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Dr Maurício Lacerda Nogueira, virologista Famerp/Funfarme
Foto por: facebook/@mauriciolacerdanogueira
Dr Maurício Lacerda Nogueira, virologista Famerp/Funfarme

Monkeypox, diagnóstico precoce e educação

Por: Cristina Barufi -MTB 92476/SP
13/08/2022 às 21:45
Saúde

Dr Maurício Lacerda Nogueira, virologista da Famerp/Funfarme falou sobre a doença que levou a OMS a classificar a Monkeypox como uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional e que atingiu sete rio-pretenses até o momento


A Varíola do Macaco foi descoberta em 1958, no Zaire (atual República Democrática do Congo), mas ficou por décadas endêmica nesta região africana, em 2022, começaram a surgir casos na Europa e o número de países confirmando diagnósticos positivos tem aumentado e preocupado.

No último dia 23 de julho, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que o atual crescimento  de casos de Monkeypox, também conhecida como Varíola do Macaco, no mundo se enquadra como uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII).

A contar deste momento é necessário um empenho e consideração dos poderes públicos e dos órgãos de saúde em formatar ações conjuntas para alertar a população e executar ações para evitar que o vírus se espalhe ainda mais. São 19.000 casos no mundo  até o momento, o Brasil está em sexto lugar entre os países que já registraram casos.

Segundo a Agência Brasil até 05 de agosto,  o Ministério da Saúde registrou 1.721 casos de Monkeypox,  com crescimento de mais de 60% somente na última semana.

O estado de São Paulo lidera com quase 1.300 casos, seguido do Rio de Janeiro, com 190 casos, e Minas Gerais, com 75. Depois aparece o Distrito Federal, com 37 casos.

Em Rio Preto, são 07 casos confirmados, homens na faixa entre 33 e 40 anos. Destes casos, 01 paciente já se recuperou, os demais estão sendo monitorados pela Vigilância Epidemiológica.

O DLNews conversou com o virologista da Famerp/Funfarme  Dr. Maurício Lacerda Nogueira, conhecido nacionalmente por sua atuação profissional em pesquisas importantes no cenário Brasileiro.

Ele salienta que a Monkeypox é de fácil prevenção, e que estamos vivendo o período final da doença do século, a pandemia do coronavirus, e devemos tirar lições dela, mas que não existe comparação de preocupação entre uma e outra.

Falou ainda que Hospital de Base já tem equipes treinadas para lidar com a Monkeypox, inclusive já está credenciado à realizar exames  no laboratório do próprio Hospital.  Elogiou a equipe de vigilância epidemiológica  rio-pretense e de modo relativo disse  que Rio Preto está tranquilo quanto ao enfrentamento da nova doença.

Leia a entrevista completa:

Esta varíola Mokeypox já era conhecida?

A varíola é um vírus que foi erradicado, ele não existe mais. Existem outros vírus da mesma família, mas são diferentes, por exemplo : temos a dengue e a febre amarela, são doenças causadas por vírus da mesma família, mas não são a mesma doença, tem coisas em comum, mas são diferentes.

Estamos falando de um vírus, a varíola do macaco, que na verdade não é do macaco. Este vírus é de roedores nativos da África, mas que quando atinge macacos, causa uma doença que é semelhante a varíola humana.  Mas veja, isso em macacos de espécie africana, que são muito diferentes dos macacos do Brasil. Essa doença, quando atinge os grandes macacos africanos,  costuma atingir as populações humanas próximas, daí o nome de varíola dos macacos. 

Existem outras varíolas, como a do Boi, que originou a vacina usada para acabar com a doença. A varíola do boi é um problema existente em regiões de gado leiteiro, como algumas regiões de  Minas Gerais, no passado, já houve registro em Araçatuba, aqui próximo. A varíola do boi é comum  no Brasil e na Índia.

O que aconteceu agora é que essa varíola dos macacos já estava circulando na África de uma forma significativa há 3 ou 4 anos, as autoridades de saúde africanas já tinham alertado para esse problema, porém a doença começou a tomar proporções  mundiais a partir de um ano para cá e gerou essa situação que temos hoje.

O que  o Senhor acha da quantidade de casos registrados aqui no Brasil?

Acho que quantidade de casos é proporcional a participação do Brasil  na população mundial, vivemos numa sociedade extremamente globalizada, onde uma pessoa pega um avião e em 24 horas está do outro lado do mundo, então estamos vendo uma doença cosmopolita, não é uma doença da floresta da África, estamos vendo uma doença que está dentro das cidades transmitida por contato próximo entre as pessoas.  A sociedade brasileira por um lado é extremamente pobre, por outro lado  é extremamente sofisticada, frequenta grandes centros, viaja para diversos países e tem um convívio social intenso e isso esta gerando a transmissão dessa doença.

Por que a maioria dos casos está sendo registrada em pessoas menores de 40 anos?

