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Com deficiência nos braços, Luquinha vira baterista e redefine o termo superação

Por: Augusto Fiorin, especial para o DLNews
16/02/2020 às 18:35
Cidades

Desde muito pequeno, Lucas Fayssal foi um apaixonado pela música. Seu sonho era aprender a tocar um instrumento e com ele se apresentar nos mais diversos palcos do País.


Mas, para realizar o desejo de ser um baterista profissional, Luquinha, como é conhecido, teria de romper barreiras de todas as formas. Com os membros superiores mais curtos, o rio-pretense foi à luta e, hoje, escreve uma história de superação possível graças ao bom e velho rock n´roll.

Inspirado em Rick Allen, do Def Leppard, Fayssal faz da casa simples do Jardim Urano cenário para arrepiantes solos, numa constatação de que a música realmente não tem limites. 

Sem os antebraços, tem na bateria adaptada a fiel companheira. E hoje, aos 35 anos, decidiu transformar sua história em palestras motivacionais, mostrando ao Brasil como se faz para seguir a vida mesmo com as inúmeras adversidades.

Em igrejas, escolas e instituições, lá está Luquinha deixando mensagens de otimismo e inspiração. Para ele, a acomodação pode ser o fundo do poço. "Precisamos acreditar. A limitação física não pode ser superior às metas. Podemos conquistar qualquer coisa, inclusive as mais impossíveis”.

Lucas é mesmo um sobrevivente. Filho de dona Aparecida e seu Luís Carlos, há duas semanas foi submetido à 13ª cirurgia renal, problema que o acompanha desde criança.

Devido a outras enfermidades, cada procedimento exige internação entre seis e oito dias.  "É preciso checar todas as condições”, declara.

Aos três meses foi desenganado pelos médicos devido a um distúrbio no sangue incontrolável. Foi batizado às pressas pela família, afinal, para a medicina, teria apenas mais seis horas de vida. "Deus operou um milagre naquele momento”, diz, emocionado.

Se não bastasse, também foi vítima de um atropelamento na avenida Potirendaba, próximo à casa em que vive. O acidente ocasionou diversos traumas e lesões. Dias depois, teve o baço retirado. "Também não foi dessa vez”, brinca.

Voltando à música, a paixão pela bateria começou bem cedo, quando ouvia na companhia do pai as mais diversas canções no antigo rádio. Prestava atenção em todos os instrumentos, mas os olhos brilhavam mesmo pela percussão. Os ouvidos afinados não se distanciavam por um minuto sequer do som aveludado.

Depois de muitos ensaios, aos 17 anos driblou o medo e se inscreveu em um curso gratuito. Na primeira tentativa, frustração. Na segunda, com o apoio do então professor Tânis Sarchis - que adaptou o instrumento à sua necessidade -, Fayssal viu o som seco e agudo do tambor encher seu coração de esperança.

Não demorou e, logo, Lucas já se apresentava na igreja Comunidade Cristã Renovada. Integrava, ainda, uma banda de rock. Seu estímulo era o grupo gaúcho Hangar, de quem  é fã declarado. Além do imenso prazer, a bateria teve importante papel no seu desenvolvimento motor.

Juntamente com as sessões de fisioterapia na antiga Associação Rio-pretense dos Deficientes Físicos (Ardef), o instrumento possibilitava mais qualidade de vida ao músico, que já conseguia realizar tarefas antes impensáveis, como amarrar o próprio cadarço. "Me sentia muito mais feliz”, ressalta.

Para ocupar ainda mais o tempo, passou a escrever e compor. Guarda com carinho um caderno com poesias, textos e os temas de cada palestra, tudo elaborado tim-tim por tim-tim. Não é de sair, está sempre ao lado dos pais. Ainda assim, sonha em constituir uma família e continuar redigindo a sua história. Quer que cada vez mais as pessoas aprendam com as incertezas e passem a praticar o conceito de inclusão.

Ao final de mais um solo, o batera se levanta, joga as baquetas para o alto e vocaliza com veemência trecho de uma música da banda Oficina G3: "os meus sonhos o vento não pode levar”. E Luquinha segue em frente. É o Rick Allen rio-pretense propagando o som do vencer.







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