sociais.

No segundo ano de operação, ele faturou US$ 30 mil. Em 1995, o serviço tinha 10 mil usuários, um faturamento de US$ 2 milhões e 90 linhas telefônicas instaladas.

Em 1996, com a chegada da internet comercial no Brasil, o fundo GP Investimentos, de Jorge Paulo Lemann, fez uma sociedade com Mandic e seu sócio, Antônio Lunardelli. Mandic e GP ficaram com 50% do negócio cada.

Dois anos depois, o GP saiu da empresa e vendeu 75% da Mandic para a argentina de telecomunicações Impsat. Pouco tempo depois, Mandic também deixou seu negócio.

Em janeiro de 2000, tornou-se sócio fundador do portal iG, onde ficou por cerca de dois anos, colaborando para o cenário de portais no Brasil.

Em 2002, reabriu a Mandic, mas com foco em email corporativo. Uma década depois, vendeu a empresa para o fundo Riverwood Capital. Pouco antes disso, também tentou a vida política como candidato a deputado federal pelo Democratas, em São Paulo, mas não conquistou o cargo.

Em 2013, criou a companhia que manteve até o fim da vida, a Wifi Magic, de compartilhamento de senhas públicas de wifi.

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo em 2013, ele disse que teve a ideia após ter seu acesso à internet cortado durante uma viagem. "Agora, quando viajo, baixo todas as senhas de wi-fi daquela cidade para consultar off-line", afirmou na ocasião.

O empresário era piloto de avião, apreciava vinhos e criptomoedas. "Era um visionário, sem formação acadêmica brilhante, um técnico. Mas enxergou o que a internet poderia representar quando todo o mundo pensava que era uma maluquice", diz Eduardo Vieira, que também era seu amigo.

Os amigos se impressionavam com sua agenda de aniversários. De onde estivesse, ligava para parabenizar as pessoas.



Publicado em Thu, 06 May 2021 21:19:00 -0300







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