Em época de distanciamento social e preservação à vida, o DLNews ouviu pais que, longe ou perto, valorizam os bons momentos e são verdadeiros heróis aos seus pequenos
Há cinco meses, Pedro Américo,
37, não abraça a pessoa mais importante de sua vida - a filha Anna Lara, de 7
anos. Médico intensivista da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital de
Base de Rio Preto e também do Corpo de Bombeiros, Pedro tomou uma decisão muito
importante quando a pandemia do novo coronavírus chegou à cidade. Ele abriu
mão dos momentos mais preciosos ao lado da pequena e comunicou a ela a
decisão: a de que não iria mais visita-lá a cada 15 dias, como sempre fazia em
tempos normais, para protegê-la da doença. A filha entendeu e "emprestou o
pai-herói para outras pessoas”, como disse à reportagem.
Desde então, os encontros entre
pai e filha têm sido virtuais, por meio de videochamadas. Anna Lara mora com a
mãe, a advogada Adelita de Cássia Lemes, em Santa Cruz das Palmeiras, a 300
quilômetros de Rio Preto. Para lidar com a ansiedade gerada com a pandemia e a
ausência do pai, a garota pode contar com a proteção da mãe e também dos
avós.
"O amor materno é um antídoto
para a ansiedade, estresse e angústia desencadeados pela epidemia que assola o
mundo. Desde o início da pandemia, viemos ficar na casa dos meus pais, pois ter
a família por perto neste período, significa somar forças para vencer o medo,
compreender o significado e a importância das pessoas em nossas vidas”, conta
Adelita.
A decisão do isolamento social e
do distanciamento foi conjunta entre os pais da menina. Conscientes da preservação
à vida, ambos deram uma aula à garotinha sobre a importância da higiene pessoal
e os cuidados com idosos e pessoas do grupo de risco.
"Ela atendeu e cobra de todo
mundo que não faz uso ou que tem uma higiene inadequada. Na pandemia eu limitei
o contato não só com minha filha, mas também não tenho visitado os meus pais e
meus tios, tenho respeitado isso por conta do coronavírus, mas essa não é a
maior tristeza. A maior tristeza da pandemia é perder um ente querido para essa
doença”, diz o médico.
Quando a fase passar, pai e filha
já têm planos para matar as saudades. "Ela quer imediatamente ir para a praia,
para o shopping e quer brincar bastante no parquinho. Até as coisas mais
simples, como assistir um filme com ela já é maravilhoso”, conta Américo.
Para a filha do profissional da
linha de frente no combate a doença, o vírus não tem vez diante do seu grande
herói. "Papai é um Super-Herói. Antes ele era só meu. Agora emprestei ele para
salvar muitas pessoas que estão doentes por causa desse vírus. Já já ele (o
vírus) vai embora e vamos voltar a brincar bem juntinhos”, diz a menina.
(Anna Lara, 7 anos, com o pai, o médico intensivista da UTI do Hospital de Base de Rio Preto, Pedro Américo)
Pai amigo
Diferentemente de Anna Lara, a
estudante Izadora Squizatto Monzani, de 11 anos, não precisou se distanciar do
pai Sérgio Henrique Monzani, 46, para enfrentar a pandemia. Muito pelo
contrário, a situação fortaleceu ainda mais os laços entre os dois.
O microempresário tem uma firma
que faz sublimação de tecido para confecção de roupas em Rio Preto. Com a
pandemia, o lucro caiu. A medida para continuar provendo a família (composta
pela mulher Daniele, Izadora e a filha mais velha, Izabela, de 18 anos) foi
fabricar máscaras de proteção. O momento foi importante para incentivar a
caçula a ter mais consciência sobre a educação financeira da família e agir ao
lado do pai para conquistar um de seus mais novos desejos: o de ter um Xbox
One.
"Ele já poderia ter comprado, mas
como ela se empolgou com as vendas (das máscaras) e já tinha R$ 250 guardados,
que ganhou de aniversário dos parentes mais próximos, eu incentivei ela a
guardar para comprar o vídeo-game porque toda vez que ela ganhava dinheiro, ela
já saia para comprar qualquer coisa que não estivesse precisando”, conta a mãe
Daniela Viana Squizatto Monzani.
A família já produziu em torno de
300 máscaras (com ajuda de parceiros) e já doou aos necessitados outras 200.
Izadora já vendeu 100 máscaras com estampas divertidas, escolhidas por ela, por
meio dos amigos, familiares e também do cartaz que ela fez e colocou no portão
de casa.
"Ele é um pai bom, amigo, inteligente
e brincalhão. É muito trabalhador e faz de tudo para mim e para a minha irmã”,
define a menina. "Eu quero ela seja muito feliz e que seus sonhos se realizem,
que ela continue essa menina meiga e alegre”, retribuiu o pai.
(Izadora, 11 anos, e o pai Sérgio, brincalhão e parceiro na vaquinha do vídeo-game)
Pai vencedor
Após passar 23 dias internado no
Hospital Beneficência Portuguesa com Covid-19, chegando a ficar intubado na
UTI, o delegado titular de Uchoa, Paulo Moreschi, 43, tem todos os méritos para
ser considerado um verdadeiro herói.
Moreschi venceu a doença que já
matou milhares de pessoas no Brasil e no mundo e deu exemplo de fé e superação
ao ficar por tantos dias afastado da mulher e do filho, o pequeno Pedro, de 7
anos.
"Senti muita falta dele! Enquanto
permaneci no quarto, o que me ajudava era poder vê-lo pelas chamadas de vídeo.
Quando fui para UTI, orei muito para poder voltar para minha família. Antes de
ser entubado, falei para a médica sobre a minha esposa e filho, e da
preocupação que tinha em deixa-los desamparados”, relembra.
O reencontro após o
distanciamento foi especial e comovente, reforçando ainda mais os laços que
unem pai e filho.
"Foi muito especial! Já estava há
uma semana em casa e só depois desse período ele pode voltar pra casa. Fomos busca-lo
na casa da minha cunhada e ganhei um abraço maravilhoso dele. Somos muito
ligados. A paternidade me fez ver o mundo de outra perspectiva. Me preocupo
muito com o futuro dele e como estará o mundo quando ele for adulto. Me sinto responsável
por orientá-lo em suas escolhas e apoia lo sempre que preciso, assim como meu
pai fez comigo”, finalizou Moreschi.
(O delegado Paulo Moreschi e a mulher, a fonoaudióloga Cândice Lima Moreschi, comemorando o aniversário do filho Pedro, de 7 anos)