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 Professora da UNESP, conselheira do Conselho Afro Municipal e membra do Coletivo de Intelectuais Negras e Negros – CDINN e Mulheres na Política - DLNews, NUPE e Mulheres na Política no mês de Julho das Mulheres Negras Latino Americanas e Caribenhas
Foto por: Arquivo Pessoal
Professora da UNESP, conselheira do Conselho Afro Municipal e membra do Coletivo de Intelectuais Negras e Negros – CDINN e Mulheres na Política - DLNews, NUPE e Mulheres na Política no mês de Julho das Mulheres Negras Latino Americanas e Caribenhas

O Mês de julho e as (in)visibilizadas

Por: Monica Abranches Galindo
24/07/2022 às 10:28
Artigos

O mundo dos super-heróis tem algumas similaridades com o mundo dos mortais comuns. Aliás, por isso ele tem graça: os poderes dos super-heróis são justamente a possibilidade de lidar com as agruras cotidianas com habilidades extras


Quem gosta desse universo já se deparou com o poder de ficar invisível. O herói invisível consegue fugir de balas, já que o atirador não o vê; pode ouvir planos secretos; pode desorganizar as ações dos terríveis vilões sem que sejam identificados. Mal sabem os heróis que dominam o manto da invisibilidade que no mundo real alguns de nós já nascem ou se tornam invisíveis com o decorrer do tempo e infelizmente, do lado de cá isso não é super poder.

Aqui, no mundo real, a história da visibilidade e invisibilidade é um pouco mais complexa. A existência das pessoas ultrapassa a questão de serem vistas apenas pelos olhos. Na pandemia tivemos revelada a existência de um número enorme de pessoas invisíveis. Pessoas que porque não tinham documentos ou porque não tinham acesso à Internet ou à informação não puderam ser assistidas por nenhum programa social no período. Homens e mulheres invisíveis e com fome.

Há alguns anos atrás um psicólogo social, dentro de um experimento social, vestiu uniforme e trabalhou como gari, varrendo ruas de uma cidade universitária durante um longo período e viveu na pele a invisibilidade: constatou que as pessoas passavam por ele sem olhar, falavam entre si de assuntos particulares sem se dar conta que ele estava ali, não lhe desejavam bom dia, esbarravam nele e não lhe pediam desculpas. Um apresentador de um jornal da TV há alguns anos atrás também, com um microfone aberto acidentalmente, zombou em rede nacional dos votos de feliz natal de um grupo de garis. Invisíveis não recebem votos, nem de bom dia e seus votos são também desqualificados.  

No mês de julho comemoramos o dia de um outro grupo de invisibilizadas. Dia 25 de julho é o Dia da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha. Você já ouviu falar das escritoras Maria Firmina dos Reis ou de Carolina Maria de Jesus? Conhece a deputada Antonieta de Barros e a ministra Luiza Bairros? Já ouviu falar da musicista Chiquinha Gonzaga? E das intelectuais Beatriz Nascimento e Lélia Gonzalez? Além das praias, o que você sabe a respeito do Caribe? Por que precisamos falar sobre as mulheres da América do Sul? Quais são nossas especificidades?

Eu gosto das histórias de super-heróis, mas a vida real tem heróis e heroínas muito mais interessantes e os poderes do mundo de lá, às vezes são limitações no mundo de cá. Se lá ser invisível poupa os heróis dos tiros, aqui cria alvos – o número de jovens negros que morre no nosso país são números de guerra. Se a invisibilidade lá permite desorganizar os vilões, aqui os fortalece – as agressões contra as mulheres negras são em número maior do que contra as mulheres não negras, ainda são subnotificadas e no processo de denúncia as mulheres ainda sofrem maus tratos no atendimento nas delegacias especializadas ou não. Se lá os invisíveis podem ouvir tudo, aqui podem, mas isso não é uma vantagem, os assédios, as palavras grosseiras não poupam os ouvidos dos invisíveis, principalmente das invisíveis. Não serem vistos significa que também não são ouvidos – é quase um "poder” duplo – você grita e ninguém te escuta. As empregadas domésticas, em sua maioria mulheres negras, não tinham direitos trabalhistas até muito recentemente.  Muito provavelmente também, você ainda não reparou como temos, apesar de todas as dificuldades, mulheres negras cientistas, juízas, políticas, professoras, engenheiras, matemáticas. E a pequena presença delas não é um exemplo de meritocracia individual de cada uma, mas a confirmação de que temos problemas na nossa sociedade, que impede sistematicamente o acesso de grupos a posições de maior prestigio e influencia.   

Para anular os poderes do Super Homem a kriptonita faz seu papel. Para anular o manto da invisibilidade, o papel é da informação e do conhecimento. Não é a toa que nos governos antidemocráticos e autoritários a repressão a uma educação libertadora e as noticias falsas prosperam. O DLNews  - com o Coletivo Mulheres na Política e o apoio do NUPE - Núcleo Negro de Pesquisa e Extensão da UNESP - traz sua preciosa colaboração apresentando nos próximos dias informações sobre mulheres negras brasileiras  contribuindo para que sejam um pouco mais conhecidas entre nós.  Como estamos no mundo real, temos que tecer  juntos com informações, conhecimento e combate ostensivo ao preconceito, um manto de visibilidade que possa cobrir de maneira equânime e justa a todos nós.

 







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