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Literatura registrada por gravadora preserva arco de modernismo

Por: FOLHAPRESS - BRUNO MOLINERO
22/01/2020 às 13:00
Famosos

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Se você estivesse no Rio de Janeiro nos anos 1950 e quisesse encontrar algum dos principais escritores da época, a grande chance não...


SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Se você estivesse no Rio de Janeiro nos anos 1950 e quisesse encontrar algum dos principais escritores da época, a grande chance não era visitar a Academia Brasileira de Letras ou qualquer evento da elite carioca. O endereço certo para isso era a livraria São José.
Lá, você esbarraria em nomes como Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Jorge Amado, Vinicius de Moraes, entre outros.
Todos costumavam passar no lugar para conhecer lançamentos, comprar livros usados, ver títulos do selo da livraria e bater um papo com um dos sócios, Carlos Ribeiro --que esteve, por dois anos, também à frente do selo Festa.
Não por acaso, quando o assunto é literatura, a gravadora tem números e nomes que impressionam. Dos 97 discos lançados entre 1955 e 1971, 56 têm a ver com o mundo editorial. Entre os escritores gravados, praticamente todos tiveram destaque no chamado "arco modernista brasileiro", período que vai da Semana de 1922 à construção de Brasília.
Mário de Andrade, por exemplo, teve textos lidos em dois discos --em um deles, com declamações do grupo Jograis de São Paulo, que, com quatro vozes, cria um efeito polifônico que faz os versos reverberarem em quem escuta.
Mas mais interessante são as gravações de escritores que estavam vivos, muitos deles clientes da livraria São José, que leram seus próprios textos. Surge, então, um Manuel Bandeira de voz débil, que dita os ritmos e quebras cantarolando e interpretando vozes.
Drummond também aparece com voz fina, mas com pleno domínio da poesia. O jogo que faz em "Caso do Vestido", ora acelerando a leitura, ora dando pausas mais longas do que indica o poema impresso, revela novas possibilidades.
Enquanto Dorival Caymmi dedilha seu violão ao fundo, a voz de Jorge Amado recita a Bahia de forma solene, quase em oposição ao sol baiano. Já o chileno Pablo Neruda mantém a cadência durante todo o seu "Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada", que lembra um sermão de igreja.
Participam ainda João Cabral de Melo Neto, Guilherme de Almeida, Cecília Meireles, Murilo Mendes, Paulo Mendes Campos, Vinicius de Moraes, Mario Quintana, Érico Verissimo e vários outros.
A recuperação do selo Festa não traz apenas para o presente a voz desses escritores ou ajuda a iluminar pontos de seus textos que só são vistos com as leituras dos próprios autores. Mostra também que a mania de podcasts e de audiolivros, uma das principais apostas do mercado editorial hoje, não é tão nova assim --tem, pelo menos, 65 anos.

Publicado em Wed, 22 Jan 2020 12:35:00 -0300







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