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Salto em número de casos do coronavírus derruba previsões econômicas globais

Por: FOLHAPRESS - ANA ESTELA DE SOUSA PINTO
13/02/2020 às 20:00
Brasil e Mundo

BRUXELAS, BÉLGICA (FOLHAPRESS) - O aumento drástico no número de atingidos e mortos pelo coronavírus (covid-19) anunciado pela China derrubou estimativas econôm...


BRUXELAS, BÉLGICA (FOLHAPRESS) - O aumento drástico no número de atingidos e mortos pelo coronavírus (covid-19) anunciado pela China derrubou estimativas econômicas de empresas, analistas e investidores em várias partes do mundo nesta quinta-feira (13).
A relação é direta: o país asiático é líder global em exportações e importações, e a epidemia (que já atinge 60 mil pessoas e deixou 1.370 mortos) contamina a atividade global pelas duas pontas do comércio.
De um lado, quarentenas, internações e restrições de mobilidade paralisaram empresas chinesas e derrubaram o fornecimento de insumos como autopeças e componentes eletrônicos, afetando a produção de setores relevantes em outros países, como montadoras e empresas de tecnologia.
De outro lado, a redução da atividade chinesa significa menos demanda por commodities e produtos industriais vendidos pelo resto do mundo.
O país representa cerca de 11,5% do comércio global de produtos e 6,4% do de serviços, segundo a consultoria McKinsey, e é o principal parceiro econômico de grandes potências e blocos econômicos, como União Europeia e Japão.
Das 500 maiores companhias listadas pela revista Fortune, 110 são chinesas.
Ainda não há tempo nem dados suficientes para um cálculo preciso, mas agências, bancos, consultorias e a Comissão Europeia trataram nesta quinta-feira do risco da epidemia sobre a atividade econômica.
Analistas americanos divulgaram expectativas de que a atividade global do primeiro trimestre fique até 0,5 ponto percentual menor que a do primeiro trimestre de 2019, após o Fed (Banco Central americano) ter afirmado em audiência no Congresso dos EUA que está "monitorando de perto" a epidemia.
Na zona do euro, a previsão de crescimento para 2020 foi mantida em 1,2%, mas o comissário de Economia, Paolo Gentiloni, afirmou que ainda há muita incerteza sobre a recuperação da região e que a epidemia de covid-19 representa um risco tanto maior quanto mais ampla e longa for a epidemia.
O índice Stoxx Europe 600, que reúne as maiores empresas do continente, caiu 1 %, revertendo o otimismo dos números anteriores com uma suposta redução na velocidade da epidemia.
O Deutsche Bank projetou queda de até 1,4 ponto percentual no crescimento trimestral do PIB da China (em relação ao primeiro trimestre de 2019), 0,4 ponto percentual no Japão e 0,1 ponto percentual de queda no crescimento dos Estados Unidos e da zona do euro no primeiro trimestre (sobre o mesmo período de 2019).
Para a Alemanha, a previsão do banco é de redução de 0,2 ponto percentual de crescimento no trimestre sobre o mesmo período de 2019, o que indica expansão zero. Se confirmada a estimativa, o país entraria na chamada recessão técnica (dois trimestres consecutivos de queda em relação ao trimestre anterior).
Maior economia europeia, a Alemanha é mais afetada justamente pela importância do setor automotivo em sua atividade e pela dependência que o país tem da China tanto no fornecimento de peças quanto na compra de seus veículos.
A China é o maior mercado de carros do mundo, absorvendo cerca de um terço da produção e 17% das exportações europeias de automóveis. A fatia sobe para 30% das vendas de montadoras dos principais países da zona do euro (Alemanha, França, Itália e Espanha), mostram cálculos divulgados nesta quinta pela consultoria independente britânica TS Lombard.
Segundo Davide Oneglia, economista da consultoria, as cadeias de produção chinesas e alemã estão profundamente conectadas e o país europeu não tem alternativas viáveis para os cerca de 2,6 bilhões de euros em autopeças que recebe da China todos os anos.
Um abalo na maior economia do continente europeu pode ter efeito dominó em toda a zona do euro. Analistas já discutem a possibilidade de o governo alemão elevar os gastos públicos para incentivar o crescimento, algo que não acontece desde a crise de 2008.
A epidemia provocou também redução importante na atividade chinesa em logística e transportes, que atinge em cheio o setor de petróleo, do qual a China é a principal compradora, com 14% do consumo global do produto, segundo a Agência Internacional de Petróleo (IEA, na sigla em inglês).
Nesta quinta, a agência afirmou que a demanda global pelo produto deverá ter neste primeiro trimestre a primeira queda em uma década, por causa do efeito da epidemia na economia chinesa.
De 100,7 milhões de barris por dia no final de 2019, a demanda deve cair para 100,3 milhões diários no primeiro trimestre. A agência também cortou para menos da metade sua previsão de crescimento anual na demanda de petróleo,  que levaria ao menor crescimento anual desde 2011.
Segundo a IEA, a situação hoje é muito diferente da que se verificou em 2003, durante a epidemia de Sars: "A China é hoje central para as cadeias de suprimento e houve um crescimento enorme nas viagens internacionais entre o país asiático e o resto do mundo", diz o comunicado. A demanda de petróleo da china mais que dobrou entre 2019 e 2003.
Parte da redução no consumo de petróleo vem da redução no consumo interno chinês, revela comunicado da gigante de comércio eletrônico Alibaba, maior companhia do país.
Em pronunciamento após a divulgação de resultados da empresa, o presidente-executivo, Daniel Zhang, disse que a epidemia está mantendo paralisados os setores de comércio e logística e que espera um impacto "significativo" nos lucros no curto prazo.
Embora tenha chamado de "relevante" o número de pacotes não entregues nas últimas duas semanas, o executivo não informou o número exato nem a estimativa de prejuízo. "É muito cedo para quantificar, mas estamos monitorando de perto o desafio", disse.
Para a americana Ralph Lauren, que divulgou a paralisação de dois terços das lojas do grupo em território chinês, a epidemia de covid-19 deve provocar perdas nas vendas calculadas em US$  70 milhões (perto de R$ 300 milhões) neste trimestre, dos quais US$ 45 milhões se referem às operações asiáticas e o restante, à redução no número de turistas chineses em outros países do mundo.
A fabricante de bebidas Pernod Ricard cortou sua expectativa de lucro anual de até 7% para até 4% (a China representa 10% das vendas e 15% dos lucros do grupo).
A concorrente Diageo também reduziu as expectativas de crescimento, devido a "dúvidas sobre o comércio global".

