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Drama foi lançado no dia 6 de novembro
Foto por: Divulgação
Drama foi lançado no dia 6 de novembro

CRÍTICA: ‘Rosa e Momo’ é uma das chances da Netflix para o Oscar 2021

Por: Miguel Flauzino
20/11/2020 às 09:09
Cultura e Diversão

Filme que sabe exatamente o que está fazendo na tela


Acredito que um dos motivos que tenha me feito gostar tanto de ‘Rosa e Momo’ é perceber o quão disciplinado ele é. É um filme que sabe exatamente o que está fazendo na tela. Esta competência reflete no resultado e principalmente na experiência do espectador, que afirmo ser bastante encantadores. 

O órfão Momo é obrigado a morar na casa da madame Rosa por umas semanas. Conforme a convivência dos dois vai aumentando, as diferentes culturas e costumes também se revelam e resultam em intrigas. Todavia, o apego e o sentimento também crescem paralelamente.

Em seus primeiros minutos, ‘Rosa e Momo’ apresenta personagens diversificados, já evidenciando uma das ideias do diretor Edoardo Ponti: independentemente do seu estereótipo, quem define seu futuro é você mesmo, não fique preso a um "destino” já traçado. Percebe-se essa diversidade na casa da madame, onde de cara encontramos um ruivo, um judeu com a pele na cor parda, uma transexual, um preto mulçumano e uma judia. E essa questão do estereótipo é mostrada logo no início, quando vemos Momo, uma criança preta envolvida com crimes de furto e tráfico.

A fotografia possui momentos belíssimos juntamente a direção de arte. Em vez de caminhar para o clichê de representar personagens por paletas mais frias, a produção se volta para cores quentes, onde o azul, laranja e amarelo sempre estão presentes em telas. Momo, com sua pele extremamente escura, é acompanhado de roupas chamativas, causando um nítido contraste. Não somente isso: em certos instantes, os planos não se contêm ao relatar a dessemelhança entre os tons de pele de Rosa e o garoto. 

Nos minutos finais há uma imagem fascinante entre os dois, onde o alaranjado do sol reflete sobre as águas ao lado da judia, enquanto o lindo azul bebê estende-se pelo menino. E a leoa, animal criado pelo fruto da imaginação de Momo, faz uma bela referência à própria personagem de Sophia Loren, brincando e marcando presença em diversos momentos e descansando em seus minutos finais - chega a ser até interessante perceber que Rosa lembra uma leoa através de seu cabelo mais realçado e formato do rosto.

Ponti ainda opta por algo extremamente inteligente em seu filme. Ao mostrar os traumas da madame – causados pela Segunda Guerra Mundial –, ele não utiliza escapes genéricos, como a narração ou até mesmo o flashback, mas sim expressões e atitudes, que juntamente com a ótima atuação de Loren resultam em momentos sublimes. Como por exemplo a cena em que, paralisada no terraço, a senhora simplesmente ignora a chuva em sua volta e com os olhos fixos em um ponto demonstram intensamente suas feridas.

Mas não para por aí. Existe outro momento em que, depois de Rosa sumir como forma de expressar sua dor, o diretor faz questão de mostrar planos abertos e gerais recheados de árvores, e elas estão plantadas e separadas em um distanciamento que beira o perfeccionismo. Isso retrata, nitidamente, o memorial do holocausto em Berlim, no qual é brilhante.

A inocência de Momo ainda nos ensina algo simples, mas intrigante. Quando reunido na loja de Hamil (Babak Karimi), o menino o questiona se já foi casado alguma vez. Ao responder que sua esposa já tinha falecido e que ele estava sozinho, o garoto arranja uma solução simples dizendo que Rosa também estava só e eles poderiam formar um casal. Contudo, o senhor explica que não poderia pela questão dela ser judia e ele mulçumano. Ou seja, para uma criança, religião e padrões da sociedade não se encaixam em uma lógica simples que seria: se vocês se gostam, por que não podem ficar juntos?

Para finalizar, as únicas falhas de ’Rosa e Momo’ são duas: alguma falta de explicação do roteiro e certas escolhas da trilha sonora. Quando digo "certas" me refiro exatamente a determinados minutos, porque há músicas que não conversam com determinadas cenas, e há justificativas da narrativa que não possuem motivos sólidos. Essas duas falhas são pequenas se comparadas ao resultado final que, como já disse ao longo do texto, são brilhantes e belíssimas.

Ótima jogada, Netflix. Esperemos as indicações para o próximo Oscar.

NOTA: 4/5 (Ótimo)

Miguel Flauzino é estudante de jornalismo, criador e diretor do estúdio Verona e apaixonado pela Sétima Arte
Foto por: Divulgação
Miguel Flauzino é estudante de jornalismo, criador e diretor do estúdio Verona e apaixonado pela Sétima Arte








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