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Trauma do lockdown fará surgir nova geração de liberais, diz economista americano

Por: FOLHAPRESS - FÁBIO ZANINI
08/08/2020 às 04:00
Brasil e Mundo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O economista americano Jeffrey Tucker, 56, é um dos principais expoentes do pensamento libertário em seu país, e influente entre ade...


SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O economista americano Jeffrey Tucker, 56, é um dos principais expoentes do pensamento libertário em seu país, e influente entre adeptos dessa corrente em todo o mundo.
Diretor-editorial do American Institute for Economic Research, ele se define como um anarcocapitalista, o que, em tradução livre, significa que defende uma sociedade sem Estado, funcionando puramente à base de relações comerciais privadas.
É uma linha de pensamento que radicaliza o liberalismo e que, apesar de seu caráter utópico, vem ganhando adeptos no Brasil. Tucker também é investidor do setor de criptomoedas, editor, autor de dez livros e conferencista.
Entre 1º e 3 de setembro, ele participará do 7º Fórum Liberdade e Democracia, do Instituto de Formação de Líderes de São Paulo, por videoconferência.
Crítico das respostas dos governos à Covid-19, que incluem lockdowns e pacotes de estímulo econômico, ele afirma que a crise fará surgir uma nova geração de liberais, inconformados com as restrições de movimento impostas para combater a pandemia.
Tucker também é colaborador do Partido Libertário dos EUA, que lançará candidato à Casa Branca em novembro, mas sem chance de vitória.
Embora aplauda algumas das iniciativas econômicas de Trump, ele diz que seu governo é um fracasso, por ter imposto restrições à imigração e ao comércio.
*
Pergunta - Como o sr. vê a resposta dos governos ao coronavírus?
Jeffrey Tucker - Quase todos decidiram conduzir um experimento social sem precedentes. Usaram diversas ferramentas: fechamento de escolas, restrições de viagem, ordens de ficar em casa, máscaras obrigatórias. Dividiram o comércio entre essencial e não-essencial, cirurgias entre eletivas e não-eletivas, e assim por diante. O problema é que não há evidências de que isso funcione. Estamos nisso há cinco meses. Temos muita informação para olhar, medições muito precisas do quão restritivas as políticas de governos foram e a relação com mortes por milhão. Não há padrão. Não interessa o quão aberto ou fechado o país, as taxas de morte não têm relação com isso.

Quase todos os especialistas em saúde defendem esse modelo que o sr. chama de experimento social. Eles estão todos errados?
JT - Não sei se todos defendem. A comunidade epidemiológica está dividida em dois grandes ramos. Um é baseado em medicina, o outro em modelos. Um bom exemplo ocorreu na Inglaterra. De um lado o Imperial College, que previu 2,2 milhões de mortes nos EUA sem esforços de mitigação, e está completamente errado. Do outro, você tem em Oxford o Center for Evidence Based Medicine (Centro para Medicina Baseada em Evidências), que acredita em imunidade de rebanho e tem alertado contra os lockdowns. O problema é que a mídia não tem prestado atenção.

O caso da Suécia é bem simbólico, por ter adotado um modelo menos restrito. Lá a taxa de mortes per capita é bem maior do que em vizinhos como Finlândia ou Noruega. Isso não prova que menos restrições trazem mais mortes?
JT - Não, isso é resultado de demografia, eles têm uma população mais idosa. A maioria dos que morreram na Suécia, cerca de dois terços, tinham mais de 82 anos, e em casas de repouso. Na Suécia, deixaram o vírus se espalhar entre sua população não vulnerável, e você pode ver a curva subindo muito, depois caindo e agora se foi. É um efeito da imunidade de rebanho. A Suécia foi muito bem sucedida.

O sr. vê necessidade de algum tipo de restrição de movimento?
JT - Não. Você precisa da imunidade. O grande problema com o coronavírus é que é novo. Você não pode correr e se esconder. Ele precisa ser integrado ao nosso sistema imunológico. Essas políticas que vetam grandes reuniões estão apenas atrasando e prolongando a dor.

Como o sr. vê a resposta econômica, com base em um maior papel do Estado?
JT - É extremamente perigosa, e totalmente ridícula. Você não pode estimular algo que está congelado. Governos congelaram a economia e agora tentam estimulá-la. Uma economia vibrante precisa acima de tudo de liberdade. Se você tira a liberdade, não há impressão de dinheiro ou gasto que vá consertá-la.

Como lidar com uma crise global como essa sem um Estado?
JT - O problema é que o Estado não sabe nada que fundações privadas também não saibam. Há várias associações médicas, fundações privadas, laboratórios e fabricantes de vacinas e medicamentos que poderiam ter lidado bem com isso sem a intervenção de governos. Políticas de governos em todo o mundo foram uma distração enorme. Todos os dias, [Donald] Trump vai à TV e fala sobre seu glorioso banimento de viagens, mas que foi um desastre, porque arruinou vidas.

Como o sr. compara Trump ao democrata Joe Biden?
JT - As políticas de Biden são provavelmente ainda piores que as de Trump. Se Biden vencer [a eleição americana], os republicanos vão se opor de maneira muito agressiva a ele e talvez consigam impedir algumas de suas piores políticas. Mas Trump está com muita dificuldade agora. Sua Presidência é um fracasso.

Por quê?
JT - Esse cara não é um liberal clássico. Ele não defende liberdade. É um populista, que escolhe suas posições com base em popularidade. Acredita em fronteiras fechadas para imigração e comércio. Metade da prosperidade americana desde a Segunda Guerra se baseou em imigração e livre comércio. E Trump começou a atacar ambos, fechou as fronteiras para o mundo. Perdemos influência. Não pudemos evitar que a China tomasse Hong Kong, esse é o tamanho da nossa perda de status.

Não há partes de sua agenda que são mais próximas do que liberais pensam, como desregulamentação, menos impostos, menos restrições ambientais?
JT - No primeiro ano de seu governo, ele desregulamentou muitas coisas, ajudou no crescimento econômico, cortou impostos. Com exceção da questão da imigração, estava fazendo um bom trabalho. Mas depois deu início à questão das tarifas, e aos ataques à China e à Europa. Todo dia ele acorda pensando em que novas tarifas ele pode impor.

Qual sua opinião sobre Bolsonaro?
JT - A política brasileira é muito confusa. Ele é um tanto imprevisível, às vezes você não sabe se ele está fazendo piada ou falando sério. De certa forma, acho que Bolsonaro tem sido melhor que Trump, porque ele tem muitos bons conselheiros a seu redor contra o socialismo, a favor da privatização. E não acho que seja um protecionista. Acho que ele cometeu erros durante o lockdown, parece vacilante entre fechar e abrir a economia.

Como o sr vê o futuro para os liberais?
JT - Há muitas evidências de que jovens de hoje, com idades entre 18 e 28 anos, são muito mais liberais do que pessoas mais velhas. Esses lockdowns serão o grande trauma nas vidas dessas pessoas, e eles nunca mais vão tolerá-los novamente.

Essa crise então fará surgir uma nova geração de liberais?
JT - Veremos uma grande reação a tudo isso, é uma geração que está cansada de que digam o que devem fazer. Seus avós nunca foram submetidos a essas bobagens, e eles também lidaram com vírus. Não tiveram que enfrentar um estado policial totalitário. Por que os jovens de hoje deveriam? Precisamos de um movimento anti-lockdown, para que nunca mais tenhamos isso, sob nenhuma circunstância.

Publicado em Sat, 08 Aug 2020 03:50:00 -0300







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