Empresas aéreas
- Companhias aéreas como Air China, Air France, British Airways, Air Canada, Lufthansa, American Airlines, United Airlines e Delta suspenderam voos para a China.
- A Airbus fechou uma linha de montagem na China
"Várias grandes companhias aéreas reduziram suas conexões para e a partir da China. Isso representa uma perda de faturamento", afirmou o diretor comercial da Boeing, Ihssane Mounir

Alibaba
- O Alibaba Group alertou para queda nas receitas de seus negócios de comércio eletrônico neste trimestre
- O presidente-executivo, Daniel Zhang, disse que o atraso na retomada das operações após o Ano Novo Lunar, devido ao surto causou problemas para os comerciantes e atrasos no cumprimento de pedidos.
"Nós, como outras empresas, não estamos imunes à oferta e demanda", disse a vice-presidente financeira, Maggie Wu

Apple
- A Apple reabrirá algumas lojas em Pequim a partir de 14 de fevereiro, com o horário de funcionamento reduzido, enquanto outras de suas lojas na China continental permanecerão fechadas

Cruzeiros
- Diamond Princess está em quarentena no porto japonês Yokohama, com seus 3.600 passageiros e tripulantes, com ao menos 175 infectados pelo vírus
- Há uma segunda embarcação no Mar do Sul da China que foi recusado em cinco portos
- Agentes de viagens dizem que impacto derrubou reservas de 10% a 15%
"Se a indústria não agir para proteger isso, poderá afetar a confiança do consumidor na China em relação a cruzeiros durante muito tempo", disse James Hardiman, diretor-gerente de pesquisa de investimentos na Wedbush Securities, que acompanha a indústria de cruzeiros.

Montadoras
- A FCA não descarta ser obrigada a parar a produção por problemas de abastecimento causado pelo coronavírus
- A Hyundai suspendeu a produção na Coreia do Sul

Feiras e eventos cancelados
- Mobile World Congress 2020, em Barcelona
- Exibição do grupo de relógios Swatch, em Zurique
- Art Basel, feira de arte contemporânea, em Hong Kong
- Conferência e exposição sobre aviação, em Xangai
- GP da fórmula 1 em Xangai

Commodities
- Como resultado da epidemia, a demanda por petróleo deve cair no primeiro trimestre pela primeira vez em dez anos, de acordo com a Agência Internacional de Energia
- O banco holandês Rabobank vê venda de soja do Brasil à China 15% menor em 2020

Publicado em Thu, 13 Feb 2020 19:53:00 -0300







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