Acompanho eleições municipais desde o tempo das cédulas de papel, quando, a exemplo dos norte-americanos, esperávamos pelo menos três dias para saber os nomes dos eleitos.
Desde então ouço o mantra recorrente de que os vereadores da Legislatura atual são piores do que da anterior. Concordar com esta tese é passar recibo de que o eleitor não sabe escolher os seus representantes.
A Câmara que aí está e aquela a ser composta em 15 de novembro espelham exatamente o perfil da população rio-pretense.
Democracia é depuração. É um processo de aperfeiçoamento contínuo posto em prática todas as vezes que você vai às urnas.
Pra isso, o eleitor tem 388 candidatos a vereador que estão mostrando a cara, tentando conquistar votos. É um índice altíssimo, 22,8 pretendentes pra cada uma das 17 cadeiras.
Apenas para comparação, o curso de ciência da computação, o mais procurado na Unesp de Rio Preto, tem média de 16 candidatos por vaga.
Eleger-se vereador é uma tarefa difícil, que inclui escolha certa de partido, além da concorrência que surge na própria família, no trabalho, no clube, na igreja e por aí vai.
Tem candidato que se escora na sogra; tem aquele que surfa no prestígio do pai; outros recorrem a religiosos e políticos com mandato, enfim, vale tudo pra chegar lá.
Sem esquecer que muitos entram no jogo sabedores que são colonos de velhos caciques. De mil votos pra cima, podem garantir uma boquinha, um cargo em comissão na máquina da Prefeitura.
Político não se escolhe pelo sentimentalismo, pela compaixão, como costuma fazer o "brasileiro bonzinho”, ao eleger, não o representante do povo, mas sim, o "coitado” que precisa do salário mensal de 5, 9 mil reais. Depois de eleito, não existe político coitado.
Nas eleições de 1982, o garçom João Benvindo, pessoa humilde, conquistou vaga na Câmara. Na primeira entrevista concedida ao jornalista Antonio Higa, correspondente do Estadão, o recém-eleito definiu assim como via o futuro com poder:
-Chega de ovo frito lá em casa!
Pode ter ficado quatro anos sem comer ovo, mas teve carreira curta, pois o eleitor deu-lhe filé, mas tirou os votos do cardápio.
Democracia é assim: se escolheu mal, não queira acabar com ela, basta substituir por um candidato melhor, compromissado com a ética e com os anseios da população.
Estes atributos não estão condicionados necessariamente à condição econômica, à condição física, ao sexo ou a cor da pele do candidato. Pense nisso quando entrar na urna no próximo domingo.
Wilson Guilherme é jornalista