Dr Maurício Lacerda Nogueira, virologista da Famerp/Funfarme falou sobre a doença que levou a OMS a classificar a Monkeypox como uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional e que atingiu sete rio-pretenses até o momento
A Varíola do Macaco foi descoberta em 1958, no Zaire (atual
República Democrática do Congo), mas ficou por décadas endêmica nesta região
africana, em 2022, começaram a surgir casos na Europa e o número de países
confirmando diagnósticos positivos tem aumentado e preocupado.
No último dia 23 de julho, a Organização Mundial da Saúde (OMS)
declarou que o atual crescimento de
casos de Monkeypox, também conhecida como Varíola do Macaco, no mundo se
enquadra como uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional
(ESPII).
A contar deste momento é necessário um empenho e consideração dos
poderes públicos e dos órgãos de saúde em formatar ações conjuntas para alertar
a população e executar ações para evitar que o vírus se espalhe ainda mais. São
19.000 casos no mundo até o momento, o
Brasil está em sexto lugar entre os países que já registraram casos.
Segundo a Agência Brasil até 05 de agosto, o Ministério da Saúde registrou 1.721 casos
de Monkeypox, com crescimento de mais de 60% somente na última semana.
O estado de
São Paulo lidera com quase 1.300 casos, seguido do Rio de Janeiro, com 190
casos, e Minas Gerais, com 75. Depois aparece o Distrito Federal, com 37 casos.
Em Rio
Preto, são 07 casos confirmados, homens na faixa entre 33 e 40 anos. Destes
casos, 01 paciente já se recuperou, os demais estão sendo monitorados pela Vigilância Epidemiológica.
O DLNews
conversou com o virologista da Famerp/Funfarme
Dr. Maurício Lacerda Nogueira, conhecido nacionalmente por sua atuação
profissional em pesquisas importantes no cenário Brasileiro.
Ele salienta
que a Monkeypox é de fácil prevenção, e que estamos vivendo o período final da
doença do século, a pandemia do coronavirus, e devemos tirar lições dela, mas
que não existe comparação de preocupação entre uma e outra.
Falou ainda
que Hospital de Base já tem equipes treinadas para lidar com a Monkeypox,
inclusive já está credenciado à realizar exames
no laboratório do próprio Hospital.
Elogiou a equipe de vigilância epidemiológica rio-pretense e de modo relativo disse que Rio Preto está tranquilo quanto ao
enfrentamento da nova doença.
Leia a entrevista completa:
Esta varíola Mokeypox já era conhecida?
A varíola é um vírus que foi erradicado,
ele não existe mais. Existem outros vírus da mesma família, mas são diferentes,
por exemplo : temos a dengue e a febre amarela, são doenças causadas por vírus
da mesma família, mas não são a mesma doença, tem coisas em comum, mas são
diferentes.
Estamos falando de um vírus, a varíola do
macaco, que na verdade não é do macaco. Este vírus é de roedores nativos da África,
mas que quando atinge macacos, causa uma doença que é semelhante a varíola
humana. Mas veja, isso em macacos de
espécie africana, que são muito diferentes dos macacos do Brasil. Essa doença,
quando atinge os grandes macacos africanos, costuma atingir as populações humanas
próximas, daí o nome de varíola dos macacos.
Existem outras varíolas, como a do Boi, que
originou a vacina usada para acabar com a doença. A varíola do boi é um
problema existente em regiões de gado leiteiro, como algumas regiões de Minas Gerais, no passado, já houve registro em Araçatuba, aqui próximo. A varíola do boi é comum no Brasil e na Índia.
O que aconteceu agora é que essa varíola
dos macacos já estava circulando na África de uma forma significativa há 3 ou 4
anos, as autoridades de saúde africanas já tinham alertado para esse problema,
porém a doença começou a tomar proporções
mundiais a partir de um ano para cá e gerou essa situação que temos
hoje.
O que o Senhor acha da quantidade de casos registrados aqui no Brasil?
Acho que quantidade de casos é proporcional a participação do Brasil na população mundial, vivemos numa sociedade extremamente globalizada, onde uma pessoa pega um avião e em 24 horas está do outro lado do mundo, então estamos vendo uma doença cosmopolita, não é uma doença da floresta da África, estamos vendo uma doença que está dentro das cidades transmitida por contato próximo entre as pessoas. A sociedade brasileira por um lado é extremamente pobre, por outro lado é extremamente sofisticada, frequenta grandes centros, viaja para diversos países e tem um convívio social intenso e isso esta gerando a transmissão dessa doença.
Por que a maioria dos casos está
sendo registrada em pessoas menores de 40 anos?
