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PT segue Lula, debela motim contra Freixo e coloca Molon para escanteio no Rio

Por: FOLHAPRESS - CATIA SEABRA E ITALO NOGUEIRA
05/08/2022 às 20:30
Brasil e Mundo

SÃO PAULO, SP, E RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A cúpula do PT debelou, oficialmente, o movimento do diretório fluminense pela retirada do apoio à candidatura...


SÃO PAULO, SP, E RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A cúpula do PT debelou, oficialmente, o movimento do diretório fluminense pela retirada do apoio à candidatura de Marcelo Freixo (PSB) ao Governo do Rio de Janeiro.

Em reunião virtual na tarde desta sexta-feira (5), a executiva nacional do partido decidiu manter a aliança com o deputado federal, mesmo depois de o PSB lançar o nome de Alessandro Molon ao Senado.

O PT aprovou a chapa encabeçada por Freixo, tendo o presidente da Assembleia Legislativa, André Ceciliano, ao Senado. Com a decisão, alega que o tempo de TV a que o PSB tem direito terá de ser destinado à campanha de Ceciliano, não a Molon. Essa nova disputa pode ser levada à Justiça.

Além de PT e PSB, a coligação reúne também as federações PSDB-Cidadania e PSOL-Rede.

A candidatura de Molon é apontada por petistas como afronta ao acordo pelo qual o PSB ocuparia a cabeça da chapa e o PT indicaria o candidato ao Senado —no caso, Ceciliano.

Horas depois, Molon afirmou que manterá sua candidatura e criticou a pressão do PT para que o PSB asfixie financeiramente sua campanha. "Espero que o PSB não concorde com essa pressão", disse.

Como alternativa, ele lançou uma vaquinha: "Estamos lançando hoje nossa campanha de financiamento coletivo para que as pessoas contribuam. O que mais recebi nos últimos dias foram mensagens de pessoas dizendo que gostariam de contribuir com a nossa campanha".

O deputado declarou também que, apesar do impasse, continuará fazendo campanha para o ex-presidente Lula. "O Brasil não sobrevive a mais quatro anos de Bolsonaro", afirmou.

Em uma tentativa de dissuasão de Molon, o PT havia ameaçado romper com o PSB no estado. Mas, em reunião nesta quinta-feira (4), colaboradores de Lula se manifestaram em apoio a Freixo —gesto interpretado como um recado do ex-presidente.

Com a capitulação do PT, a coligação que dará sustentação formal à campanha de Lula no Rio apresentará dois candidatos ao Senado: Molon e Ceciliano. Eles concorrerão contra o senador Romário (PL) e Clarissa Garotinho (União Brasil), entre outros.

Lula, por sua vez, deverá pedir votos apenas a Ceciliano, cuja candidatura defendeu nas negociações com o PSB. Segundo petistas, o ex-presidente chegou a cobrar do PSB apoio ao nome do presidente da Alerj.

Um dos argumentos do PT foi o apoio à candidatura do PSB ao Governo de Pernambuco, ainda que a então petista Marília Arraes fosse uma das favoritas da disputa. Tolhida pelo partido, ela se filiou ao Solidariedade, legenda pela qual concorre ao governo do estado.

​Hoje, com a manutenção da candidatura de Molon, petistas não descartam riscos de dissidências tanto no Rio como em Pernambuco.

Antes da reunião desta sexta, a executiva nacional se reuniu na quinta e adiou o posicionamento sobre o tema. Houve, porém, sinais de que a maioria não concordava com o rompimento proposto pelo PT após o presidente do PSB, Carlos Siqueira, indicar que não interviria para que Molon retirasse a candidatura.

Pesou na decisão a articulação de mais de um ano entre Freixo e Lula para a construção do arranjo. O deputado trocou o PSOL pelo PSB em acordo avalizado pelo ex-presidente visando a disputa do Palácio Guanabara. Em comício no mês passado, o petista fez declaração enfática em defesa do aliado.

O partido também sofreu pressão nas redes sociais de apoiadores que questionavam o abandono de uma candidatura de perfil progressista para, no lugar, alinhar-se ao prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), na chapa encabeçada pelo ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves (PDT).

Na reunião, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e o ex-presidente do partido Rui Falcão defenderam a manutenção da aliança. As falas foram encaradas como um sinal de apoio de Lula ao deputado.

