No mundo e no Brasil, as sociedades estruturadas em pilares fincados no patriarcado, machismo, racismo e conservadorismo, que sempre impuseram às mulheres espaços privados e de silêncio, centenas de mulheres que se destacaram em inúmeras áreas como ciência, arte, política, economia, astronomia, música, foram apagadas da história, simplesmente pelo fato de serem mulheres, e somente nos últimos tempos suas histórias estão sendo reveladas e reescritas
É realmente curioso como num mundo onde a população
é composta no mínimo por aproximadamente metade de mulheres, figuras desse
gênero não recebam seu devido reconhecimento, mesmo que muitos de seus feitos
influenciaram e ainda influenciam a sociedade em que vivemos hoje.
Na história brasileira podemos destacar dentre
outras, Maria Quitéria, Maria Felipa de Oliveira, Dandara dos Palmares,
Leolinda Daltro, Nísia Floresta, Catarina Paraguaçu, Enedina Alves Marques e
ainda, de forma especial, Chiquinha Gonzaga, pianista, maestrina e
compositora.
Francisca Edwiges Neves Gonzaga nasceu no Rio de
Janeiro, em 17 de outubro de 1847. Seu pai era militar e a mãe era filha de uma
escrava. Foi educada para os trabalhos do lar e para ser dama da sociedade, mas
aprendeu a tocar piano sozinha.
Por imposição do pai, casou-se aos 16 anos com
Jacinto Ribeiro do Amaral, um empresário que a maltratava. O casamento durou
dois anos e, aos 18, Chiquinha Gonzaga foi viver com o engenheiro João Batista
de Carvalho.
A vida amorosa da pianista foi marcada por
escândalos para a época, porque se divorciou também do segundo marido. Sem
apoio da família, Chiquinha voltou-se cada vez mais para a música, após perder
a guarda dos filhos.
A partir de 1877, passou a fazer da música uma
profissão, condição ainda inédita para a figura feminina no Brasil.
A
parceria com o pianista português Artur Napoleão dos Santos lhe rendeu a
primeira regência no teatro, em janeiro de 1885, quando apresentou a opereta
"A Corte na Roça". Nessa fase a imprensa local ainda desconhecia
o equivalente feminino da palavra maestro.
Sempre desafiadora dos padrões da época,
declarou-se abolicionista, e um de seus músicos, José Flauta, era um escravo
alforriado, cuja liberdade foi comprada por ela, que chegou a vender partituras
para arrecadar recursos que foram destinados à "Confederação
Libertadora".
A consagração com a música chegou na virada do
século, com a marchinha "Ó Abre Alas", que é mantida no
repertório carnavalesco até os dias atuais.
Aos 52 anos, mais um romance entrou para a coleção
de escândalos da sua vida. O português João Batista Fernandes Lage, muito mais
jovem do que ela, ainda adotou o sobrenome dela, passando a assinar João
Batista Gonzaga.
Foi o companheiro que dividiu com ela a organização
da "Sociedade Brasileira de Autores Teatrais", criada para proteger
os direitos autorais da artista.
Chiquinha Gonzaga morreu no Rio de
Janeiro, aos 87 anos, em 28 de fevereiro de 1935.
A importância de Chiquinha Gonzaga
para a música nacional somente foi reconhecida por lei em 2012, quando na data
do nascimento da artista, 17 de outubro, passou a ser comemorado o "Dia da
Música Popular Brasileira".