A vacinação terminou por volta de 1977, as pessoas que foram vacinas para varíola humana, utilizando o vírus da vaca, são protegidos contra a varíola do macaco. São vírus muito próximos, parecidos. Ainda não sabemos se é 100% de proteção, mas a proteção existe.
Os sintomas vem sempre acompanhados
de erupções ?
As vesículas e úlceras são as características
principais da doença, mas o que temos de diferente desta vez é que o vírus está
bem brando na forma de se apresentar, normalmente, nos casos mais antigos você
tinha, muitas lesões, atualmente temos visto
a maioria com uma lesão única, apenas 1 úlcera, o que torna mais difícil
o diagnóstico, até porque não é uma doença muito conhecida da comunidade
médica.
Em que casos a evolução da doença
pode levar a óbito?
Normalmente não evolui para óbitos, os maiores riscos são para pessoas imunossuprimidas* .
Na sua opinião qual o grau de
preocupação que as autoridades, os profissionais de saúde e a população devem
ter neste momento?
Estamos
vindo da época mais preocupante da história para a medicina e para uma geração, que foi a
pandemia do coronavirus, estamos vivendo o final da doença do século, e não tem
comparação entre as duas situações.
Envolve sim
um grau de preocupação, mas estamos
falando de uma doença que pode ser prevenida. É preciso treinar as equipes médicas e de saúde para detectar precocemente
a doença, deixar claro as estratégias de como evitar e se for o caso em
situações específicas termos disponíveis, tanto vacina, quanto medicações, que
são de alto custo, disponíveis. É uma doença que em 99 % dos casos, vai se
resolver com o tempo.
O que temos que
fazer é prevenir, ter um diagnostico
rápido, para que a pessoa que receba o resultado positivo, não transmita e
assim a gente consiga interromper a cadeia de transmissão.
A Monkeypox
é uma doença que se transmite apenas por
contato muito íntimo, com contato direto na lesão ou com roupas ou roupas de
cama/banho de quem está doente, é muito diferente do coronavirus onde é até de assintomático e de transmissão respiratória. Agora estamos
falando de uma doença objetiva e clara, é mais fácil de interromper.
E o Hospital de Base ?
O Hospital
de Base já está treinado e qualificado para o atendimento à Monkeypox, temos
equipe que tem experiência com isso, eu próprio já trabalhei com a varíola do
boi, conheço a doença, estamos atualizando frequentemente as informações para as equipes médicas
e de saúde.
Além do
Instituto Adolfo Lutz de Rio Preto, o
Hospital de Base recebeu autorização da
Secretaria de Saúde do Estado para
realizar exames de Monkeypox no
laboratório do Hospital, já estamos credenciados.
O que esperar, o que fazer?
Como disse,
estamos preparados e com a equipe atenta.
Temos uma
equipe de vigilância epidemiológica
altamente qualificada aqui em Rio Preto.
O que temos
que fazer é diagnóstico precoce e Educação.
Na verdade, temos que aprender com o que foi positivo em
relação ao coronavirus e tomar cuidado com o que aconteceu de ruim, como politização da doença por exemplo.
Espero que
esse problema, seja encarado como tem que ser encarado, como um problema de
saúde pública, normalmente você faz isso
com educação, informação e campanhas, então
se despolitizarmos esse assunto e o
tratarmos de forma técnica, teremos bons resultados. Temos que ser objetivos e diretos : como transmite, como se pega e como fazemos para
controlar, é dessa forma que os órgãos responsáveis devem tratar o assunto.
Principais sintomas
- Lesões que podem surgir no rosto,
dentro da boca, mãos, pés, peito, genitais ou ânus.
- Caroço no pescoço, axila e virilha.
- Febre.
- Dor de cabeça.
- Calafrios.
- Cansaço.
- Dor muscular.
Prevenção
- Evitar contato íntimo e/ou sexual com pessoas que
tenham lesões na pele.
- Usar máscara.
- Higienizar as mãos com frequência.
- Não compartilhar roupa de cama, toalhas,
talheres, copos, objetos pessoais e brinquedos sexuais.
Isolamento
Preferencialmente domiciliar até que todas as lesões desapareçam. O período médio para que uma
pessoa curada deixe de transmitir a doença é de três a quatro semanas após a
cicatrização completa das lesões na pele.
As pessoas imunossuprimidas que possuem algum tipo de deficiência imunológica como :
* Indivíduos
transplantados de órgão sólido ou de medula óssea;
* Pessoas
com HIV
* Pessoas
com doenças reumáticas
* Pessoas
com lúpus
* Pessoas
com artrite reumatóide
* Demais
indivíduos em uso de imunossupressores ou com imunodeficiências primárias;
* Pacientes oncológicos que realizaram tratamento quimioterápico ou radioterápico