"Temos um compromisso. Quando fazemos um compromisso, a gente cumpre. Mas queremos que o PSB fale abertamente sobre como vai trabalhar nisso. Não é contra o Molon, ele tem legitimidade de pleitear. Mas tem a ver com uma estratégia política de unidade do nosso campo. Não é possível sair dividindo a disputa ao Senado num palanque tão importante como o Rio de Janeiro", disse Gleisi depois da reunião.

A presidente do PT também citou decisão do PSB de não liberar recursos do fundo eleitoral a Molon. Mas, para petistas, a medida tem pouco efeito prático, além de vitimizá-lo.

"O PSB oficializou na executiva que não dará financiamento eleitoral. Isso já é grave o bastante. Quando tira o financiamento, o candidato faz o quê? Se vira? Será candidato de quem? Dele mesmo? Teve um passo importante", disse ela.

Após a reunião, Gleisi divulgou a definição de apoio à chapa Freixo-Ceciliano, que abre nova polêmica entre PT e PSB e pode acabar na Justiça. Desta vez, sobre a distribuição de tempo e recursos para os candidatos ao Senado. O PT alega que só o presidente da Alerj será beneficiado.

A avaliação desses petistas parte de um parecer da assessoria jurídica do partido, segundo a qual "só existe uma única e idêntica coligação na eleição majoritária no estado (governador e senador)". Por essa lógica, se fosse registrada exatamente dessa forma, a chapa Freixo-Ceciliano não poderá abrigar a candidatura de Molon ao Senado.

Um especialista ouvido pela reportagem explicou haver, porém, a possibilidade de uma aliança para governo contar com diferentes nomes ao Senado. Nesse cenário, cada candidato a senador será lançado isoladamente por seu partido, sem chance de arranjos entre siglas de uma coligação.

No caso concreto do Rio, Freixo terá direito ao tempo dos partidos que integram a coligação. Para Molon, será reservado o espaço restrito ao PSB. Para Ceciliano, o da federação PT-PV e PC do B.

A nenhum dos dois será somado o tempo das duas outras federações que compõem a aliança de Freixo. Parlamentares do PSOL têm declarado voto em Molon. Mas esse apoio não pode ser convertido em maior espaço no horário eleitoral.

Segundo dois especialistas em direito eleitoral, se o PT registrar uma chapa majoritária e o PSB, outra, uma delas pode ter o registro indeferido pela Justiça.

A movimentação de uma ala da sigla em favor dos planos de Paes reavivou críticas que lembravam o apelido de Partido da Boquinha, cunhado pelo ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho em 1999 para se referir à seção fluminense do PT.

Em áudio de oito minutos enviado a um grupo de militantes, a deputada Benedita da Silva (PT-RJ) respondeu aos ataques. Ela se posicionou de forma favorável ao rompimento caso o PSB se negue a cumprir o acordo.

"O PT está aqui para dar todo o apoio ao Freixo. Mas peraí, o que é isso? O maior partido de esquerda na América Latina, no Rio de Janeiro, vai ficar fora da chapa? Acha que isso é normal? [...] Onde está o erro do PT nesse negócio? Onde é que estão os boquinhas nisso?", disse ela.

Há também resistência num setor do partido ao nome de Ceciliano, petista que tem bom trânsito com bolsonaristas no Rio de Janeiro e tem feito agendas ao lado de Cláudio Castro (PL). Molon tem usado essa aproximação entre Castro e Ceciliano para reforçar a necessidade de sua candidatura.

No comício em julho de Lula no Rio de Janeiro, o deputado do PSB afirmou que é necessário derrotar o presidente Jair Bolsonaro e Castro "sem conciliação, sem ambiguidades". Ele recebeu o apoio de artistas, como Anitta, e de nomes do PSOL.

Ceciliano, por sua vez, vem tentando se aproximar da militância mais ideológica do partido. Ele tem se apresentado como um nome fiel a Lula por não ter deixado o PT nos momentos de crise da Operação Lava Jato, em contraposição à mudança de partido feita por Molon.

Este último minimizou as críticas nesse sentido nesta sexta: "Essas críticas não apareceram no passado quando fui escolhido pelo PT e todos os partidos para ser líder da oposição. Fui escolhido para essa tarefa com o voto do PT. Não é possível que eu tenha servido para ser líder da oposição e não possa servir como candidato ao Senado", disse.



Publicado em Fri, 05 Aug 2022 20:17:00 -0300







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