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Médica rio-pretense defende o uso da Ivermectina para o tratamento de Covid-19
Foto por: Reprodução
Médica rio-pretense defende o uso da Ivermectina para o tratamento de Covid-19

Médica de Rio Preto indica ivermectina contra Covid e é criticada por colegas

Por: Karol Granchi
06/07/2020 às 17:57
Saúde

Vídeo de médica rio-pretense defendendo a eficácia do uso da ivermectina no tratamento da Covid-19 causa polêmica entre médicos e pesquisadores


Um vídeo feito pela cirurgiã vascular Maria Cristina Bizari, de Rio Preto, defendendo a eficácia do uso da ivermectina (medicamento indicado comumente no tratamento para vermes e parasitas) no tratamento da Covid-19 e compartilhado nas redes sociais, causou polêmica entre médicos e pesquisadores.

No vídeo, a médica justifica que o vermífugo é usado na África no tratamento de filariose (doença parasitária causada por vermes e transmitida por picadas de insetos), além de ter sido recomendado pelo governo da Austrália (veja o vídeo abaixo).

"Se a gente for comparar o número de Covid no mundo e o número de óbitos, a África está bem atrás e, por isso também, lá na Austrália eles não aplicaram o lockdown. Os australianos receberam a orientação do governo, no início da pandemia, de que o governo sugeria que eles tomassem ivermectina. Eles tomaram e lá estão. Um número bem diminuído de casos e número de óbitos lá embaixo. Por isso resolvi falar com vocês e estou me colocando à disposição para orientá-los sobre o protocolo”, afirmou.

O posicionamento da médica causou polêmica imediata em Rio Preto. O virologista e professor da Famerp, Maurício Lacerda Nogueira, que integra o Comitê Gestor de Combate ao Coronavírus da prefeitura e que coordena a fase 3 da Coronavac no município, afirma que a droga não serve para o tratamento ou prevenção da Covid.

"A droga é muito segura e efetiva, mas para piolhos e sarnas. Essa droga não serve para Covid porque, para ter ação antiviral, precisa ser usada em uma dose 17 vezes maior que a dose tóxica, que é quando o remédio começa a fazer mal, são doses proibidas. Pra você atingir a concentração de ivermectina que realmente faz a efeito que a doutora acha que faz, a pessoa vai tomar uma dose letal de ivermectina. Para tomar a dose antiviral, a pessoa morreria antes. Então, o que eles estão tomando não adianta nada”, explicou.

No vídeo, a cirurgiã vascular afirma ainda que a ivermectina é um medicamento antigo, seguro e com facetas novas, que está no mercado há mais de 40 anos e tem se mostrado eficaz no tratamento terapêutico da Covid-19 em outros países.

"Essa medicação pode ser considerada uma sabotadora do vírus. Ela age como uma porteira, ela fecha o núcleo da célula de maneira que o parasita ou o vírus não adentre esse núcleo celular e não gere toda aquela chuva de citocinas, que leva a fase três da Covid-19, a gente chama de tempestade de citocinas”, disse.

Para o virologista da Famerp, as declarações são irresponsáveis. "Além de não oferecer solução para o problema, essas declarações acabam passando sensação de falsa segurança – a pessoa acha que não precisa mais usar máscara e fazer o isolamento. Mas na verdade isso só piora a situação. Isso é uma vergonha para a classe médica”, ressaltou Nogueira. 

Código de ética

O médico sanitarista e ex-secretário municipal de Saúde Cacau Lopes considera a colocação da colega antiética. "Se a gente tivesse um CRM (Conselho Regional de Medicina) sério, essa médica teria que ser punida, porque nós, médicos e médicas, temos que cumprir um código de ética médica, que diz que a primeira coisa que temos que fazer na nossa prática é usar dos melhores conhecimentos científicos existentes. E conhecimento científico existente, que é o conhecimento pra você poder avaliar se tal medicamento tem efeito positivo ou negativo, ou efeito nenhum sobre determinada doença, isso é feito em ensaios clínicos. Não é algo baseado no meu conhecimento apenas”, disse.

Cacau ressaltou ainda sobre a validação da medicina terapêutica pela comunidade científica. "A ivermectina é usada no tratamento de verminose, não tem nenhuma comprovação, nada em relação a tratamento de viroses. Isso não só é uma irresponsabilidade como uma medida antiética. A medicina terapêutica tem que ser validada pela comunidade científica, por todo conhecimento que está disponível no mundo e o conhecimento mostra que esse medicamento, assim como tentaram fazer com a cloroquina, não tem nenhum efeito”, afirmou.

Pesquisa

A professora adjunta do Departamento de Biologia e Virologia da Unesp em Rio Preto, Paula Rahal, ressaltou a importância do trabalho de pesquisa e aprovação de órgãos reguladores na administração de medicamentos e comentou sobre os trabalhos realizados com a ivermectina no tratamento da Covid.

"Sem pesquisa a gente não tem como responder. Foi uma pesquisa, uma publicação in vitro e ainda não tem testes in vivo. Então, precisa de mais pesquisas para consolidar, ou não, a medicação. Sem pesquisa, não é qualquer um da área da saúde que pode se basear  - se ela não for pesquisada e seja aprovada pela Anvisa, se existem vários protocolos para poder liberar uma medicação. Então, não é ir tomando (o medicamento) só porque surgiu uma única pesquisa. Isso tem que ser comprovado mundialmente, com outras pessoas, outras visões, outros grupos de pessoas que vão administrar, então é muito mais complexo que um único trabalho e as pessoas irem tomando”, ressaltou.

Falta embasamento

Por meio de nota, a Sociedade de Medicina e Cirurgia (SMC) de Rio Preto informou que segue as orientações da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) sobre o uso de medicamentos para a Covid-19. "Até o presente momento, falta embasamento científico para tratamento eficaz da covid, infelizmente”, informou a SMC.









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