BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Os bancos emprestaram 4,5% a mais para as famílias em agosto, com relação a julho, segundo dados divulgados nesta segunda-feira (28) ...
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Os bancos emprestaram 4,5% a mais para as famílias em agosto, com relação a julho, segundo dados divulgados nesta segunda-feira (28) pelo Banco Central. O crescimento foi puxado pelo crédito imobiliário, que aumentou 11% no período.
Com a taxa básica de juros (Selic) no menor patamar da história, a 2% ao ano, o apetite por empréstimos para aquisição da casa própria aumentou.
Na minha avaliação, trata-se de uma recuperação do setor. O saldo de crédito imobiliário nunca parou de crescer, mesmo nos meses em que a crise foi mais acentuada. São operações de prazo muito longo, o que gera essa estabilidade, já que as amortizações mensais são pequenas, avaliou Fernando Rocha, chefe do departamento de estatísticas do BC.
É possível também que muitas operações não puderam ser concretizadas nos meses de maior isolamento social, porque é uma negociação que envolve visitas ao imóvel e à agência, por exemplo. Essas transações podem ter retornado agora, completou.
Em agosto, foram R$ 12,7 bilhões em novos contratos de financiamento imobiliário, volume 76% maior que o registrado no mesmo mês do ano passado, quando foram concedidos R$ 7,2 bilhões na modalidade.
Entre pessoas físicas, O uso cartão de crédito à vista aumentou 2% em agosto e os níveis voltaram ao observado antes da pandemia do novo coronavírus, com R$ 85,6 bilhões, valor semelhante ao mesmo período do ano passado.
"É um reflexo da flexibilização do isolamento social e da normalização dos comércios", justificou o técnico do BC.
A modalidade composição de dívidas, quando o cliente negocia com o banco a junção de várias modalidades de crédito em uma só, caiu 16,8% em agosto e 32,6% no trimestre.
O recurso foi bastante utilizado nos meses de maior impacto econômico do isolamento social. Em abril e maio, o montante de renegociações chegou a R$ 8,6 bilhões e R$ 9,3 bilhões, respectivamente.
As empresas, no entanto, tiveram redução de 1,7% nos empréstimos no mês.
Com a desaceleração dos financiamentos pelo Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte), as concessões na rubrica Outros, que engloba a linha de crédito na tabela divulgada pelo BC, caiu 8,1% em agosto.
Em julho, a rubrica tinha apresentado alta de 397,4% e, segundo o BC, o Pronampe respondeu pela maior parte desse aumento.
O saldo de recursos direcionados [com subsídio do governo] vinham em trajetória de queda no ano passado e voltaram a subir neste ano com os programas emergenciais do governo. Pela primeira vez, na comparação com agosto de 2019, esse crescimento foi positivo (2,5%), explicou Rocha.
As concessões para capital de giro, uma das modalidades mais importantes para as empresas, recuou 20,6% no período. Ainda assim, o volume está em nível acima dos meses anteriores à pandemia.
Em agosto, foram R$ 30,4 bilhões na modalidade, 60% a mais que no mesmo mês de 2019 (R$ 18,9 bilhões).
"No início da crise, as empresas pegaram empréstimos de capital de giro para fazer frente às dificuldades, principalmente no prazo abaixo de um ano. De lá para cá, o ritmo diminuiu, mas ainda está acima do observado no ano passado", analisou Rocha.
Já modalidades ligadas ao consumo, que precisam de vendas para gerar garantias, tiveram alta. Antecipação de recebíveis e desconto de duplicatas cresceram 2,5% e 13,3% respectivamente.
Assim, as concessões totais de crédito somaram R$ 343 bilhões em agosto, alta de 1,9% em relação ao mês anterior.
A variação foi registrada na série com ajuste sazonal, que retira peculiaridades do período, como número de dias úteis a mais ou a menos, para facilitar a comparação.
Agosto teve dois dias úteis a menos que julho, por exemplo.
No acumulado do ano, em relação ao mesmo período de 2019, as concessões cresceram 5,6%, com alta de 14,2% para empresas e queda de 1,6% para as famílias.
O estoque de crédito alcançou R$3,7 trilhões em agosto, aumento de 1,9% no mês. Em doze meses, o crescimento da carteira total foi de 12,1%.
A taxa média de juros das operações contratadas em agosto foi de 18,7% ao ano, queda de 0,5 ponto percentual no mês e de 6,1 pontos em 12 meses.
Para as famílias, houve redução da taxa de juros do cartão de crédito rotativo regular (quando o cliente paga acima do mínimo, mas abaixo do valor total da fatura) em 8,9 pontos percentuais no mês. Em média, pessoas físicas pagaram 270% ao ano na modalidade.
No não regular quando o consumidor paga abaixo do mínimo da fatura, no entanto, os juros subiram 3,5 pontos e ficaram em 335,2%.
Além disso, os juros no crédito pessoal não consignado, aquele que não é descontado direto na folha de pagamento, caíram 12%.
Para as empresas, os juros cobrados em cartão de crédito rotativo subiram 31,6 pontos e ficaram em 164,2% ao ano.
Com isso, o spread diferença entre a taxa que os bancos pagam para captar recursos e a taxa cobrada em empréstimos ficou em 15 pontos, redução de 0,5 ponto no mês e de 4,4 pontos no acumulado dos últimos 12 meses.
O custo de crédito alcançou o menor patamar da história, assim como os juros e o spread. Houve de fato corte nas taxas por parte dos bancos, ressaltou o chefe do departamento de estatísticas do BC.
INADIMPLÊNCIA
A inadimplência alcançou o menor patamar da série histórica, iniciada em março de 2011, com 2,6% em agosto. Em julho, o índice já tinha sido o mais baixo do período, com 2,7%.
Segundo Rocha, a especificidade da crise, com as pessoas em casa e consumindo menos, o pagamento de auxílios do governo e a prorrogação das parcelas dos empréstimos evitaram a alta dos calotes em meio à pandemia.
As medidas aumentaram recursos nas mãos das pessoas e muitos desses valores foram para pagamento de serviços financeiros, disse.
Publicado em Mon, 28 Sep 2020 20:12:00 -0300