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Atleta paraolímpico mais rápido do mundo doma buracos para treinar

Por: FOLHAPRESS - CARLOS PETROCILO
22/05/2020 às 17:30
Esportes

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O município de São José do Brejo do Cruz, no sertão paraibano, reúne cerca de 1.800 moradores. Entre eles, atualmente, está o atl...


SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O município de São José do Brejo do Cruz, no sertão paraibano, reúne cerca de 1.800 moradores. Entre eles, atualmente, está o atleta paraolímpico mais rápido do mundo.
No dia 18 de março, quase um mês antes de o governo da Paraíba decretar estado de calamidade pública diante da pandemia de Covid-19, Petrucio Ferreira, 23, deixou o seu apartamento em João Pessoa, a rotina de treinos nos pisos emborrachados e viajou mais de 400 km para se isolar no sítio dos pais, na região onde nasceu.
Para manter a forma, ele treina pelo menos cinco dias por semana em um campo de futebol inutilizado do local, em que o principal desafio é desviar dos buracos e pedras.
São trotes e corridas na terra, sessões de arrancadas com a ajuda de elásticos, além de circuitos com contrapesos para fortalecimento muscular.
"Por correr diariamente no mesmo lugar, estou bem mais acostumado, mas sempre treino atento, olhando para o chão", afirma Petrucio, sobre a estratégia para domar o terreno acidentado.
O treinador Pedro de Almeida Pereira envia uma planilha de treinos e eventualmente realiza uma videoconferência para orientar o seu atleta.
"Quero que ele, neste período de isolamento social, melhore a mobilidade, a flexibilidade muscular, além dos níveis de resistência, deixando o organismo mais resistente a viroses", diz o técnico.
Petrucio compete na categoria T47, para amputados de braço abaixo do cotovelo, e detém o recorde dos 100 metros, com o tempo de 10s42 cravado na semifinal do último Campeonato Mundial de Atletismo, em novembro de 2019. A marca é a melhor da história em qualquer classe do esporte adaptado.
O desempenho do brasileiro rendeu um convite da federação internacional para que ele participe de uma etapa da Diamond League entre os atletas do esporte convencional. A competição ainda está prevista para começar em agosto.
A prioridade é buscar na adiada Paraolimpíada de Tóquio-2021 a sua segunda medalha de ouro nos Jogos -a primeira foi no Rio de Janeiro, em 2016, quando também ganhou duas pratas.
Diante das incertezas com o calendário, o atleta diz que tenta desviar os pensamentos para combater a ansiedade e procura mentalizar cada detalhe e movimento que executará quando voltar às competições. "Esse período vai me deixar mais maduro."
A escolha de viajar para São José do Brejo do Cruz foi tomada com o apoio de sua equipe técnica e do agente Basílio Emídio de Morais Júnior.
A paisagem bucólica do sítio de sete hectares, com plantações de milho e feijão e criações de vacas e ovelhas, contrasta com o confinamento em seu apartamento de 83 metros quadrados.
"Sou muito agitado, não estaria bem isolado no apartamento", diz. "Se eu conseguir manter 50% do meu condicionamento físico já estará ótimo."
Ele conta que, ao chegar à cidade, permaneceu por 14 dias sem deixar um dos cômodos do sítio e colocou suas roupas, inclusive as limpas, de molho com água e sabão.
Foi nessa região que Petrucio nasceu e, aos dois anos de idade, perdeu a mão e parte do braço esquerdo após manusear uma máquina de moer capim no sítio em que o pai trabalhava na época.
O maior sonho, desde a infância, era ser jogador de futebol. Em 2013, quando Petrucio tinha 16 anos e participava de uma competição escolar de futsal, Ricardo Ambrósio, funcionário do governo da Paraíba, notou que o garoto tinha velocidade e o inscreveu em uma competição regional dos Jogos Paraescolares.
Na estreia, ele conquistou a etapa regional e, classificado à fase nacional, também ficou com o título na prova dos 100 metros em São Paulo. Um ano depois, em 2014, foi convocado para representar o Brasil nos Jogos Para-Sul-Americanos em Santiago.
Depois disso, Petrucio contou com a ajuda de uma vizinha para se mudar para João Pessoa e começar a treinar com Pereira. "Não tinha condições de pagar moradia e nem de me alimentar", relembra o atleta que hoje defende o clube de São Paulo Pinheiros.
Em condições bem diferentes da infância, ele volta agora a passar um longo período no sítio. No confinamento, além de matar a saudade dos pais e da vida no campo, o recordista mundial também pode aproveitar a companhia do sobrinho recém-nascido João Heitor.

Publicado em Fri, 22 May 2020 17:00:00 -0300







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