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Nunes fecha 1º ano escorado em Covas e casado com a Câmara

Por: FOLHAPRESS - CARLOS PETROCILO
16/05/2022 às 06:30
Brasil e Mundo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em seu amplo gabinete no viaduto do Chá, no centro de São Paulo, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) mantém um retrato em que está ao la...


SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em seu amplo gabinete no viaduto do Chá, no centro de São Paulo, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) mantém um retrato em que está ao lado de Bruno Covas, morto há um ano, vítima de câncer.

Nesses 365 dias à frente da prefeitura, completados nesta segunda-feira (16), Nunes fez questão de atrelar suas ações ao antecessor, mas imprime cada vez mais sua maneira de governar: evitando embates e tendo na Câmara Municipal seu reduto mais forte.

No período, ocorreram mudanças no comando de ao menos oito secretarias --Casa Civil, Cultura, Direitos Humanos, Esporte, Gestão, Habitação, Mobilidade e Saúde--, além da reativação da pasta de Turismo, antes anexada ao Desenvolvimento Econômico e Trabalho.

Embora parte dessas trocas atendesse a pedido de secretários para que pudessem ser candidatos nas eleições de outubro, uma ala ligada a Covas e ao PSDB lamenta as escolhas feitas por Nunes. É o caso de Ana Claudia Carletto, exonerada da secretaria de Direitos Humanos e Cidadania. Ela, que faz parte da executiva tucana, foi sucedida por Soninha Francine, filiada ao Cidadania.

A cobiçada pasta da Saúde, antes ocupada por Edson Aparecido, agora está nas mãos do médico Luiz Carlos Zamarco, aparentemente sem ligação partidária.

Outras mudanças, como as exonerações de Orlando Faria (Habitação) e César Azevedo (Urbanismo e Licenciamento), ambos amigos de Covas, ainda não foram digeridas.

No caso de Faria, que declarou apoio ao gaúcho Eduardo Leite nas prévias do PSDB para a Presidência da República, Nunes cedeu à pressão de João Doria, que deixou o governo de São Paulo no mês passado para tentar ser o candidato tucano. No lugar de Azevedo, graduado em direito, foi empossado o arquiteto e urbanista Marcos Duque Gadelho, sob a justificativa de priorizar a revisão do Plano Diretor Estratégico.

Já para Aline Cardoso, secretária de Desenvolvimento Econômico e do Trabalho há cinco anos, o prefeito segue mantendo o que prometeu quando assumiu o cargo. "Nas primeiras reuniões, o Ricardo dizia que deveríamos manter as decisões tomadas pelo Bruno. Em outros casos, até questiona como ele [Covas] faria tal coisa. Vivemos uma continuidade bacana e que trouxe estabilidade", diz ela.

Fora da prefeitura, Nunes tem buscado manter um bom relacionamento com os governos estadual e federal --a quem evita criticar.

Em março deste ano, o prefeito assinou acordo com o governo federal encerrando uma batalha judicial de quase 64 anos pela posse do Campo de Marte, na zona norte. A União ficou com a área e, em troca, anulou uma dívida de R$ 24 bilhões do município.

Em meio ao fogo cruzado entre os governos paulista e federal, o prefeito ainda manteve diálogo com a ministra-chefe da Secretaria de Governo, Flávia Arruda, na tentativa de a União bancar a gratuidade de idosos no transporte público e evitar o reajuste da tarifa de ônibus --R$ 4,40, hoje.

O município teria direito a quase R$ R$ 350 milhões de repasses do governo federal, de acordo com cálculos da Frente Nacional dos Prefeitos (FNP). Para isso, é preciso que seja aprovado um projeto de lei que ainda não tem data para ser votado, o que coloca em risco o valor previsto para reduzir o subsídio do município ao transporte público neste ano --R$ 3,5 bilhões.

Recentemente, Nunes tem colado em Rodrigo Garcia (PSDB), governador paulista. Ambos têm sido vistos participando de almoços de domingo a eventos como o Carnaval, no Sambódromo do Anhembi.

Enquanto Garcia tentará a reeleição em outubro, Nunes quer melhorar a sua imagem. Pesquisa do Datafolha, realizada em abril deste ano, aponta que apenas 12% dos paulistanos aprovam a sua gestão.

"Quando a gente soma ótimo, bom e regular dá 58%. No momento, com a pandemia, todas as notícias eram sobre vacina, óbitos. Acabou tendo pouca cobertura das ações dos governos, por isso, acho que a população talvez não tenha percebido tudo o que estamos fazendo", justifica o prefeito.

Já na Câmara Municipal, Nunes conta com apoio da ampla maioria. O Executivo tem conseguido entupir a pauta do plenário e aprovado seus projetos com celeridade.

Em contrapartida, opositores ouvidos pela Folha contam que Nunes tem cedido aos pedidos de vereadores, entregando-lhes cargos nas subprefeituras, e está cada vez mais ligado ao presidente da Casa, Milton Leite (União Brasil).

Na primeira troca de secretariado, aliás, em agosto do ano passado, o prefeito alçou o então vereador pelo DEM Ricardo Teixeira à pasta de Mobilidade e Trânsito, um pedido de Leite, que tem influência no setor de transportes.

"A equipe continua a mesma, evidentemente tem uma troca ou outra de secretário por questão de desempenho ou porque se descompatibilizou, mas não existem diferenças", diz Nunes.

Procurado, Leite não quis conceder entrevista, mas enviou nota por meio da assessoria de imprensa da Câmara. "O prefeito sabe que se o projeto for importante para São Paulo não faltará base ou maioria, isso eu garanto", afirmou.

Nunes conseguiu aprovar propostas como a reforma da Previdência em sessão tumultuada no plenário, enquanto, do lado de fora, manifestantes tentaram invadir a Câmara e a GCM (Guarda Civil Metropolitana) atirou bombas de gás. O texto retirou a isenção de contribuição (alíquota de 14%) dos aposentados e pensionistas que ganhem mais que um salário mínimo.

Vereador por dois mandatos (2013 e 2017), ele acredita que esta experiência facilita a interlocução. "Os projetos são bons. Trago os vereadores aqui, explico o porquê da proposta e onde queremos chegar. Em oito anos na Câmara, nunca vi tanto projeto ser aprovado em pouco tempo", afirma.

No rol das medidas impopulares, a gestão obteve aval da Casa para aumentar os salários dos cargos comissionados e captar empréstimo de até R$ 8 bilhões. Neste último, o prefeito afirmou, em ofício enviado ao Legislativo, que pretendia realizar investimentos em habitação, inovação e tecnologia, cultura e lazer, meio ambiente e intervenções na área de mobilidade urbana.

"Somando até março deste ano, a prefeitura tem R$ 30 bilhões em caixa. Descontando as despesas, sobram, pelo menos, R$ 11 bilhões. Mas é um governo que não realiza nenhuma obra importante", critica o vereador Antonio Donato (PT). "Não vemos também nenhum programa social abrangente sendo fortalecido."

Em um balanço, o emedebista cita que inaugurou nove UPAs (Unidade de Pronto Atendimento) em dez meses, enaltece o índice de 100% da população adulta vacinada contra a Covid e a entrega de 4.420 unidades habitacionais.

A curto prazo, Nunes terá de encarar questões urgentes, como o aumento da população em situação de rua e de dependentes químicos, além da revisão do Plano Diretor.



Publicado em Mon, 16 May 2022 06:10:00 -0300







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