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Mestre em Ciências Sociais pela UNESP, professora do ensino médio na Rede Estadual de São Paulo. - DLNews, NUPE e Mulheres na Política no mês de Julho das Mulheres Negras Latino Americanas e Caribenhas
Foto por: Luana Silva de Souza Flor
Mestre em Ciências Sociais pela UNESP, professora do ensino médio na Rede Estadual de São Paulo. - DLNews, NUPE e Mulheres na Política no mês de Julho das Mulheres Negras Latino Americanas e Caribenhas

Beatriz, quem é essa mulher?

Por: Luana Silva de Souza Flor
28/07/2022 às 17:06
Artigos

Maria Beatriz Nascimento foi uma dessas grandes mulheres que com muita força, determinação, elegância e sensibilidade enfrentou os cânones do pensamento social brasileiro, a historiografia, ao fazer a denúncia do apagamento sistemático da população negra e da sua história no discurso oficial


Intelectual potente, transgressora e uma ativista atuante, embora seu reconhecimento acadêmico tenha demorado a acontecer,  seus ensaios, artigos e toda sua produção intelectual e artística comprovam o quanto suas reflexões estavam em consonância com o pensamento dos intelectuais na diáspora africana em todo o mundo.

Mas quem é essa mulher? Maria Beatriz do Nascimento nasceu em 12/06/1942 em Aracaju, filha da dona de casa Rubina Pereira do Nascimento e do pedreiro Francisco Xavier do Nascimento. Migra com sua família em 1949 para o Rio de Janeiro. Torna-se Historiadora em 1971 pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a partir de então passa a trabalhar como professora na rede estadual do Rio de Janeiro. Em 1978 inicia a pós-graduação na Universidade Federal Fluminense com estudos sobre sistemas alternativos de organização e quilombos, que conclui em 1981.

Beatriz foi uma mulher atuante no cenário acadêmico. Entre outras coisas ajudou a criar o "Grupo de Trabalho André Rebouças” na Universidade Federal Fluminense, participou ativamente da "Quinzena do Negro” em 1977 na Universidade de São Paulo, fez duas viagens à África com destaque a viagem para Angola para conhecer os territórios dos antigos quilombos e, posteriormente tenta traçar um paralelo entre "kilombo” instituição angolana e Palmares no Brasil.

Fez parte do Movimento Negro Unificado, do Conselho Editorial do Boletim do Centenário da Abolição e República, se tornou uma grande conferencista, publicou vários ensaios, textos acadêmicos, mas o trabalho que trouxe maior projeção a sua vida foi o documentário Ori (1989) que conta a história dos movimentos negros no Brasil nas décadas de 1970 e 1980 e as aproximações com a África. O título  do filme se origina da palavra yoruba, que significa cabeça ou centro que representa a ligação do ser humano com o mundo espiritual. Beatriz também fez poesia, e possui uma obra considerável nesse campo.

Mulher negra, nordestina, intelectual e ativista, todas essas marcas colocam Beatriz em um lugar de invisibilidade dentro da academia, que durante muito tempo não foi reconhecida por seus pares. O fato de conciliar sua atividade intelectual/acadêmica e a militância dificultou ainda mais seu reconhecimento nos espaços acadêmicos, espaços esses marcadamente brancocentricos. Foi contemporânea de intelectuais negros como Lélia Gonzales, e Abdias do Nascimento.

Beatriz teve uma filha, Bethânia Nascimento que mora nos Estados Unidos desde 1990 para onde foi estudar balé no Dance Theatre of Harlem School, Bethânia se tornou curadora da obra de Beatriz.

Infelizmente Beatriz tem sua vida interrompida aos 52 anos em 1995, assassinada pelo companheiro de uma amiga após intervir e aconselhar que esta colocasse um fim no relacionamento violento. Beatriz foi mais uma vítima da violência praticada contra as mulheres, seu assassino já havia sido acusado anteriormente de homicídio e tentativa de estupro.

Como ativista sua participação nos movimentos sociais, na defesa da educação e na denúncia da condição marginal da mulher negra na sociedade brasileira evidencia sua própria condição de mulher negra que teve que enfrentar e superar as estruturas racistas e machistas na academia e na sociedade como um todo.

 

Maria Beatriz do Nascimento
Foto por: Reprodução
Maria Beatriz do Nascimento






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