A vacinação terminou por volta de 1977, as pessoas que foram vacinas para varíola humana, utilizando o vírus da vaca, são protegidos contra a varíola do macaco. São vírus muito próximos, parecidos. Ainda não sabemos se é 100% de proteção, mas a proteção existe.

Os sintomas vem sempre acompanhados de erupções ?

As vesículas e úlceras são as características principais da doença, mas o que temos de diferente desta vez é que o vírus está bem brando na forma de se apresentar, normalmente, nos casos mais antigos você tinha, muitas lesões, atualmente temos visto  a maioria com uma lesão única, apenas 1 úlcera, o que torna mais difícil o diagnóstico, até porque não é uma doença muito conhecida da comunidade médica.

Em que casos a evolução da doença  pode levar a óbito?

Normalmente não evolui para óbitos, os maiores riscos são para pessoas imunossuprimidas* .

Na sua opinião qual o grau de preocupação que as autoridades, os profissionais de saúde e a população devem ter neste momento?

Estamos vindo da época mais preocupante da história para a  medicina e para uma geração, que foi a pandemia do coronavirus, estamos vivendo o final da doença do século, e não tem comparação entre as duas situações.

Envolve sim um grau de preocupação,  mas estamos falando de uma doença que pode ser prevenida. É preciso treinar as equipes  médicas e de saúde para detectar precocemente a doença, deixar claro as estratégias de como evitar e se for o caso em situações específicas termos disponíveis, tanto vacina, quanto medicações, que são de alto custo, disponíveis. É uma doença que em 99 % dos casos, vai se resolver com o tempo.

O que temos que fazer é prevenir,  ter um diagnostico rápido, para que a pessoa que receba o resultado positivo, não transmita e assim a gente consiga interromper a cadeia de transmissão.

A Monkeypox é  uma doença que se transmite apenas por contato muito íntimo, com contato direto na lesão ou com roupas ou roupas de cama/banho de quem está doente, é muito diferente do coronavirus onde  é até de  assintomático  e de transmissão respiratória. Agora estamos falando de uma doença objetiva e clara, é mais fácil de interromper.

E o Hospital de Base ?

O Hospital de Base já está treinado e qualificado para o atendimento à Monkeypox, temos equipe que tem experiência com isso, eu próprio já trabalhei com a varíola do boi, conheço a doença, estamos atualizando frequentemente as informações para as equipes médicas e de saúde.

Além do Instituto Adolfo Lutz de Rio Preto, o  Hospital de Base recebeu autorização da  Secretaria de Saúde  do Estado para realizar exames de Monkeypox  no laboratório do Hospital, já estamos credenciados.

O que esperar, o que fazer?

Como disse, estamos preparados e com a equipe atenta.

Temos uma equipe  de vigilância epidemiológica altamente qualificada aqui em Rio Preto.

O que temos que fazer é diagnóstico precoce e Educação.

Na verdade,  temos que aprender com o que foi positivo em relação ao coronavirus e tomar cuidado com o que aconteceu  de ruim, como politização  da doença por exemplo.

Espero que esse problema, seja encarado como tem que ser encarado, como um problema de saúde pública,  normalmente você faz isso com educação, informação e campanhas,  então se despolitizarmos esse assunto  e o tratarmos de forma técnica, teremos bons resultados.  Temos que ser objetivos e diretos :  como transmite, como se pega e como fazemos para controlar, é dessa forma que os órgãos responsáveis devem tratar o assunto.

 

Principais sintomas

- Lesões que podem surgir no rosto, dentro da boca, mãos, pés, peito, genitais ou ânus.

- Caroço no pescoço, axila e virilha.

- Febre.

- Dor de cabeça.

- Calafrios.

- Cansaço.

- Dor muscular.

 

Prevenção

- Evitar contato íntimo e/ou sexual com pessoas que tenham lesões na pele.

- Usar máscara.

- Higienizar as mãos com frequência.

- Não compartilhar roupa de cama, toalhas, talheres, copos, objetos pessoais e brinquedos sexuais.

 

Isolamento

Preferencialmente domiciliar até que todas as lesões desapareçam. O período médio para que uma pessoa curada deixe de transmitir a doença é de três a quatro semanas após a cicatrização completa das lesões na pele.

 

 As pessoas imunossuprimidas que possuem algum tipo de deficiência imunológica como :

 

*             Indivíduos transplantados de órgão sólido ou de medula óssea;

*             Pessoas com HIV

*             Pessoas com doenças reumáticas

*             Pessoas com lúpus

*             Pessoas com artrite reumatóide

*             Demais indivíduos em uso de imunossupressores ou com imunodeficiências primárias;

*             Pacientes oncológicos que realizaram tratamento quimioterápico ou radioterápico


Monkeypox
Foto por: Reprodução
Monkeypox






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