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John Hume, ganhador do Nobel por acordo de paz na Irlanda do Norte, morre aos 83

Por: FOLHAPRESS -
03/08/2020 às 13:00
Brasil e Mundo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - John Hume, líder partidário católico e um dos principais responsáveis pelo acordo de paz da Irlanda do Norte, morreu nesta segunda-...


SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - John Hume, líder partidário católico e um dos principais responsáveis pelo acordo de paz da Irlanda do Norte, morreu nesta segunda-feira (3), aos 83 anos.
Ele foi o ganhador do Prêmio Nobel da Paz pelo papel que desempenhou para dar fim a mais de 30 anos de violência na região britânica marcada por conflitos entre católicos e protestantes.
De acordo com familiares, Hume morreu durante as primeiras horas da manhã desta segunda em uma casa de repouso em Londonderry, sua cidade natal.
"Eu decidi que, como representante, era meu dever fazer todo o possível para instaurar a paz em nossas ruas", declarou Hume ao receber o Nobel, em 1998. "Pensava que uma maneira decidida e direta de conseguir era iniciar um diálogo direto com as organizações que participavam na violência."
Hume compartilhou o prêmio com David Trimble, primeiro-ministro da Irlanda do Norte à época e líder protestante do Partido Unionista do Ulster.
"Desde o início dos conflitos, John pedia às pessoas que cumprissem seu objetivo pacificamente e criticava constantemente aqueles que não percebiam a importância da paz", disse Trimble a uma rádio britânica nesta segunda, saudando a "grande contribuição" de Hume para o processo de paz.
Nascido em Londonderry em 18 de janeiro de 1937, Hume pensava em se tornar padre, mas, depois de passar pelo seminário, mudou de ideia e se formou em história e francês.
Foi professor em sua cidade natal, devastada pelo conflito, onde começou a atuar politicamente. Em Londonderry, as passeatas pelos direitos civis, duramente reprimidas pela polícia britânica, deram início em 1968 ao violento período do conflito norte-irlandês.
Eleito como candidato independente ao Parlamento da província britânica em 1969, integrou, no ano seguinte, o grupo de fundadores do moderado Partido Social Democrata e Trabalhista (SDLP).
Pai de cinco filhos, foi eleito em 1983 para o Parlamento britânico e ajudou, nos anos seguintes, a levar o conflito norte-irlandês às manchetes internacionais. Para os historiadores, a capacidade de Hume em comunicar sua mensagem política e forjar alianças foi decisiva para o processo de paz.
Em 1993, o líder católico fez parte das primeiras tentativas de diálogo com Gerry Adams, que, na época, era o líder do Sinn Féin. O partido era a ala política do Exército Republicano Irlandês (IRA), grupo terrorista responsável por vários ataques que causaram, até a assinatura do acordo de paz, mais de 3.600 mortes.
"Enquanto outros ficaram presos ao ritual político de condenação, John Hume teve a coragem de correr riscos reais pela paz", afirmou Adams, em comunicado. "Quando outros falaram sem parar sobre paz, John aceitou o desafio e ajudou a fazer a paz acontecer."
As negociações ajudaram a pavimentar o caminho para uma iniciativa conjunta dos governos britânico e irlandês, em 1993, que gerou um processo de paz e uma trégua anunciada pelo IRA no ano seguinte.
Quatro anos depois, em 1998, um pacto histórico, que ficou conhecido como Acordo de Belfast, ou Acordo da Sexta-Feira Santa, colocava fim a 22 meses de negociação e a séculos de conflitos.
Como líder do SDLP, Hume foi um importante defensor da não violência, à medida que surgiam brigas entre nacionalistas irlandeses que queriam uma Irlanda unida e forças pró-britânicas, incluindo o Exército Britânico, que buscava manter o status da região.
"John Hume era um titã político, um visionário que se recusava a acreditar que o futuro tinha que ser o mesmo do passado", disse o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, que ocupava o cargo quando foi assinado o Acordo de Belfast. "Sua contribuição para a paz na Irlanda do Norte foi épica."
Para John Major, premiê britânico entre 1990 e 1997, Hume "conquistou um lugar de honra na história da Irlanda". "Poucos investiram tanto tempo e energia na busca pela paz e poucos tentaram mudar atitudes arraigadas com tanta determinação."
O atual líder do partido do qual Hume fazia parte, Colum Eastwood, disse que sua morte "representa a perda da figura política mais significativa da Irlanda do século 20".
Simon Coveney, ministro das Relações Exteriores irlandês, afirmou que "todos devem inclinar a cabeça em respeito e agradecimento" a Hume. "Que homem extraordinário, pacificador, político, líder, defensor dos direitos civis, homem de família, inspiração."
A família de John Hume disse que, devido às atuais restrições impostas como medidas de contenção ao coronavírus, o funeral será organizado com regras muito rígidas quanto ao número de participantes. No futuro, de acordo com o comunicado, será organizada uma nova homenagem.

Publicado em Mon, 03 Aug 2020 12:38:00 -0300







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