A inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), desacelerou para 0,61% em abril...
A inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), desacelerou para 0,61% em abril, após subir 0,71% em março. É o que apontam os dados divulgados nesta sexta-feira (12) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Apesar de perder ritmo, o IPCA ficou acima das expectativas do mercado com a pressão dos preços de medicamentos e alimentos. Na mediana, analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam inflação de 0,55% em abril.
Com o resultado, o IPCA desacelerou a alta para 4,18% no acumulado de 12 meses. É o menor nível desde outubro de 2020 (3,92%). A variação era de 4,65% no acumulado até março de 2023.
Neste ano, o centro da meta de inflação, que serve como referência para o BC (Banco Central), é de 3,25%. O intervalo de tolerância é de 1,5 ponto percentual para mais (4,75%) ou para menos (1,75%).
Ou seja, a variação do IPCA até abril (4,18%) está abaixo do teto. A inflação, entretanto, tende a ganhar força novamente no segundo semestre de 2023, fechando o ano acima da meta, dizem analistas. Parte dessa previsão está associada à base de comparação.
Às vésperas das eleições de 2022, os preços de produtos como a gasolina foram reduzidos de maneira artificial pelo corte de tributos promovido pelo governo Jair Bolsonaro (PL).
Esse efeito deve sair do cálculo dos 12 meses até o final deste ano. A partir de julho, também há possibilidade de retorno integral de alíquotas de tributos federais sobre gasolina e etanol.
Na mediana, o mercado financeiro prevê IPCA de 6,02% até dezembro, conforme a edição mais recente do boletim Focus, divulgada pelo BC na segunda (8). Se a estimativa for confirmada, este será o terceiro ano consecutivo de estouro da meta de inflação.
De acordo com a economista Claudia Moreno, do C6 Bank, o IPCA deve ficar ainda mais próximo de 4% até junho, mas a desaceleração não deve seguir à frente.
"Nossa previsão é que o IPCA volte a acelerar já a partir do segundo semestre, quando o efeito da redução de impostos adotada pelo governo em 2022 tiver saído completamente da base do IPCA", diz Moreno.
Para analistas, os chamados núcleos de inflação, que desconsideram impactos mais voláteis sobre os preços, seguem em nível elevado, mesmo com a perda de ritmo do índice cheio.
Isso dificulta cortes na taxa básica de juros (Selic) pelo BC no curto prazo, segundo o economista João Rabe, da gestora EQI Asset. O Copom (Comitê de Política Monetária), ligado ao BC, volta a se reunir em junho para definir o patamar da Selic, atualmente em 13,75% ao ano.
A EQI Asset enxerga redução da taxa de juros só na primeira reunião do comitê em 2024, enquanto outras instituições do mercado financeiro preveem corte no segundo semestre deste ano.
"A agente esperava uma desaceleração mais forte do IPCA em abril. A surpresa foi muito ligada à parte de alimentação", afirma Rabe. Ele estimava IPCA de 0,51% para o mês passado.
ALTA NOS REMÉDIOS E NA ALIMENTAÇÃO
Conforme o IBGE, todos os nove grupos de produtos e serviços pesquisados no IPCA apresentaram alta de preços em abril.
O destaque veio do ramo de saúde e cuidados pessoais. O ramo teve o principal impacto (0,19 ponto percentual) e a maior variação (1,49%) do índice.
"O resultado nesse grupo foi influenciado pela alta nos produtos farmacêuticos, justificada pela autorização do reajuste de até 5,60% no preços nos medicamentos, a partir de 31 de março", disse André Almeida, analista da pesquisa do IBGE.
Os produtos farmacêuticos subiram 3,55% em abril. A contribuição foi de 0,12 ponto percentual no IPCA.
Na sequência dos grupos, vieram alimentação e bebidas (0,71%) e transportes (0,56%). Os segmentos tiveram contribuição de 0,15 ponto percentual e 0,12 ponto percentual, respectivamente.
A aceleração observada em alimentação e bebidas (de 0,05% para 0,71%) foi influenciada pela alimentação no domicílio, que passou de baixa de 0,14% em março para alta de 0,73% em abril.
Houve avanço nos preços do tomate (10,64%), do leite longa vida (4,96%) e do queijo (1,97%). Do lado das quedas, os destaques foram cebola (-7,01%) e óleo de soja (-4,44%).
No grupo dos transportes, até houve desaceleração de março para abril (de 2,11% para 0,56%). A perda de ritmo refletiu a queda dos preços dos combustíveis (-0,44%), que haviam subido 7,01% no mês anterior.
Óleo diesel (-2,25%), gás veicular (-0,83%) e gasolina (-0,52%) recuaram em abril. O etanol avançou 0,92%.
Ainda em transportes, a pressão veio das passagens aéreas, que subiram 11,97% no mês passado, após queda de 5,32% em março. Os bilhetes tiveram uma contribuição individual de 0,07 ponto percentual no IPCA.
O índice de difusão, que mede o percentual de subitens com alta de preços, foi de 66% em abril. A medida ficou acima dos 60% de março deste ano e abaixo dos 78% de abril de 2022.
O IBGE ainda apontou uma aceleração no IPCA de serviços. Esse índice passou de 0,25% em março para 0,52% em abril com o impacto da carestia das passagens aéreas.
No acumulado de 12 meses, a inflação de serviços desacelerou de 7,63% para 7,49%. No ciclo mais recente, chegou a bater em 8,87% nos 12 meses até julho de 2022, em meio a um cenário de reabertura de empresas que haviam sido paralisadas pela pandemia.
LULA E BC
O BC vem mantendo a taxa básica de juros em 13,75% ao ano sob o argumento de que busca conter a inflação. Ao esfriar a demanda por bens e serviços, a medida tenta frear os preços e ancorar as expectativas para o IPCA.
Ao longo dos últimos meses, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, virou alvo de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em razão do patamar dos juros.
O efeito colateral esperado da Selic em dois dígitos é a perda de fôlego da atividade econômica, porque o custo do crédito fica mais alto para empresas e consumidores. Esse cenário preocupa Lula e aliados.
Em relatório, Luis Otavio Leal, economista-chefe da G5 Partners, avaliou que o IPCA em 12 meses até abril (4,18%) ainda está "poluído" pelas deflações do segundo semestre do ano passado. O analista prevê variação mais alta, de 6,1%, no acumulado de 2023.
Leal afirma que o resultado acima do esperado em abril não altera a expectativa de início da redução dos juros. Ele prevê redução da Selic somente em agosto, com a taxa fechando o ano em 12,5%.
Para o economista André Perfeito, o IPCA de abril sinaliza que o BC irá manter o "plano de voo". Isso significa que a expectativa é de cortes nos juros apenas no segundo semestre, conforme Perfeito.